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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Madame Bovary, de Gustave Flaubert

Obra de 1857, Madame Bovary pertence ao conjunto fundamental da obra de Gustave Flaubert. Considerado pela crítica mundial, e especialmente pela crítica francesa, como um de seus maiores escritores, conseguiu um modo de narrar que passa a ser inaugural na história da narrativa. Competência ímpar no procedimento de isenção, faz emergir o enunciado, em detrimento de uma enunciação. Madame Bovary consiste, portanto, numa obra singular do Realismo Francês e numa obra decisiva da modernidade ocidental, ao lado de obras como o livro de poemas As Flores do Mal, de Charles Bauldelaire e a obra plástica de Édouard Manet.

O romance realista e polêmico, é dedicado ao adultério. Reflete uma sociedade provinciana e moralista que não se coaduna com a personalidade romântica que Emma Bovary, a protagonista, inventou para si própria. O retrato de uma mulher insatisfeita com a vida provinciana e a falta de paixão, cuja obsessão fantasiosa leva ao absurdo. Incapacidade intelectual e insensibilidade moral caracterizam esta personagem, que tenta escapar à realidade através da leitura de romances de amor.

Madamme Bovary é uma obra que pelo pendor realista que a caracteriza se torna por vezes enfadonha. Entre os acontecimentos importantes arrasta-se um vagar quotidiano um tanto cansativo e contrastante com a exacerbada componente sexual e emotiva que Emma empresta ao romance. As suas experiências extra-conjugais são narradas ironicamente, e não se encontra um personagem em toda a obra que não seja alvo de sátira.


Flaubert pintou, com o perfil dos personagens, o quadro de uma sociedade. O conformismo na pessoa de Charles. A nobreza decadente em Rodolphe. A promessa de um futuro de sucesso da pequena burguesia em Leon. Em Lheureux e Guillaumin, a burguesia enriquecida. A ascensão da ciência e da razão em relação a uma religião em crise na figura de Homais. E, finalmente, Emma Bovary, o próprio retrato da crise da sociedade. De uma sociedade que acabou com a importância da religião e que, não encontrando o que colocar em seu lugar, sofreu com a falta de uma regulamentação moral. Uma sociedade que está doente, cansada e desencantada frente à inutilidade de uma busca sem fim.

No ano em que o livro Madame Bovary foi publicado, houve na França um grande interesse pela obra, que chegou levar o seu escritor a julgamento. O romance foi considerado imoral pelo governo francês, que decidiu mover um processo contra Flaubert. Foi processado por ofender a moral pública. E hoje, como vimos, Madamme Bovary é considerado obra-prima e precursor do Realismo na Europa.

O tema da leitura e do devaneio romântico é desenvolvido através da relação da personagem central, Emma Bovary, com os livros. Emma é uma grande leitora de romances românticos que constrói, a partir deles, um referencial de vida idealizado. Essa influência romântica se associa a seu sentimento de insatisfação permanente com o mundo burguês. A literatura é vista como refúgio, espaço de vivência mais rico, através do qual a personagem busca fugir da mediocridade da sociedade, mas, por outro lado, é também instrumento de alienação que leva Emma a um fim trágico.
 
O romance é apresentado em três partes. Na primeira, nota-se a personalidade medíocre e acomodada do futuro marido de Emma, Charles Bovary. Lento nos estudos, nunca chegaria a ser brilhante na profissão que escolhera, a medicina. Viúvo, casou-se com Emma e foi morar na província de Tostes. Para Charles a vida não poderia estar melhor. Para Emma, no entanto, “...à medida que se estreitava mais a intimidade de suas vidas, alguma coisa gradativamente a separava dele.” Antes de se casar acreditava sentir amor por ele, porém não encontrou no casamento a felicidade mostrada nos livros que lera enquanto esteve educando-se no convento. Depois de um baile no castelo de Vaubyessard, Emma sentiu uma perturbação desconhecida. Algo lhe dizia que sua vida não seria mais a mesma depois de ter conhecido este mundo de luxo e de riqueza tão diferente do seu. De volta à rotina, tanto se queixou que convenceu o marido, Charles, a se mudar para a província de Yonville.

Na segunda parte, já em Yonville, Emma engravidou, e ficou desejosa por ter um filho homem. Teve uma menina, que entrega aos cuidados de mãe Rollet, ama-de-leite. Uma nova rotina vai se delineando. Todos os dias após o jantar reúnem-se na casa dos Bovary, Homais e Leon. Homais é o farmacêutico que é contra a igreja e a religião e defensor dos ideais iluministas e da ciência. Léon é um jovem escrevente, estudante de direito que, por ter se apaixonado por Emma e não ser correspondido - foi para Paris. A partida de Leon é um golpe para Emma que perde, assim, a única pessoa com quem gostava de estar. Tudo em Yonville torna-se extremamente tedioso. Envolve-se, então, com Rodolphe, um nobre decadente que vive em seu castelo nos arredores de Yonville. Porém, após algum tempo o romance se esvazia e ele rompe com Emma, que adoece. Recuperada do golpe, apega-se à religião, que também não a satisfaz.

Na última parte, Emma reencontra Leon em Ruão. Tornam-se amantes. Mais uma vez, Emma busca no amor uma saída para o descontentamento de sua vida. Por esta época inicia um caminho sem volta. Compra presentes para Leon e roupas luxuosas para si do comerciante Lheureux. Endivida-se. Negocia as dívidas, sempre à revelia de Charles. Assina letras que sabia não poder pagar. Chega o momento, porém, em que é cobrada judicialmente e tem sua casa penhorada. Entra em pânico, desespera-se. Busca ajuda de Rodolphe e Leon. Não recebe. Como última alternativa, procura o tabelião Guillaumin, mas este tenta possuí-la em troca da ajuda. Emma não se vende. Sozinha, esgotada e sem saída, suicida-se.

Emma é uma mulher que busca um caminho diferente daquele em que foi preparada para percorrer. Mas como fazê-lo se toda mulher era preparada e empurrada para o casamento? O comportamento da personagem de Flaubert anuncia uma mudança que em breve colocaria o mundo macho de cabeça para baixo: o poder de escolha da mulher que sempre esteve paralisada pelas ordens dos homens. Emma não aceitava ser dominada, não era submissa, prendada ou fiel.

O tédio de Emma vai além da falta de graça e vida de seu marido, porque quase nada a satisfaz por muito tempo. Vaidosa, cheia de vontades, uma verdadeira mulher de fases, que ora alterna o ímpeto da paixão pela vida e pelos amantes, ora entra em um estado de letargia desconsolado com a existência. Nem o nascimento de sua filha faz com que o amor pleno tome conta de Madame Bovary, que procura incessantemente as paixões nas páginas dos romances – os quais chegou a ser proibida de ler por causa dos conselhos da sogra, que pouco a estimava.

As traições de Emma parecem ser percebidas por todos da pequena comunidade. Diferente das mulheres prendadas e dedicadas ao marido, ela é uma verdadeira consumista que afunda Charles em dívidas homéricas e irreversíveis. Dinheiro, luxo, sexo, chantagem. Em um século sem Aids, querer satisfazer desejos sem preocupações mortais era um capricho. Emma buscava amantes que pudessem levá-la aonde ela quisesse, já que sozinha ela não poderia ir. Ela queria ser quem não era – fenômeno hoje designado pela psiquiatria como Bovarismo.

Além da leitura de romances e da existência de idéias permanentes e pertencentes a um mundo paralelo que corrói apenas sua mente e traz desgraças para seu marido, Charles, Emma arquiteta cuidadosamente aventuras reais. Aventuras que se transformam em desconfortáveis paranóias a partir do momento em que ela começa a perder a noção da realidade e entra de vez no mundo de sonhos e desejos de uma vida repleta de emoções arrebatadoras. Um comportamento que demorou alguns anos para que se tornasse verdadeiramente perigoso, mas que, como uma cova funda, engoliu Emma e sua família de forma drástica e trágica, acidamente e detalhadamente descrito por Flaubert, grande estudioso da estupidez humana em uma época em que a medicina, a moral e a religião ainda causavam muitos erros, enganos e dores.
 

O suicídio é o fim de Emma Bovary. A sociedade francesa do século XIX sofreu com as mudanças sociais ocorridas no mundo, mudanças que têm raízes no Renascimento e atingem seu ápice com os ideais iluministas, culminando na Revolução Francesa, e que estão intimamente ligadas às mudanças nas relações de produção, resultantes da Revolução Industrial. As metamorfoses se fazem sentir em todos os aspectos da vida social levando a sociedade a uma profunda crise moral. Madamme Bovary é a radiografia desta sociedade que sofre de anomia, que se encontra afundada em uma crise da qual parece não ter solução. A forma crua de exposição adotada por Flaubert causou escândalo e foi motivo para que ele fosse processado pelo Ministério Público por ofender a moral pública e religiosa.
 
 
Tia Gabi

sábado, 26 de novembro de 2011

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis



Análise da obraÉ a obra inaugural da fase realista de Machado de Assis, representando uma verdadeira revolução de idéias e formas: de idéias, porque aprofunda o desprezo pelas idealizações românticas, fazendo emergir a consciência nua do indivíduo, fraco e incoerente; de formas, pela ruptura com a linearidade da narrativa e pelo estilo "enxuto". É também obra inaugural do romance psicológico no Brasil.

É a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) que Machado de Assis atinge o ponto mais alto e equilibrado da ficção brasileira.

É o drama da irremediável tolice humana. São as memórias de um homem igual a tantos outros, o cauto e desfrutador Brás Cubas, que tudo tentou e nada deixou. A vida moral e afetiva é superada pela existência biologicamente satisfeita, e as personagens se acomodam cinicamente ao erro.

Estrutura da obra

A estrutura de Memórias Póstumas de Brás Cubas tem uma lógica narrativa surpreendente e inovadora. A seqüência do livro não é determinada pela cronologia dos fatos, mas pelo encadeamento das reflexões do personagem. Uma lembrança puxa a outra e o narrador Brás Cubas, que prometera contar uma determinada história, comenta todos os outros fatos que a envolvem, para retomar o tema anunciado muitos capítulos depois.

Organizados em blocos curtos, os 160 capítulos de Memórias Póstumas de Brás Cubas fluem segundo o ritmo do pensamento do narrador. A aparente falta de coerência da narrativa, permeada por longas digressões, dissimula uma forte coerência interna, oferecendo ao leitor todas as informações para conhecer a visão de mundo de um homem que passou pela vida sem realização nenhuma, apenas ao sabor de seus desejos.

Logo nas primeiras páginas, o escritor brinca com a expectativa do leitor de chegar logo às ações do romance. Machado de Assis, por intermédio do seu narrador, se dirige diretamente ao leitor, metalingüisticamente, para comentar o livro. Diz Brás Cubas:

“Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem”.


Personagens

Brás Cubas - narrador - morto aos 64 anos - “ainda próspero e rijo”, fidalgo. Peralta quando criança, mimado pelo pai, irresponsável quando adolescente, tornou-se um homem egoísta a ponto de discutir com a irmã pela prataria que fiou de herança do pai e tornar-se amante de seu amigo, Lobo Neves, se bem que nesse romance não se pode dizer propriamente que alguém é amigo de outro.

Virgília - filha do comendador Dutra, segundo o pai de Brás, Bento Cubas A “Ursa Maior” amante de Brás Cubas casa-se com Lobo Neves por interesse. Mulher bonita, ambiciosa, que parece gostar sinceramente de Brás Cubas, mas jamais se revela disposta a romper com sua posição social ou dispensar o conforto e o reconhecimento da sociedade.


Damião Lobo Neves - casado com Virgília, homem frio e calculista. Marido de Virgília, homem sério, integrado ao sistema, ambicioso, mas muito mais supersticioso, pois recusou nomeação pra presidente de uma província só porque a referida nomeação aconteceu num dia 13.

Quincas Borba - menino terrível que dava tombos no paciente professor Barata, colega de escola de Brás que o encontrará mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio mas retorna-o ao colega após receber uma herança. amigo de infância do protagonista. Desde criança era de um temperamento ativo, exaltado, querendo ser sempre superior nas brincadeiras. Cubas diz que ele é impressionante quando brinca de imperador. Quando adulto, passa pelo estado de mendigo, evoluindo depois para filósofo e desenvolve um sistema filosófico, denominado Humanitismo, que pretende superar e suprimir todos os demais sistemas até tornar-se uma religião.

Marcela - Segundo grande amor de Brás Cubas, uma prostituta de elite, cujo amor por Brás duraria quinze meses e onze contos de réis. Mulher sensual, mentirosa, amiga de rapazes e de dinheiro. Ganha muitas jóias do adolescente Brás Cubas. Contrai varíola e fica feia, com a pela grassa como uma lixa.

Sabina - irmã do narrador e que, como ele, valoriza mais o interesse pessoa e a posição social do que amizade ou laços de parentesco.

Cotrin - casado com Sabina, é interesse, traficante de escravos e cruel com eles, mandando-os castigar até correr sangue.

Eugênia - Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora coxa. Era moça séria, tranqüila, dotada de olhos negros e olhar direito
e franco. Tinha “idéias claras, maneiras chãs, certa graça natural, um ar de senhora, e não sei se alguma outra cousa; sim, a boca exatamente a boca da mãe".

Nhá Loló - moça simplória, tinha dotes de soprano - morre de febre amarela.

Cotrim - casado com Sabina, irmã de Brás; ambos interesseiros.

 Nhonhô - filho de Virgília.

 D. Plácida empregada de Virgília confidente e protetora de sua relação extra conjugal.

Enredo

O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador-personagem (1ª pessoa) que, depois de morto, na condição de "defunto-autor", resolve escrever suas memórias. Por estar morto, Brás Cubas assume uma posição transtemporal, de quem vê a própria existência já de fora dela, "desse outro lado do mistério", de modo onisciente, descontínuo e sem a pressa dos vivos.

O fato de Brás Cubas colocar-se como um "defunto-autor", isto é, como alguém que conta a sua vida de além-túmulo, dá-nos a impressão que se trata de um relato caracterizado pela isenção, pela imparciabilidade de quem já não tem necessidade de mentir, pois deixou o mundo e todas as suas ilusões. Essa é uma das famosas armadilhas machadeanas, contra a credulidade do leitor ingênuo e romântico de sua época.

Os fatos são narrados à medida que afloram à memória do narrador, que vai tecendo suas digressões, refletindo sobre seus atos, sobre as pessoas, exteriorizando uma visão cínica, irônica e desencantada de si mesmo e dos outros.

Espécie de anti-modelo, de personagem-símbolo da ironia machadeana quanto ao ideal burguês de "vencer na vida", a figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia de heróis burgueses, tematizados pela literatura realista.

Machado de Assis ao escolher a situação fantástica de um morto que conta histórias, e que mesmo estando do outro lado da vida procura mais "parecer" do que "ser", isto é, na mente, ilude e distorce os fatos, escondendo suas misérias para que sejam vistas como superioridades, questiona tanto a forma quanto o conteúdo do realismo tradicional.

Brás Cubas conta a história de sua vida, a partir de sua morte. Seu ouvinte é o leitor virtual, cinco ou dez leitores, segundo acredita (cap. 34), Virgília, que espera venha a ler o livro (cap. 27), ou um cavalheiro (cap.87), narrador diferente da leitura romântica a quem o narrador das obras anteriores se dirige.

Brás Cubas nasceu em 20/10/1805, no Rio de Janeiro, filho de Bento Cubas, da família burguesa que se enriqueceu com o comércio. Tinha uma única irmã, Sabina, casada com Cotrin, com quem teve uma filha, Venância. Seus tios eram João, oficial da infantaria, Ildefonso, padre , e Emerenciana, a maior autoridade de sua infância. Ao falecer, tinha 64 anos (...expirou às duas da tarde de uma Sexta-feira de agosto de 1869), era solteiro e seu enterro teve 11 pessoas. Sua morte foi assistida por 3 mulheres: a irmã Sabina, a sobrinha e Virgília, um de seus amores não concretizados.

Nos nove primeiros capítulos, Brás Cubas descreve a sua morte (cap.1), o emplasto (uma idéia fixa que teve, ao final da vida, de inventar um “medicamento anti-hipocondríaco”, isto é, que curasse a mania de doença das pessoas), sua origem (cap.3), a idéia fixa do emplasto (cap.4), sua doença (cap.5), a visita de Virgília (cap.6), o delírio (pesadelo que teve antes de morrer em que lhe aparece Natureza ou Pandora, dona dos bens e dos males humanos, dentre os quais, o maior de todos é a esperança, cap.7), razão contra a sandice (em que a razão expulsa a sandice, cap.8) e transição (cap.9, em que o narrador faz uma reflexão metalingüística e retoma o fio narrativo, cronológico de sua vida, a partir de seu nascimento em 1805). A partir do cap.10, a vida de Brás Cubas é contada de forma sucessiva: nascimento, batizado, infância, juventude.

Relata um episódio de 1814 quando, aos nove anos, delata uma cena de beijo entre Dr. Vilaça, “casado e pai” e D. Eusébia, uma “robusta donzela”. É aluno do mestre Ludgero Barata, “calado, obscuro, pontual” e colega de Quincas Borba, “uma flor”, o menino “mais gracioso, inventivo e travesso”.

Em 1822, data da independência política do Brasil, torna-se o prisioneiro amoroso de Marcela, “amiga do dinheiro e de rapazes”, em quem dá o primeiro beijo e cuja paixão dura “quinze meses e onze contos de réis”. Obrigado pelo pai, vai para a Europa, estudar. Em Coimbra, torna-se bacharel, “mediocremente”.

Na história de sua vida, são intercalados capítulos como O almocreve (cap.21) e A borboleta preta (cap.31), que são puramente filosóficos.

Quando a mãe adoece, Brás Cubas volta ao Brasil, para velá-la, em seus últimos dias.

Tendo aprendido na universidade a ornamentação da História e da Jurisprudência, e não sua essência, passa a usá-la para viver na superficial sociedade em que vivia. Seu pai quer que se torne deputado e lhe arranja uma noiva, Virgília, filha do Conselheiro Dutra, 15 ou 16 anos, atraente e voluntariosa. No entanto, Brás Cubas vai visitar Eusébia, a mesma do episódio de 1814, que tinha uma filha de dezessete anos, Eugênia, “coxa de nascença”, uma “Vênus manca”. Brás Cubas a corteja, mas opta por Virgília, “uma jóia, uma flor, uma estrela, uma coisa rara”. Brás Cubas encontra Marcela, envelhecida, rosto marcado pelas “bexigas”, com um pequeno comércio na rua dos Ourives. Ao encontra-se com Virgília, tem uma alucinação e vê a namorada com o rosto marcado como o de Marcela, mas passa.

Virgília, no entanto, ambiciosa, casa-se com Lobo Neves, um homem que lhe pareceu mais promissor que Brás Cubas. O pai de Cubas, desgostoso, morreu, inconformado. Brás Cubas, a irmã Sabina e o cunhado, Cotrin, disputaram a herança do pai e em tudo pode-se observar o interesse material determinando o comportamento das pessoas. Brás Cubas torna-se recluso, escrevendo política e fazendo literatura, chegando a alcançar reputação de polemista e poeta.

Luis Dutra, um primo poeta de Virgília, avisa Brás Cubas de que Virgília e Lobo Neves tinham regressado de São Paulo. Brás Cubas começa a freqüentar a casa deles e torna-se amante de Virgília. À mesma época, encontra, na rua, o Quincas Borba, seu colega de infância, que vivia como mendigo. Ajuda-o com cinco mil réis e este lhe rouba o relógio, ao despedir-se.

Quando algumas pessoas começam a desconfiar do relacionamento de Brás Cubas e Virgília, estes montam uma casinha, no recanto de Gamboa, cuja caseira era D. Plácida, uma antiga agregada da casa de Virgília.

Lobo Neves, marido de Virgília aguarda sua nomeação para presidente da província e convida Brás Cubas para ser seu secretário. Este reluta em aceitar.

Virgília tem um filho, Nhonhô, do marido, mas Cubas sonha ter um filho com ela.

Brás Cubas recebe uma carta de Quincas Borba que lhe devolve o relógio roubado e quer lhe expor sua teoria filosófica do Humanitismo, o princípio das coisas.

Lobo Neves recebe denúncias da traição da mulher. E nomeado Presidente da Província e o casal parte, terminando aí o romance proibido entre Virgília e Brás Cubas.

Quincas Borba visita Brás Cubas, conta-lhe da fortuna herdada de um tio de Barcelona, mas só se ocupa de sua doutrina filosófica, o humanitismo, uma paródia das teorias científicas no final do século XIX. Brás Cubas fica seduzido pela teoria do Humanitismo, identificando-se com sua explicação materialista da existência humana.

Outros motivos que lhe compensaram a perda de Virgília foram a tentativa da irmã de casá-lo com Nha Loló e a ambição política. Aquela no entanto, morre, aos 19 anos de febre amarela. Brás Cubas torna-se deputado, atuando ao lado de Lobo Neves. Em 1855, Brás Cubas encontra Virgília, num baile. Ele a acha magnífica, mas nada mais ocorre entre eles.

Ao chegar ao 50 anos, Brás Cubas perde o interesse pela vida, que é o amor. Quincas Borba o convence de que era a idade da ciência e do governo, mas Brás Cubas perde sua cadeira de deputado e, conseqüentemente, a paixão pelo poder. Sua única companhia é Quincas Borba, com quem filosofa sobre a vida e a existência humana através de observações da realidade, como uma luta de cães por um osso.

Brás Cubas recebe um bilhete de Virgília que pede-lhe para socorrer D. Plácida, que está a morrer. Ele dá-lhe algum dinheiro e a interna na Misericórdia, onde falece.

Resolve publicar um jornal, de oposição ao governo, que contraria Cotrin, seu cunhado. Pouco mais de seis meses depois, o jornal deixa de sair.

Lobo Neves morre, na iminência de ser ministro. Brás Cubas vai-lhe ao enterro e vê que Virgília chorava “lágrimas verdadeiras”.

Brás Cubas reconcilia-se com o cunhado Cotrin, ingressa na ordem, para dar alguma utilidade a sua vida, segundo ele, foi a fase mais brilhante de sua vida. No hospital da ordem, viu morrer a ex-namorada, a linda Marcela, agora feia, magra, decrépita; também encontrou, num cortiço, outra ex, Eugênia, a filha de D. Eusébia e do Vilaça, tão coxa como antes e mais triste.

Quincas Borba, que havia partido para Barcelona, volta, mais louco ainda, morrendo pouco tempo depois. O último capítulo, Das negativas, finaliza a obra com o tom cético e realista que atravessa toda a obra: Brás Cubas não se torna famoso por seu emplasmo, não foi ministro, nem califa, nem se casou. Em compensação, não comprou o pão com o suor do rosto, pois nunca teve de trabalhar. Não morreu como D. Plácida, Marcela, Eugênia e tantos outros, nem se tornou louco como Quincas Borba. Ao morrer, chega ao outro lado, sentindo-se um pouco credor, pois não teve filhos e portanto, não transmitiu “a nenhuma criatura o legado de sua miséria”.

Notas

O autor, nesta obra, acabou com o sentimentalismo, o moralismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a concepção do domínio do amor sobre todas as outras paixões; afirmava-se a possibilidade de construir um grande livro sem recorrer à natureza, desdenhava-se a cor local, um autor colocava-se pela primeira vez dentro dos personagens.

O humorismo começa pela dedicatória do narrador: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes de meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias póstumas.” Em seguida, como que preparando o leitor para a revolução estética que o espera, Brás Cubas anuncia o espírito inusitado de sua obra: “Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. A visão irônica dos acontecimentos e dos pensamentos do narrador mesclada a comentários amargos e cínicos sobre a existência produz uma concepção de mundo absolutamente singular que estrutura todas as obras de segunda fase de Machado de Assis.

Além disso, Brás Cubas adverte que também o seu modo de narrar é inovador: “Trata-se, na verdade, de uma obra difusa”. O enredo de ações trepidantes, que vai num crescendo até o clímax, é completamente abandonado, cedendo lugar a episódios mais ou menos soltos, que se alicerçam em pormenores aparentemente banais, em considerações filosóficas abusadas e em tiradas humorísticas, tudo ilusoriamente desvinculado da história central. Brás Cubas usa um estilo de vaivém, interrompendo o fluxo da intriga para brincar com o leitor ou tecer algum comentário de fingida irrelevância. Quando, no entanto, o romance se fecha, os inúmeros episódios formam uma unidade, dando a este mesmo leitor a noção de um conjunto harmonioso e convincente.

Aspecto importante nas Memórias é o gosto pela citação que o narrador exibe. A cultura de Brás Cubas é enciclopédica, passando por todo o conhecimento geral da época. Esta cultura, entretanto, é examinada sob o ângulo da paródia. Todas as citações e referências são extraídas de seu contexto específico e remetidas para o contexto pessoal do narrador, como se este debochasse da tradição histórica e religiosa, colocando o saber culto de seu tempo de cabeça para baixo.

A escolha de um defunto autor para relatar a obra pode ser interpretada de vários ângulos. Alguns críticos vêem a morte de Brás Cubas como um símbolo do fim da concepção romântica que ainda se fazia presente nos romances de primeira fase de Machado de Assis. Outros sugerem um enfrentamento do escritor com as propostas do Realismo / Naturalismo, então em plena voga, já que uma fala vinda do túmulo contrariava os princípios de racionalidade e verossimilhança, obrigatórios aos autores daquela escola. Indiscutível, no entanto, é a idéia machadiana de que só um morto poderia apresentar os fatos de sua existência sem escrúpulos, sem fantasias e sem o temor da opinião pública. Só um morto – por não ter nada a perder – revelaria os seus intuitos mesquinhos, o seu egoísmo, a sua impotência para a vida prática e a sua desesperada sede de glória.

Brás Cubas não é a tradução ficcional de Machado de Assis. Esta confusão entre o autor e seu personagem advém da narrativa ser feita em primeira pessoa. Contudo, Brás Cubas visivelmente representa uma classe social que não é a de Machado. O ângulo com que o narrador examina o mundo é o dos grandes proprietários: trata-se de alguém que não trabalha, que vive parasitamente, de alguém cheio de caprichos, enredado com a falta de perspectivas de sua existência. A própria técnica de narrar de Brás Cubas, misturando irreverência e desrespeito a tudo e a todos, corresponde à desfaçatez da classe dominante brasileira do século XIX. Assim, os erros e transgressões do personagem expressariam o arbítrio e a falta de significado ético de uma elite historicamente condenada à destruição.

O procedimento básico de Brás Cubas em relação a sua vida é o do desmascaramento. Entre a norma social e a opinião pública, de um lado, e as intenções e desejos escusos do personagem, de outro lado, forma-se uma zona obscura que o narrador trata de esclarecer. Os “bons sentimentos são a máscara hipócrita” do egoísmo, do interesse e da luta pela glória. Instaura-se um terrível relativismo moral e emerge com freqüência certa noção da gratuidade e mesmo do caráter absurdo de certos gestos humanos. Episódio revelador desta dimensão inexplicável de alguns atos ocorre, por exemplo, no capítulo A borboleta preta. A borboleta invade o quarto de Brás Cubas e este, sem nenhuma razão plausível, a abate com uma toalha. Depois, ele tenta justificar a sua ação dando-lhe uma forma socialmente aceitável: “Também por que diabo não era ela azul?” Falsas racionalizações como esta são emitidas o tempo inteiro pelo narrador.

Personagem de grande significação na obra é Quincas Borba, antigo colega de Brás Cubas. Convertido em mendigo cleptomaníaco e filósofo, Quincas Borba expõe com hilariante seriedade um sistema de idéias designado como Humanitismo. A teoria do Humanitas é uma caricatura feroz ao positivismo e ao cientificismo dominantes na época. Paradoxalmente, o ridículo discurso filosófico de Quincas Borba, próximo da insanidade, – cujo lema darwinista é “Ao vencedor as batatas” – parece expressar a própria concepção machadiana de mundo, centrada na luta selvagem do indivíduo para estabelecer algum tipo de supremacia sobre os demais.

No capítulo O almocreve, Brás Cubas está sendo arrastado por um jumento, pois tinha sido jogado fora da sela ficara com o pé preso no estribo. Possivelmente morreria não fosse a corajosa intervenção de um almocreve (condutor de bestas de carga), que deteve o animal. A primeira intenção do narrador foi a de presentear o seu salvador com cinco moedas de ouro, depois pensou dar-lhe duas, uma moeda de ouro. Acabou metendo na mão do almocreve uma moeda de prata, mas ao afastar-se pensou com remorso que deveria ter-lhe dado apenas uns vinténs, racionalizando que o homem não tinha em mira nenhuma recompensa ao salvá-lo, cedendo apenas a um impulso natural.

O mais célebre capítulo do livro, porém, é O delírio. Em estado de transe causado pela febre, Brás Cubas é arrebatado por um hipopótamo que o leva a origem dos séculos. Surge então uma mulher imensa de contornos indefinidos que diz-se chamar Natureza ou Pandora. Quando, por fim, Brás Cubas vê de perto o rosto da estranha, percebe-lhe a impassibilidade egoísta e sua eterna surdez, ou seja trata-se de algo ou alguém indiferente ao clamor humano. Ela conduz o defunto autor ao alto de uma montanha e lhe permite contemplar a passagem dos séculos e entender o absurdo da existência, sempre igual, centrada apenas no egoísmo e na luta pela conservação. O personagem vê a história como uma eterna repetição.

O Ateneu, de Raul Pompéia

Análise da obra

Minha nova HQ literária: O Ateneu (roteiro de Ronaldo Antonelli)



O romance O Ateneu, de Raul Pompéia,  publicado em 1888, é uma das obras mais importantes do Realismo brasileiro. É a recriação artística do colégio interno. Apoiado na memória, Sérgio vai recompondo os fantasmas da adolescência, vivida entre as paredes do internato, através de quadros que deformam intencional e artisticamente o passado. Não é simples autobiografia e também não é pura ficção (= imaginação, invenção). É a soma das duas coisas, trabalhada pelas mãos do artista.

Foco narrativo
É uma narrativa de confissão, narrada em 1ª pessoa por Sérgio (personagem-narrador). A obra é memorialista, seu narrador, Sérgio, apresenta suas memórias de infância e adolescência num colégio interno chamado Ateneu. Assim, o foco narrativo em primeira pessoa impede a tão valorizada objetividade e imparcialidade do Realismo-Naturalismo.

Sérgio é o alter-ego, ou seja, um outro “eu” de Raul Pompéia. Em outras palavras, o narrador recebe a personalidade e também as memórias do autor, já que este também estudou num internato, o Colégio Abílio, do Rio de Janeiro. Mais uma vez, carrega-se nas tintas do pessoalismo.

Classificação problemática

Há uma superposição de diversos estilos, que torna problemático vincularmos O Ateneu a uma determinada corrente estética. Assim, podemos identificar no livro elementos expressionistas, impressionistas, naturalistas, simbolistas e parnasianos.

Os elementos expressionistas estão na descrição, através de símiles exagerados, dos ambientes e pessoas, compondo “quadros” de muita riqueza plástica, especialmente visual, e desnudando de forma cruel os lugares, colegas, professores etc. A frase transmite grande carga emocional. O estilo é nervoso, ágil. A redução das personagens a caricaturas grotescas parece proveniente da intenção de deformar, de exagerar, como se Raul Pompéia estivesse “vingando-se” de tudo e de todos.

As mangueiras, como intermináveis serpentes, insinuavam-se pelo chão. (...)

As crianças, seguindo em grupos atropelados, como carneiros para a matança. (...) e da pompa dos dias de festa - ele o visitara em dois desses dias -, existia um mundo hostil, hipócrita e egoísta .
O edifício do Ateneu era fechado e triste, apesar da natureza verdejante ao redor. Logo no início das aulas, o professor Mânlio recomenda Sérgio a Rebelo, o mais sério de seus alunos, que o adverte da necessidade de ser homem e forte ali, e, para tanto, Sérgio deveria começar não admitindo protetores. Os meninos tímidos e ingênuos eram automaticamente colocados no grupo dos fracos, sendo então dominados, pervertidos como meninas ao desamparo , que precisavam de "protetores" - meninos fisicamente fortes que protegiam os mais fracos em troca, principalmente, de favores sexuais.

Os colegas de classe, cerca de vinte tipos divertidos, são descritos como deprimentes. Franco, menino pobre, agressivo e problemático, era considerado por todos o bode expiatório, sendo por isso alvo de severas punições. Barbalho, de cara amarela, olhos vesgos e gordura balofa, sentava-se no fundo, e, sempre que possível, com um riso cínico, fazia chacota de Sérgio que, um dia, não suportando mais, rolou com ele em uma briga feroz. Outra fonte de constrangimento explícito, no Ateneu, era a leitura das notas todas as manhãs por Aristarco que, com veemência, enaltecia os mais fortes e, sem piedade, desmoralizava os mais fracos.

No quintal do Ateneu havia uma piscina, "vasta toalha d'água ao rés da terra", escoando para o Rio Comprido. Ali, no calor, em meio a uma grande algazarra e alegria, os meninos se banhavam. Um dia, alguém, talvez o próprio Sanches, para se aproximar de Sérgio, puxa-o, maldosamente, pelas pernas, fazendo-o afundar e se afogar. Sanches o salva, a partir de então, devendo-lhe a vida, demonstra toda gratidão para com ele.

Angustiado e acovardado, Sérgio indaga qual o seu destino "naquela sociedade que o Rebelo descrevera horrorizado, com meias frases de mistério, suscitando temores indefinidos, recomendando energia, como se coleguismo fosse hostilidade". Rompendo com a decisão de não admitir para si um "protetor", passa a desejar que alguém o socorra, e o inteligente Sanches desempenhará esse papel. Primeiro aluno da classe, além de proteção, o auxilia nos estudos, que passa a demonstrar melhoras no rendimento escolar. Apesar de amigos, Sérgio sente um certo asco pelo jeito pegajoso do companheiro que tenta mais e mais se encostar nele. Um dia, não agüentando mais as pressões sexuais de Sanches, o menino se afasta.

Após o susto da piscina e o rompimento com Sanches, Sérgio vivencia um período místico muito pessoal. Santa Rosália, cuja gravura em cartão traz dentro da blusa de brim, em santo contato, torna-se sua padroeira mor. Além da religião, busca também consolo nos astros. Adora as aulas noturnas de Astronomia de Aristarco.

Nesse período, o traço marginal de Franco também o atrai, aproximando-se dele acaba participando de uma traquinagem sórdida. Para vingar-se da punição recebida no caso da urina na bomba do poço e, conseqüentemente, na água de lavar pratos, Franco convida Sérgio para irem aos arredores da escola, onde juntaram algumas garrafas velhas que trouxeram até a piscina. Ali Franco quebrou-as e jogou os cacos no tanque para que todos se machucassem no dia seguinte . No desespero, atormentado pelo remorso e pela cumplicidade, Sérgio perde o sono e se põe a rezar freneticamente para sua padroeira na capela, onde adormece rezando. Por um feliz acaso, no dia seguinte, o tanque foi esvaziado e os meninos se banharam no chuveiro.

Após este acontecimento, o garoto passa ver a religião de outra maneira. Conclui que o misticismo estava degradando-o e "a convivência fácil com o Franco era a prova". Para ele nada era mais melancólico que a morte certa, o inferno para sempre, juízo final rigoroso. Rebaixando a função de Santa Rosália para uma mera marcadora de livros, leva o cartão à sala de estudos e coloca-o entre as páginas de um livro. Pouco tempo depois, ele desaparece. Sérgio acredita que algum apaixonado por gravuras a levara. Nesse período, graças à intervenção discreta do pai a seu favor, as condições no colégio melhoram para ele. Mais confiante, passa a olhar os inimigos de cima.

Funda-se no colégio o Grêmio Literário Amor ao Saber para exercício da retórica. Ali Nearco da Fonseca, aluno novo, que nos esportes era um fracasso, revela-se excelente orador. Bento Alves, rapaz bom, forte e misterioso, é o bibliotecário do Grêmio. Torna-se conhecido e respeitado por ter segurado o assassino de um dos funcionários da escola. O crime foi passional e Ângela, camareira da esposa do diretor, tinha sido a causa. Nas reuniões, Sérgio aproxima-se do bibliotecário, e logo se tornam companheiros, vendo seu relacionamento dessa forma: "estimei-o femininamente, porque era grande, forte, bravo; porque me podia valer; porque me respeitava, quase tímido, como se não tivesse ânimo de ser amigo".

Barbalho, inimigo antigo de Sérgio, estava de olho nas gentilezas e olhares afetuosos entre Bento e o novo amigo. Conta o que vê a Malheiro, para que este, rival de Bento Alves, provoque-o. Em meio a uma sessão solene do Grêmio, Bento Alves e Malheiro brigam violentamente. Malheiro toma uma surra, Bento Alves é preso e Sérgio, sem favores sexuais, aceita melhor o papel de "dama romântica", mergulhada no desespero.

Um pouco antes de terminar o ano, o Ateneu era um tédio. Terminam as provas, nas quais Sérgio se sai bem, e finalmente chegam as férias. Nesses dois meses, o menino reflete sobre o mundo exterior, sobre o trabalho do tempo e, ao voltar, sente-se mais presidiário do que nunca. As excursões do internato ao Corcovado e ao Jardim Botânico eram momentos de festa, alegria e liberdade temporária.

Nessa volta, o comportamento de Bento muda. Assim que vê o amigo, passa a agredi-lo. Em luta feroz, rolam no vão da escada, sem perceber a presença de Aristarco. Sem ligar muito, o diretor silencia sobre o que vira. Bento Alves acaba saindo do Ateneu.

Um pequeno escândalo acontece no colégio, dois garotos estão namorando, e Aristarco, que tinha a carta amorosa de ambos, arma um clima de terror e medo entre os alunos. Além disso, estoura mais uma celeuma; "a revolta da falsa goiabada". Aristarco, empresário frio e ambicioso, teve que se desculpar, porque os meninos tinham razão; estavam comendo "goiabada de banana" há três meses, e a "paz" volta a reinar.

Sérgio consegue uma nova e verdadeira amizade. Egbert é um formoso garoto de origem inglesa. Tudo nele causa admiração: do coração à correção das formas. Passam a fazer tudo juntos; eram inseparáveis.Graças às boas notas obtidas, como premio, os amigos recebem um convite para jantar na casa do diretor, e Sérgio volta totalmente encantado por Dona Ema, a mulher de Aristarco. Esta, que até então era algo distante e motivo de boatos entre os alunos, surge nos seus sonhos como uma imagem ambígua, misto de "mãe" e "mulher" Algo ocorre em seu íntimo também; passa a perceber Egbert como uma recordação distante. A amizade e o elo fraternal entre o dois começam a esfriar.

A mudança para o dormitório dos maiores o afasta ainda mais de Egbert. A camareira Ângela desperta nele e nos outros meninos uma incontrolável sensualidade . Lembrando-se de Franco, Sérgio vai visitá-lo. Encontra-o doente, com febre após sua última prisão; expusera-se propositalmente ao sereno. Diz que não é nada; um dia sem condições para se levantar, recebe a visita do médico duas vezes. Morre, alguns dias depois. Ao desmancharem a cama, cai dos lençóis um cartão: uma gravura de Santa Rosália; a padroeira desaparecida.

A preparação das solenidades de fim de ano ocupa a todos. A festividade conta com a presença de figuras de vulto da cidade. Entre elas: a princesa Regente e o Ministro do Império. Aristarco discursa empolgado e, após a entrega das medalhas e menções honrosas, é homenageado com o seu busto em bronze.

Logo depois da festa de educação física, Sérgio adoece; esta com sarampo. Devido a isso e à enfermidade do pai que viajara com toda a família para a Europa, tem de ficar na enfermaria da escola no período de férias. Sob os cuidados de Dona Ema, um clima de doçura, amor maternal, amor filial, erotismo paira sobre eles, intensificando seus conflitos internos.

Um grito faz Sérgio estremecer no leito e escancarar a janela; o Ateneu está em chamas. Américo, um menino estranho, que ficara na escola, obrigado pela família e que sumira dali, é o principal suspeito do incêndio. Desaparecera também a senhora do diretor que, desconsolado, presencia tristemente sua obra sucumbir.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O REALISMO PELO MUNDO ...

Antes do Realismo, os temas se limitavam a fatos do mundo modern; os artistas conseguiram reproduzir perfeitamente o que viam, mas sempre à forma da idealização e teatralidade.

Agora eles se preocupavam em fazer uma imitação precisa de percepções visuais sem alterações.

 
Sobriedade, camponeses e classe trabalhadora urbana ao invés de deuses, deusas e heróis da antiguidade; o que era real mesmo e palpável.



Entre 1850 e 1900 surge nas artes européias, sobretudo na pintura francesa, uma nova tendência estética que se desenvolveu ao lado da crescente industrialização das sociedades.

O homem europeu, que tinha aprendido a utilizar o conhecimento científico e a técnica para interpretar e dominar a natureza, convenceu-se de que precisava ser realista, inclusive em suas criações artísticas, deixando de lado as visões subjetivas e emotivas da realidade.

São características gerais:
* o cientificismo
* a valorização do objeto
* o sóbrio e o minucioso
* a expressão da realidade e dos aspectos descritivos

 
ARQUITETURA

 
Os arquitetos e engenheiros procuram responder adequadamente às novas necessidades urbanas, criadas pela industrialização.

As cidades não exigem mais ricos palácios e templos. Elas precisam de fábricas, estações, ferroviárias, armazéns, lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias, tanto para os operários quanto para a nova burguesia.

Em 1889, Gustavo Eiffel levanta, em Paris, a Torre Eiffel, hoje logotipo da "Cidade Luz".




PINTURA
Características da pintura:

* Representação da realidade com a mesma objetividade com que um cientista estuda um fenômeno da natureza, ou seja o pintor buscava representar o mundo de maneira documental;

* Ao artista não cabe "melhorar" artisticamente a natureza, pois a beleza está na realidade tal qual ela é;

* Revelação dos aspectos mais característicos e expressivos da realidade.

Temas da pintura:

* Politização: a arte passa a ser um meio para denunciar uma ordem social que consideram injusta; a arte manifesta um protesto em favor dos oprimidos.

* Pintura social denunciando as injustiças e as imensas desigualdades entre a miséria dos trabalhadores e a opulência da burguesia. As pessoas das classes menos favorecidas - o povo, em resumo - tornaram-se assunto freqüente da pintura realista.

Os artistas incorporavam a rudeza, a vulgaridade dos tipos que pintavam, elevando esses tipos à categoria de heróis. Heróis que nada têm a ver com os idealizados heróis da pintura romântica.

Artistas:

Daumier - foi o precurssor da pintura realista.


Courbet - foi considerado o criador do realismo social na pintura, pois procurou retratar em suas telas temas da vida cotidiana, principalmente das classes populares.



Autorretrato do artista

Manifesta sua simpatia particular pelos trabalhadores e pelos homens mais pobres da sociedade no século XIX.

 

Courbet – coisas reais, concretas e existentes. “Nunca vi anjos, se me mostrarem um, eu pinto”. Tela: "Enterro em Ornans" – sobre gente comum. É a primeira vez que um tema tão comum é retratado como "obra de arte" - essa tela tem cerca de 6m. Antes, nessas proporções, apenas cenas heróicas e mitológicas eram retratadas.



Jean-François Millet, sensível observador da vida campestre, criou uma obra realista na qual o principal elemento é a ligação do homem com a terra.

"As Respigadeiras"
Releitura de "As respigadeiras" achada na Internet.
E faz sentido...o novo nome poderia ser "As catadoras de latinhas"...

 
Foi educado num meio de profunda religiosidade e respeito pela natureza. Trabalhou na lavoura desde muito cedo.


Seus numerosos desenhos de paisagens influenciaram, mais tarde, Pissarro e Van Gogh.


Rosa Bonheur - mulher artista, a frente de sua época. Pintava os animais como principal tema.

Fotografia da artista. Dissecava animais para conhecê-los anatomicamente e fumava quando era impróprio para as moças da época, morava com uma amiga e certa vez conseguiu uma autorizaçao policial para poder usar calças compridas.


Camille Corot - Montou a Escola de Barbizon, onde eram influenciados por Constable para pintar paisagens.




Suas telas tornaram-se tão populares que foram as mais falsificadas no mundo inteiro.


Eakins - era sistemático e queria retratar a realidade tal como ela é, sem idealizações. Teve um estudo tão grande em anatomia que chegou a dar aulas para alunos de Medicina.


Foi também o primeiro artista a incluir na arte pessoas discriminadas na época, como mulheres e os negros.

Homer - aquarelista, pintor de paisagens marinhas.

Antes dele, as paisagens só serviam como esboço para a pintura. Ele valorizou-a e transformou em obra de arte.
Harnett - natureza-morta. Fazia os objetos de forma tão real, que em alguns bares os garçons ganhavam dinheiro de apostas de clientes que tocavam no quadro e duvidar ser uma pintura.


Certa vez o sindicato do Tesouro do país quis advertí-lo por falsificação por ter pintado notas de dólar tão perfeitamente.



ESCULTURA

Auguste Rodin - não se preocupou com a idealização da realidade. Ao contrário, procurou recriar os seres tais como eles são.



Além disso, os escultores preferiam os temas contemporâneos, assumindo muitas vezes uma intenção política em suas obras. Sua característica principal é a fixação do momento significativo de um gesto humano.





Camille Claudel – modelo, aprendiz e amante de Rodin. Suas obras são mais suaves e menos eróticas.




Vejas cenas do filme de Camille Claudel (Rodin é atuado pelo ator Gérard Depardieu) de 1988:





Para seu conhecimento

Courbet dizia: "Sou democrata, republicano, socialista, realista, amigo da verdade e verdadeiro"

A palavra realismo designa uma maneira de agir, de interpretar a realidade. Esse comportamento caracteriza-se pela objetividade, por uma atitude racional das coisas pode ocorrer em qualquer tempo da história.

O termo Realismo significa um estilo de época que predominou na segunda metade do século XIX.


Referências e fontes:
www.historiadaarte.com.br

STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.






sábado, 5 de novembro de 2011

REALISMO

Entre 1850 e 1900 surge nas artes européias, sobretudo na pintura francesa, uma nova tendência estética chamada Realismo, que se desenvolveu ao lado da crescente industrialização das sociedades. O Iníciom europeu, que tinha aprendido a utilizar o conhecimento científico e a técnica para interpretar e dominar a natureza, convenceu-se de que precisava ser realista, inclusive em suas criações artísticas, deixando de lado as visões subjetivas e emotivas da realidade.

São características gerais:

• o cientificismo
• a valorização do objeto
• o sóbrio e o minucioso
• a expressão da realidade e dos aspectos descritivos

ARQUITETURA
Os arquitetos e engenheiros procuram responder adequadamente às novas necessidades urbanas, criadas pela industrialização. As cidades não exigem mais ricos palácios e templos. Elas precisam de fábricas, estações, ferroviárias, armazéns, lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias, tanto para os operários quanto para a nova burguesia.
Em 1889, Gustavo Eiffel levanta, em Paris, a Torre Eiffel, hoje logotipo da "Cidade Luz".

ESCULTURA
Auguste Rodin - não se preocupou com a idealização da realidade. Ao contrário, procurou recriar os seres tais como eles são. Além disso, os escultores preferiam os temas contemporâneos, assumindo muitas vezes uma intenção política em suas obras. Sua característica principal é a fixação do momento significativo de um gesto humano.

Obras destacadas: Balzac, Os Burgueses de Calais, O Beijo e O Pensador.





 
PINTURA
Características da pintura:

• Representação da realidade com a mesma objetividade com que um cientista estuda um fenômeno da natureza, ou seja o pintor buscava representar o mundo de maneira documental;
• Ao artista não cabe "melhorar" artisticamente a natureza, pois a beleza está na realidade tal qual ela é; e.
• Revelação dos aspectos mais característicos e expressivos da realidade.

Temas da pintura:

• Politização: a arte passa a ser um meio para denunciar uma ordem social que consideram injusta; a arte manifesta um protesto em favor dos oprimidos.


• Pintura social denunciando as injustiças e as imensas desigualdades entre a miséria dos trabalhadores e a opulência da burguesia. A

Os artistas incorporavam a rudeza, a fealdade, a vulgaridade dos tipos que pintavam, elevando esses tipos à categoria de heróis.

Heróis que nada têm a ver com os idealizados heróis da pintura romântica.

Principais pintores:
Courbet



foi considerado o criador do realismo social na pintura, pois procurou retratar em suas telas temas da vida cotidiana, principalmente das classes populares. Manifesta sua simpatia particular pelos trabalhadores e pelos Inícions mais pobres da sociedade no século XIX.

Obra destacada: Moças Peneirando o Trigo.




Os Quebradores de Pedra, 1849. Gustave Coubert.


 
 



Jean-François Millet
sensível observador da vida campestre, criou uma obra realista na qual o principal elemento é a ligação atávica do Iníciom com a terra. Foi educado num meio de profunda religiosidade e respeito pela natureza. Trabalhou na lavoura desde muito cedo. Seus numerosos desenhos de paisagens influenciaram, mais tarde, Pissarro e Van Gogh.

É o caso, por exemplo, "Angelus".


Sua obra foi uma resposta à estética romântica, de gostos um tanto orientais e exóticos, e deu forma à realidade circundante, sobretudo a das classes trabalhadoras. Suas obras sobre camponeses foram consideradas sentimentais para alguns, exageradamente piegas para outros, mas a verdade é que as obras de Millet em nenhum momento suscitaram indiferença.

 Na tepidez de seus ocres e marrons, no lirismo de sua luz, na magnificência e dignidade de suas figuras humanas, o pintor manifestava a integração do homem com a natureza. Alguns temas eram tratados talvez com um pouco mais de sentimentalismo do que outros.

No entanto, é nos pequenos gestos que se pode descobrir a capacidade de observação deste grande pintor. Nessa pintura, “As respigadeiras” (1857), Millet retrata três camponesas que trabalham na colheita. Não há nenhum drama e nenhuma história contada, mas apenas três mulheres camponesas em um campo.

As respigadeiras são mulheres humildes que recolhem o que sobrou após a colheita dos proprietários de terra. Os proprietários e os trabalhadores são vistos na parte de trás da pintura. Millet aqui mudou o foco, o assunto mais importante seria aqueles que eram considerados parte inferior da escada social. Millet também não pintou seus rostos para enfatizar sua posição de anonimato e marginalização. Seus corpos curvos representam o trabalho difícil de todos os dias.
 
As respigadeiras








 
 
Para seu conhecimento:
Courbet dizia: "Sou democrata, republicano, socialista, realista, amigo da verdade e verdadeiro"

A palavra realismo designa uma maneira de agir, de interpretar a realidade. Esse comportamento caracteriza-se pela objetividade, por uma atitude racional das coisas pode ocorrer em qualquer tempo da história.

O termo Realismo significa um estilo de época que predominou na segunda metade do século XIX.


s pessoas das classes menos favorecidas - o povo, em resumo - tornaram-se assunto freqüente da pintura realista.