Omissão
e desastre
Todo ano, governantes culpam as chuvas por
cheias e deslizamentos, mas pouco fazem para evitar sua repetição
As 50 mortes
registradas em Angra dos Reis (RJ) até a tarde de ontem, por força de
deslizamentos em encostas, configuram um recorde sinistro para o município.
Tais estatísticas, no entanto, são um retorno tão certo quanto as chuvas
torrenciais de final do ano. Mudam as localidades, mas não a tragédia de incúria
do poder público.
No verão de
2008/2009, foram 135 mortos em Santa Catarina. Em Angra dos Reis mesmo, não faz
tanto tempo que avalanche de lama arrastou famílias inteiras: em 2002, 40
pessoas pereceram no bairro do Areal.
A tendência dos
governantes é esquivar-se da responsabilidade, alegando que se trata de
fenômenos naturais extremos. Com efeito, os 355 mm acumulados em Angra
no mês de dezembro projetam-se 44% acima da média histórica para esse mês. Mas
o argumento é tergiversante.
O aumento de chuvas
estava previsto, por encontrar-se em curso o fenômeno climático El Niño, um
aquecimento incomum das águas do Pacífico junto à América do Sul. A anomalia
costuma aumentar a precipitação na região Sudeste e, como preveem alguns
estudos, poderá tornar-se mais frequente com a mudança global do clima.
A perspectiva se
mostra tanto mais preocupante porque no litoral do Sudeste se encontram algumas
das maiores cidades do país, boa parte delas nas vizinhanças do relevo
acidentado da serra do Mar. O deficit habitacional empurra os habitantes pobres
para as áreas de risco, processo que poderá agravar-se com o inchaço previsível
de algumas dessas cidades, como São Sebastião (SP), induzido pela exploração do
petróleo do pré-sal e pelo impulso da atividade portuária.
Não há como evitar as
chuvas, decerto, mas pode-se fazer muito para prevenir a ocorrência de
desastres anunciados. Não existe hoje um mapeamento atualizado nem um sistema
eficiente de alerta para a população que já se encontra nas áreas ameaçadas,
capaz de evacuá-la sempre que a precipitação ultrapassar limiares prefixados.
Esta é uma responsabilidade primordial das prefeituras municipais.
O ideal, porém, seria
oferecer uma alternativa de moradia para essas pessoas, construindo casas
populares longe das áreas de risco. Seria prudente, também, investir em
levantamentos geotécnicos, mapas de risco de enchentes e maior controle da destruição
de matas ciliares (o desmate favorece a erosão e o assoreamento dos rios).
Aqui, o papel dos governos estaduais no esforço de planejamento é crucial, por sua capacidade técnica e financeira e também por responderem pela fiscalização ambiental imediata. Ao governo federal compete coordenar essas iniciativas e complementar seu financiamento. Sem uma ação concertada dos três níveis de administração, as tragédias prosseguirão.
Aqui, o papel dos governos estaduais no esforço de planejamento é crucial, por sua capacidade técnica e financeira e também por responderem pela fiscalização ambiental imediata. Ao governo federal compete coordenar essas iniciativas e complementar seu financiamento. Sem uma ação concertada dos três níveis de administração, as tragédias prosseguirão.
Após a leitura do editorial acima,
elabore uma dissertação-argumentativa, no qual você expresse e defenda seu
posicionamento acerca do tema proposto abaixo. Apresente argumentos que
fundamentem o ponto de vista que você defende.
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