sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Enchentes: descontrole da natureza ou falta de um planejamento urbano responsável?


Omissão e desastre


Todo ano, governantes culpam as chuvas por cheias e deslizamentos, mas pouco fazem para evitar sua repetição


As 50 mortes registradas em Angra dos Reis (RJ) até a tarde de ontem, por força de deslizamentos em encostas, configuram um recorde sinistro para o município. Tais estatísticas, no entanto, são um retorno tão certo quanto as chuvas torrenciais de final do ano. Mudam as localidades, mas não a tragédia de incúria do poder público.

No verão de 2008/2009, foram 135 mortos em Santa Catarina. Em Angra dos Reis mesmo, não faz tanto tempo que avalanche de lama arrastou famílias inteiras: em 2002, 40 pessoas pereceram no bairro do Areal.

A tendência dos governantes é esquivar-se da responsabilidade, alegando que se trata de fenômenos naturais extremos. Com efeito, os 355 mm acumulados em Angra no mês de dezembro projetam-se 44% acima da média histórica para esse mês. Mas o argumento é tergiversante.

O aumento de chuvas estava previsto, por encontrar-se em curso o fenômeno climático El Niño, um aquecimento incomum das águas do Pacífico junto à América do Sul. A anomalia costuma aumentar a precipitação na região Sudeste e, como preveem alguns estudos, poderá tornar-se mais frequente com a mudança global do clima.

A perspectiva se mostra tanto mais preocupante porque no litoral do Sudeste se encontram algumas das maiores cidades do país, boa parte delas nas vizinhanças do relevo acidentado da serra do Mar. O deficit habitacional empurra os habitantes pobres para as áreas de risco, processo que poderá agravar-se com o inchaço previsível de algumas dessas cidades, como São Sebastião (SP), induzido pela exploração do petróleo do pré-sal e pelo impulso da atividade portuária.

Não há como evitar as chuvas, decerto, mas pode-se fazer muito para prevenir a ocorrência de desastres anunciados. Não existe hoje um mapeamento atualizado nem um sistema eficiente de alerta para a população que já se encontra nas áreas ameaçadas, capaz de evacuá-la sempre que a precipitação ultrapassar limiares prefixados. Esta é uma responsabilidade primordial das prefeituras municipais.

O ideal, porém, seria oferecer uma alternativa de moradia para essas pessoas, construindo casas populares longe das áreas de risco. Seria prudente, também, investir em levantamentos geotécnicos, mapas de risco de enchentes e maior controle da destruição de matas ciliares (o desmate favorece a erosão e o assoreamento dos rios).
Aqui, o papel dos governos estaduais no esforço de planejamento é crucial, por sua capacidade técnica e financeira e também por responderem pela fiscalização ambiental imediata. Ao governo federal compete coordenar essas iniciativas e complementar seu financiamento. Sem uma ação concertada dos três níveis de administração, as tragédias prosseguirão.


 

            Após a leitura do editorial acima, elabore uma dissertação-argumentativa, no qual você expresse e defenda seu posicionamento acerca do tema proposto abaixo. Apresente argumentos que fundamentem o ponto de vista que você defende.

 

 

 

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