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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O inventor de ilusões: René Magritte




O pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967) detestava falar de sua infância. Isso era compreensível. Entre os acontecimentos que marcaram os primeiros anos de sua vida está a nebulosa morte de sua mãe, encontrada boiando no meio da noite nas águas do rio Sambre, em Chatelet, com a camisola enfiada na cabeça.

As pouquíssimas lembranças de menino que ele chegou a revelar estão sempre impregnadas pelo insólito ou mistério, como o dia em que um balão se prendeu no telhado de sua casa. As roupas incomuns dos baloneiros que foram resgatá-lo, vestidos com capacetes e jaquetas de couro, despertaram nele um permanente sentimento de inquietação.

Estes acontecimentos aparecem com freqüência em seus trabalhos. O balão, por exemplo, flutua no fundo dos céus de Quando o Tempo Acaba (1946).





Há quem veja nos rostos cobertos de Os Amantes (1928) uma sinistra referência à sua mãe suicida. Seja como for, o inesperado e o absurdo são a essência de sua obra. Para obtê-los, Magritte utilizava a não menos estranha combinação de técnica acadêmica com o improvável dos sonhos, introduzindo aspectos fantásticos em imagens calcadas na tradição realista.



Essa era a sua forma de transpor os tênues limites entre a ilusão e a realidade. Assim, uma frondosa árvore podia ganhar um armário de três portas em seu tronco, tal como acontece em A Voz do Sangue, 

   

ou o dia e a noite coexistirem num mesmo momento, como em O Império das Luzes II.

 O Império das Luzes, 1954

Esta cena, tão aparentemente realista, só num segundo olhar nos oferece sua verdadeira face surreal. O Império das Luzes, um dos quadros mais famosos de René Magritte (1898 – 1967), é uma síntese fiel da filosofia da sua obra. Aqui, temos uma paisagem que nos leva a pensar na noite e um céu que nos faz refletir sobre o dia. "Na minha opinião, essa simultaneidade de dia e noite tem o poder de surpreender e de encantar. Chamo a esse poder de poesia", deliberou o pintor belga.

Magritte, mais que um "filósofo das artes", foi um mestre na arte de revelar o mistério mundano, as coisas "prosaicas" da vida. Os elementos que quase sempre figuram em sua obra apresentam um agudo contraste entre si, desencadeando um choque que abala a mente, tirando-a da sua apatia e convidando a pensar. Ele costumava dizer que os poderes do pensamento abrangem tanto o visível quanto o invisível. Frisava:

“Eu faço uso da pintura para tornar os pensamentos visíveis".




Outro de seus recursos era dar novos significados a objetos cotidianos, como pães, pentes ou guarda-chuvas, inserindo-os em contextos diferentes do habitual.



 

fonte: http://galileu.globo.com/







Numa tela famosa, ATraição das Imagens, de 1929, ele pintou um cachimbo e abaixo dele a frase "Isto não é um cachimbo".



Bastou para instaurar a diferença essencial entre o objeto real e a sua representação.
"Alguém por acaso consegue fumá-lo? Não, pois é apenas um desenho. Se tivesse escrito que era um cachimbo eu estaria mentindo", explicou. Foi essa capacidade de surpreender que o elevou a uma das principais figuras do surrealismo, movimento ao qual se filiou, no final dos anos 20, depois de um rápido namoro com o cubismo de Picasso.


 Influenciado por Max Ernest e De Chirico, Magritte logo encontrou seu próprio caminho. Ao contrário da maioria dos surrealistas, que gostava da justaposição de objetos inconciliáveis, ele explorou, antes, suas similaridades. André Breton, um dos principais líderes do movimento, dizia que a grande originalidade de Magritte não estava nos objetos que pintava, mas na maneira como ele relacionava um com os outros.

O próprio pintor chegou a contar como nasceu essa habilidade: "Certa noite, acordei num quarto onde um pássaro dormia numa gaiola. Eu tive a impressão de ver um ovo no lugar do pássaro. Descobri assim um espantoso segredo poético, pois o choque que eu experimentei foi causado exatamente pela afinidade dos dois objetos, a gaiola e o ovo. Até então, tinha procurado provocar esse choque com objetos que nenhuma relação tinham entre si". Assim como o artista gráfico M. C. Escher (que foi assunto da edição 88 de GALILEU), Magritte também foi um criador de mundos impossíveis.

A diferença, porém, era que o primeiro, através de composições lógicas baseadas na matemática, tornava possível o impossível. Magritte, não. Preferia manter a impossibilidade e o mistério de suas telas, que até hoje causam a estranheza de uma miragem. Era esse seu objetivo: surpreender e encantar. "A esta força chamo poesia", afirmava.



 
 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O surrealismo cerebral de René Magritte




"A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria"
René Magritte.


Chamaram-lhe pintor cerebral e apelidaram o seu estilo de "visual thinking". A pintura surrealista de René Magritte tornou-se um marco do século XX, mas foi quase no final da sua vida que começou a ser apreciada pelo grande público. Hoje, pinturas como "Golconde", "A traição das imagens" ou "Filho do Homem" fazem parte da cultura popular e ajudaram a mudar a percepção da arte surrealista.


pintura surrealismo rene magritte
Les Amants


René Magritte (1898-1967) tinha apenas 13 anos quando a sua mãe cometeu um acto terrível. Depois de várias tentativas de suicídio, ela atirou-se de uma ponte, afogando-se no Rio Sambre. Diz-se que este acontecimento viria a marcar para o resto da vida o pintor belga, levando-o a pintar quadros como Les Amants (1928), em que dois namorados se beijam encapuçados - da mesma forma que a sua mãe tinha sido encontrada, com o vestido cobrindo-lhe a cabeça. Apesar da tragédia, a verdade é que Magritte se tornou um dos pintores mais famosos do século XX e um marco incontornável da arte surrealista.

Os primeiros quadros de Magritte datam de 1915 e eram impressionistas. No entanto, de 1916 a 1918 o belga decidiu frequentar a Academia Real de Artes em Bruxelas de forma a aperfeiçoar a sua técnica, acabando por se aborrecer com o conservadorismo da escola e por abandoná-la. Tornou-se então um desenhador de papel de parede e artista comercial em Bruxelas, cidade onde passou a viver e se casou com Georgette Berger.

Os seus primeiros trabalhos, depois de sair da Academia, foram influenciados pelo Cubismo e Futurismo. Foi, contudo, quando se aproximou de Giorgio de Chirico e da sua pintura metafísica que Magritte mergulhou no surrealismo que viria a marcar toda a sua obra. Em 1926, deixou o emprego para se dedicar inteiramente à arte, sob o mecenato da Galerie le Centaure, que lhe permitiu pintar a tempo inteiro. Le Jockey Perdu, tela terminada no mesmo ano, foi a sua primeira obra surrealista. No entanto, a má recepção da crítica fez com que Magritte se refugiasse em Paris e aí vivesse durante três anos, estabelecendo contactos com Max Ernst, Dali, André Breton e Paul Éluard.

pintura surrealismo rene magritte
Le Jockey Perdu


Voltando para Bruxelas, viu-se obrigado a criar uma agência de publicidade com o irmão, de forma a ganhar dinheiro para sustentar o seu estilo de vida. Viria mais tarde a confessar o desprezo que tinha por este tipo de trabalho: "Detesto o meu passado e o de todos. Detesto a resignação, a paciência, o heroismo profissional e os sentimentos bonitos obrigatórios. Também detesto as artes decorativas, o folclore, a publicidade, as vozes dos anúncios, o aerodinamismo, os escuteiros, o cheiros das bolas de naftalina, acontecimentos do momento e pessoas embriagadas".

Durante os anos 30 aprofundou a sua técnica, pintando imagens perturbantes e desconstruídas que logram desafiar as percepções do público. Em 1928, Magritte já nos tinha deixado uma pista para a leitura da sua obra com "A traição das imagens", pintado em Cadaqués (Catalunha) na companhia de Dali. Por baixo do cachimbo, podemos ler as palavras "Ceci n'est pas une pipe", uma aparente contradição. Contudo, se reflectirmos acerca do assunto, trata-se da imagem de um cachimbo que não satisfaz a necessidade do objecto real. O mote estava lançado: não importa o quão fiel possamos representar uma imagem, é sempre impossível capturar a sua essência.

pintura surrealismo rene magritte
La Trahison des Images


A pintura de Magritte dá novos significados aos objectos comuns, mas de uma forma diferente. Ao contrário do automatismo surreal até então praticado, o seu trabalho surge da justaposição pensada, criando uma imagética poética e exortando à hipersensibilidade do público. O resultado são objectos híbridos, como em O Retrato (1935) ou La Durée poignardée (1938). Os motivos eram muitas vezes quotidianos: árvores, janelas, portas, cadeiras, pessoas, paisagens. Magritte não procurava o obscuro e recusava o significado dos sonhos e da psicanálise. Pelo contrário, ele procurava, através da terapia de choque e da surpresa, libertar da sua obscuridade as visões convencionais da realidade.

A simplicidade enganadora das suas telas tem um conteúdo filosófico e poético, satirizando o mundo instável e perturbado do século XX. Um mundo feroz (e veloz) no qual a razão se torna indispensável para dar sentido à vida. Mas Magritte expurga essa razão através de técnicas surrealistas, jogando com a lógica do espectador: há nos seus quadros uma necessidade de reagir ao fenómeno da vida quotidiana, criando algo inesperado.

Um quadro de Magritte não é para ser admirado. É para ser objecto de reflexão e ponderado - o sentido está muitas vezes escondido e é alvo de segundas, terceiras e quartas interpretações. E as questões acerca das suas criações ainda pairam no ar, já que Magritte nunca deu respostas claras acerca do seu significado. La reproduction interdite ou Golconde são alguns dos exemplos desta aura de mistério.

pintura surrealismo rene magritte

Time Transfixed

pintura surrealismo rene magritte
Not to be Reproduced


Sendo versátil, Magritte foi ainda responsável por reproduzir sátiras de quadros famosos, que inspiraram o sentido de humor non-sense moderno. Apaixonado pela filosofia e literatura, muitos dos seus quadros reflectem também a sua aproximação a certos autores, como Baudelaire (em La Géante), Edgar Allan Poe (Le Domainde d'Arnheim) ou Hegel (Les Vacances de Hegel).

Durante os tempestivos anos 40, o pintor belga passou ainda por dois períodos - os únicos da sua vida - em que se afastou do surrealismo. Em 1943-44, influenciado por Renoir, adoptou um estilo colorido que deixou pouco depois, dado o desinteresse da crítica. Em 1947-48, na época "vache", foi influenciado pelos fauvistas, pintando imagens provocatórias e rudes. Desencorajado mais uma vez pelas críticas ao seu trabalho, acabou também por voltar ao seu "visual thinking" ou "pintura cerebral", termos rotulados pela crítica.

Apesar dos cerca de mil trabalhos que criou até à sua morte em Agosto de 1967, René Magritte começou apenas a ser verdadeiramente apreciado nos anos 60. O interesse generalizado fez com que muitas das suas telas se tornassem parte da cultura popular durante as décadas seguintes. Ainda hoje o seu trabalho é re-interpretado por artistas modernos. O músico Rufus Wainwright é um deles e no seu vídeo Across The Universe (2002) mostra Dakota Fanning rodeada de homens de chapéu de coco e gabardine estáticos no ar, numa semelhança inegável com "Golconde".

 Pintura Arte Magritte

Magritte nasceu em 1898 e morreu em 1967. Ao ser classificado de surrealista, reagiu e disse fazer uso da pintura com o objectivo de tornar visíveis os seus pensamentos. Magritte foi de facto um surrealista, mas foi também um pensador. O seu trabalho é sempre complexo e obriga ao raciocínio, à interpretação e ao estudo. Os quadros de Magritte não podem ser simplesmente vistos. Precisam ser pensados. Todo o surrealismo tem um trago de loucura que revela toda a genialidade. E Magritte é genial.

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The Dangerous Liaison, 1926

Baseadas na imagem do espelho, as certezas perceptíveis são novamente chamadas. A relação entre o espelho e aquilo que reflecte, uma relação vulgarmente considerada indissolúvel, surge quebrada. Uma jovem nua pode ver-se numa perspectiva alterada no espelho por trás do qual está de pé, contudo o observador que está colocado à frente do espelho esperaria ver-se reflectido nele.
 Pintura Arte Magritte
Le Blanc-Seing, 1965

Coisas visíveis podem ser invisíveis. Se alguém cavalga por um bosque, a princípio vemo-lo, depois não, contudo sabemos que está lá. Todavia, os nossos poderes de pensamento abrangem tanto o visível como o invisível.
 Pintura Arte Magritte
L'Empire des Lumieres, 1954

Uma cena nocturna sob um céu diurno. Só a um segundo olhar reconhecemos a natureza surreal desta cena aparentemente realista. Magritte interpretou-a da seguinte forma: "... a paisagem leva-nos a pensar na noite, o céu no dia. Na minha opinião, esta simultaneidade de dia e noite tem o poder de surpreender e de encantar. Chamo a este poder poesia."
 Pintura Arte Magritte
Le seducteur, 1953

O observador é seduzido por uma ideia que é poética e plausível ao mesmo tempo, a de um objecto assumindo a substância do material em que se sente à vontade. Aqui, por exemplo, o navio é construído de água, tornando-se por isso uma espécie de "castelo do ar" da pintura e do mundo das ideias de Magritte.
 Pintura Arte Magritte
The Son of Man, 1926

É provavelmente dos quadros mais famosos de Magritte. Ele define-o desta forma: "Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós queremos sempre ver o que está escondido pelo que vemos.
 
 
 
 
 







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