Mostrando postagens com marcador Romantismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Romantismo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O "SPLEEN" DE LORD BYRON


Lord Byron
 
"A amizade é o amor sem asas".
 
"A Adversidade é o primeiro caminho para a Verdade".
 
"E, afinal de contas, o que é uma mentira? / É apenas a verdade mascarada".
 
"O ódio é de longe o mais longo dos prazeres: amamos depressa mas detestamos com vagar"
 

"Na sua primeira paixão, a mulher ama o seu amante; em todas as outras, do que ela gosta é do amor."
"Enxugar uma só lágrima merece mais / Honesta fama, do que verter mares de sangue."
"Quando tiramos a vida aos homens, não sabemos, nem o que lhes tiramos, nem o que lhes damos."
"A vida é como o vinho: se a quisermos apreciar bem, não devemos bebê-la até à última gota."



George Gordon Noel Byron nasceu em 1788, em Londres. Seus escritos são marcados pela melancolia, idealização do amor e prazeres, um turbilhão de sentimentos aparentemente contraditórios. Utilizou o conceito de “spleen”, que seria o próprio tédio com relação à vida, um descontentamento profundo, que aparecia constantemente nas obras de Byron.

Classifica-se sua obra e seu estilo literário na segunda fase do romantismo. Justamente por ser uma fase ultra-romântica, que traz a tona esses aspectos tão presentes em Byron, também é conhecida como Byroniana.

Apesar de seu primeiro livro, "Ociosidade das Horas", não ter recebido boas críticas – foi o início de uma brilhante carreira. Obras como "Peregrinação de Childe Harold", "O Corsário" e "Lara", vingaram o primeiro trabalho e tiveram várias edições e traduções.

Acredita-se que a vida pessoal de Byron tenha influenciado bastante sua obra. Desde cedo experimentou amores, concretos e impossíveis, assim como os prazeres da carne.

A sua vida pessoal, além disso, foi marcada por polêmica. Casou-se em 1815 com Anne Milbanke, mas separou-se no ano seguinte. Juntou-se a isso o boato de uma relação incestuosa, entre Byron e sua meia-irmã, Augusta Leigh.

Mas, no ano seguinte, Byron foi morar em Veneza, onde levou ao limite a sua vida de boemia, sempre rodeado de mulheres e regado a álcool. O poema "Beppo, uma história veneziana", sátira da sociedade veneziana da época, foi escrito nessa fase de sua vida.



Byron se delicia com a liberdade de Veneza, exaltando, por exemplo, a figura do cavalier servante - uma espécie de amante oficial -, função que o anti-herói Beppo exerce junto à anti-heroína Laura. Em 'Beppo', Byron se vinga de seus desafetos, ao mesmo tempo que retrata um pouco de sua própria vida. Hedonista, polígamo, amante de muitas mulheres e alguns homens, iconoclasta, perdulário, o poeta viveu intensamente seus 36 anos. Foi extremamente popular no século XIX - a ponto de ter sido criada a expressão 'herói byroniano' - , ficou esquecido depois do modernismo, mas hoje não se pode negar a qualidade e a força de sua obra


Ainda foi viver com a Condessa Teresa Guiccioli, em 1819, em Ravena. Mas logo partiu para Pisa, onde escreveu "O Deformado Transformado", que carrega um pouco de autobiografia em sua trama.

Morreu jovem, ainda aos 36 anos, de uma febre. Mas, apesar da pouca idade, pode-se dizer que Byron aproveitou bem a vida. Embora tenha sido mal visto por algumas classes da sociedade. Prova disso foi que seus restos mortais foram recusados na Abadia de Westminster. O autor foi sepultado, então, perto Abadia de Newstead.


Algumas das mais importantes obras do autor: “Horas de lazer” (1807), “Poetas ingleses e críticos escoceses” (1809), “A Peregrinação de Childe Harold (1812-1818), “O prisioneiro de Chillon (1816)”, “Manfred (1817), “Beppo (1818)”, “Don Juan” (1819-24).
 
 

terça-feira, 13 de março de 2012

Iracema (José de Alencar)

 
José de Alencar foi antes de tudo um inovador, o primeiro que, destemidamente, se mostrou rebelde à tradição portuguesa. Sem dúvida um precursor da revolução modernista de 1922. Uma das marcas registradas de sua obra é o sentimento brasileiro. O índio que ele tanto cantou e exaltou, é a personificação de seu entranhado nacionalismo. Tanto que Machado de Assis declara que "nenhum escritor teve em mais alto grau a alma brasileira".

O seu estilo revela-se retórico, sonoro e brilhante, o que nada mais é do que o espírito de sua escola - o Romantismo. As suas paisagens, além do sentimento brasileiro, têm cores maravilhosas da nossa exuberante vegetação tropical. Ele não descreve cenas, quadros: pinta-os molhando o pincel nas mais vivas e variadas tintas. Conhecia o Português e conhecia a Gramática, mas sua preocupação estava acima disto: quis criar um estilo brasileiro, independente, pessoal, reflexo dos nossos modismos sintáticos e vocabulares, um linguajar brasileiro. Isso ele conseguiu; se não para os seu conteporâneos, mas para os pósteros que cada vez mais reconhecem sua originalidade e modernidade.

A obra romanesca de Alencar costuma ser dividida pela crítica em quatro áreas: a indianista, a histórica e a urbana.

a) os romances indianistas apresentam três fases do índio: civilizado e dominado pelos portugueses na luta pela conquista da terra - O Guarani; os primeiros contatos dos brancos com os nativos na civilização do Ceará - Iracema; e o índio em seu estado natural, sem interferência do branco, longe da civilização, em época indeterminada - Ubirajara.

b) Os romances históricos evocam nosso passado com As minas de prata, o primeiro romance histórico de nossa literatura; A guerra dos mascates, narrativa da famosa revolução de 1710, em Pernambuco, e, ainda através das crônicas dos tempos coloniais e das novelas O garatuja e Alfarrábios.

c) Os romances regionalistas focalizam as paisagens e tipos humanos do norte e do sul do país, através de O sertanejo e O gaúcho, reproduzindo costumes típicos e folclóricos dessas regiões.

O tronco do ipê e Til, considerados romances sociais, patenteiam também a corrente regionalista de Alencar. Com Til, retrata os costumes dos ambientes paulistas nas grandes épocas do café. Com O tronco do ipê, apresenta o panorama das fazendas do Rio de Janeiro.

d) Os romances urbanos caracterizam a corte e o meio social carioca do Segundo Reinado. São romances de amor, que espelham a mentalidade romântica da época, capaz dos maiores sacrifícios para solidificar esse sentimento. Neles, o autor cria diversos perfis de mulheres, vivendo no trato íntimo da sociedade, mas sem grande penetração psicológica. Exemplificam esse gênero: Cinco minutos, A viuvinha, A pata da gazela, Sonhos d'ouro, Lucíola, Diva, Senhora e Encarnação.

Além de romancista, Alencar foi teatrólogo, merecendo destaque as comédias Verso e reverso, O demônio familiar, As asas de um anjo, Noite de João além dos dramas Mãe e O jesuíta.

Como poeta, deixa-nos o poema indianista Os filhos de Tupã.

Iracema, romance de 1865, chamado por Machado de Assis de poema em prosa, chama a atenção, desde o início, pelo trabalho com a linguagem.

Em capítulos curtos, sobrepõem-se imagens sobre imagens, comparações sobre comparações, cada uma mais bela, original e adequada, para sugerir o nascimento de um novo mundo.

Como veremos a seguir, através do resumo do enredo, o livro de Alencar desenvolve a lenda da fundação do Ceará (Estado em que nasceu Alencar) e a história dos amores de Iracema e Martim.

RESUMO DO ENREDO

"Numa atmosfera lendária, de exótica e delicada poesia, desenrola-se a história triste dos amores de Martim, primeiro colonizador português do Ceará, e Iracema, jovem e bela índia tabajara, filha de Araquém, pajé da tribo. Martim saíra à caça com seu amigo Poti, guerreiro pitiguara, e perdera-se do companheiro, indo ter aos campos dos inimigos tabajaras. Encontra Iracema, que o acolhe na cabana de Araquém, enquanto volta Caubi , seu irmão, que reconduziria o guerreiro branco, são e salvo às terras pitiguaras. Iracema, porém, apaixona-se por Martim, traindo o segredo de jurema, que guardava como virgem de Tupã. Acompanha o esposo, deixando na sua tribo um ambiente de revolta, acirrado pelos ciúmes de Irapuã, destemido chefe tabajara. Desencadeia-se a guerra da vingança, e os tabajaras são derrotados; Iracema confunde as venturas do amor com as amargas tristezas que despertam os campos juncados de cadáveres de seus irmãos. Ao remorso e saudade outra dor se lhe acrescenta; o arrefecimento do amor de Martim que, para amenizar a nostalgia da pátria distante, ausenta-se em longas e demoradas jornadas. Num dos seus regressos, encontra Iracema às portas da morte, - exausta pelo esforço que fizera para alimentar o filhinho recém-nascido, a quem dera o nome de Moacir, literalmente na sua língua, filho da dor. Martim enterra o corpo da esposa e parte, levando o filho e a saudade da fiel companheira.

(Extraído do Pequeno Dicionário da Literatura Brasileira - Ed. Culturix)

ORGANIZAÇÃO

1) O gênero literário predominante na obra é o épico, caracterizado pela presença de um narrador, pela observação e pela visão do mundo exterior. Embora predomine o épico, Iracema apresenta também aspectos líricos, principalmente se se levar em conta a poesia de sua linguagem, marcada pelo ritmo e sonoridade, além da configuração altamente subjetiva, revelada sobretudo pelo tom metafórico que perpassa o romance.

2) A técnica narrativa utilizada é a terceira pessoa.O narrador é onipresente e onisciente: sabe tudo que se passa ao seu redor. Focalizando uma época que revela o início da colonização do Brasil, a visão em terceira pessoa, é sem dúvida, a mais adequada e coerente.

3) A linguagem é extremamente poética, o que nos faz imaginar as belezas, os deslumbres da mata virgem, da natureza. Além disso, durante todo o enredo, há a utilização de símiles que nos fazem visualizar , com maior precisão, o que o autor quer passar para o leitor.

4) Seguindo critérios mais ou menos subjetivos, podemos dividir o romance em três partes:

a) A primeira parte mostra o encontro de Iracema e Martim e o incontrolável amor que surge entre eles;

b) A Segunda conta a fuga de Iracema que abandona o lar, a família e os irmãos para viver com Martim, numa cabana distante, no litoral, vivendo aí a sua gravidez e uma profunda saudade e angústia;

c) A terceira relata o sofrimento de Iracema ao perceber que Martim não é feliz. Sofre calada até que a morte a chama.

5) Sem dúvida, a obra de José de Alencar se enquadra no estilo de época romântico em que se destaca o indianismo, que foi uma das formas mais significativas assumidas pelo nacionalismo romântico.

Podemos citar várias características do Romantismo, presentes na obra:

a) O culto e a exaltação da natureza;

b) A idealização de índio como um ser nobre, valoroso, fiel e cavalheiro;

c) Sublimação do amor e idealização da mulher;

d) Sentimentalismo amoroso configurado na temática amor e morte;

e) A concepção amorosa a partir dos sentimentos puros e castos.

6) Composto de trinta e três capítulos curtos, Iracema vem precedido de um prólogo e encerrado por uma "carta ao Dr. Jaguaribe", em que Alencar expõe os motivos patrióticos e sentimentais que o levaram a escrever o livro.

7) A ação do romance se desenvolve no Ceará, nos primórdios do século XVII, e se apóia em fatos históricos verdadeiros. Martim, o protagonista masculino da história, é Martim Soares Moreno, que deixou o seu nome inscrito na colonização do Brasil. Sua amizade a Poti e Jacaúna, chefe dos índios do litoral, foi decisiva para a conquista da região, que viria a ser o Ceará.

PERSONAGENS

1) Iracema - a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asas da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era mais doce que seu sorriso, nem a baunilha rescendia no bosque como se hálito perfumado. Era mais rápida que a ema selvagem. Índia da tribo tabajara, filha de Araquém. Demonstrou muita coragem e sensibilidade. Revelou-se amiga, companheira, amorosa, amante, submissa e confiante. Renunciou tudo pelo amor de Martim. Representa bem o elemento indígena que se casa com o branco para formar uma nova raça: a brasileira.

2) Martim - o seu nome na língua indígena significa "filho de guerreiro". Era português e veio ao Brasil numa expedição, quando fez amizade com Jacaúna, chefe dos pitiguaras, dos quais recebeu o nome de Coatiabo - "guerreiro pintado". Tinha nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas, os cabelos do sol. Corajoso, valente, audaz, representa bem o branco conquistador, que se impôs aos índios na colonização do Brasil.

3) Araquém - pai de Iracema, pajé da tribo tabajara, tinha os olhos cavos e rugas profundas, compridos e raros cabelos brancos. Era um grande conselheiro, tinha o dom da sabedoria e da liderança.

4) Andira - irmão do pajé Araquém. Provou ser um grande e impetuoso guerreiro. É o velho herói. É feroz Andira que bebeu mais sangue na guerra que beberam já tantos guerreiros. Ele viu muitos combates na vida, escapelou muitos pitiguaras. Nunca temeu o inimigo. Seu nome significa "morcego".

5) Caubi - irmão de Iracema. Tinha o ouvido sutil, era capaz de pressentir a boicininga (cascavel) entre rumores da mata; tinha o olhar que melhor vê nas trevas. Era bom caçador, corajoso, guerreiro destemido que não guardou rancor da irmã, indo visitá-la na sua choupana distante.

6) Irapuã - chefe dos tabajaras, manhoso, traiçoeiro, ciumento, corajoso, valente, um grande guerreiro. Estava sempre lembrando a Iracema sobre a necessidade de se conservar virgem, pois ela guardava o segredo de Jurema. O seu nome significa "mel redondo". De certa forma, Irapuã representa, com sua oposição, um esforço no sentimento de guardar e preservar as tradições indígenas.

7) Poti - guerreiro destemido, irmão do chefe dos pitiguaras. Prudente, valente, audaz, livre, ligeiro e muito vivo. Tinha uma grande amizade por Martim a quem considerava irmão e de quem era aliado.

8) Jacaúna - o grande Jacaúna, o chefe dos pitiguaras, senhor das praias do mar. O seu colar de guerra, com os dentes dos inimigos vencidos, era um brasão e troféu de valentia. Era corajoso, exímio guerreiro, forte. Seu nome tem o significado de "jacarandá-preto".

9) Batuireté - avô de Poti, maior chefe. Tinha a cabeça nua de cabelos, cheio de rugas, Morava numa cabana na Serra do Maranguab (sabedor de guerra). Batuireté significa "valente nadador".

10) Jatobá - pai de Poti. Conduziu os pitiguaras a muitas vitórias. Robusto e valente.

11) Moacir - o nascido do sofrimento, o "filho da dor". É, na alegoria de Alencar, o primeiro brasileiro - fruto da união do branco com o índio. Mal nasceu, já exilava da terra que o gerou. Estaria nisso a predestinação errante da gente nordestina?

LINGUAGEM

1)Embora seja ainda de linha acadêmica, a linguagem de Iracema vem perpassada de um tom bem brasileiro; não só o farto vocabulário indígena o exemplifica, como também muitas construções sintáticas que revelam bem o jeito brasileiro de usar a língua portuguesa.

2) Destaca-se também, na linguagem de Iracema, o gosto por comparações com elementos do mundo focalizado pelo autor e que se casa bem com a postura selvagem do índio, que vive integrado na natureza. Esse recurso é freqüente livro, e não são poucas as passagens como esta: "O guerreiro pitiguara é a ema que voa sobre a terra".

3) O estilo de Alencar sempre primou pela exuberância do descritivismo, que se revela pela adjetivação fértil e colorida. Dono de uma imaginação prodigiosa, Alencar sabe rechear um texto de adjetivos e matizes que dão impressão de um quadro.

4) Dado o caráter poético da linguagem utilizada, Iracema é um romance quase poesia. A linguagem chega a aparecer ingênua, exatamente porque o autor quer captar o mundo selvagem do índio como ele é: a sua maneira de pensar e exprimir, as suas imagens poéticas, a sua visão das coisas. Em suma, em Iracema, Alencar procura adequar a linguagem ao mundo

focalizado.

5) Chamado de "poema em prosa" pela crítica, dado o ritmo e cadência de Iracema, mais de um autor procurou demonstrar o caráter de poesia do livro. Realmente, sobretudo a belíssima abertura do livro é marcada por um ritmo cadenciado, podendo as palavras ser distribuídas em versos de um poema tradicional:

Verdes mares bravios (6 sílabas)

de minha terra natal, (7)

onde canta a jandaia(6)

nas frondes da carnaúba; (7)

Verdes mares que brilhais (7)

como líquida esmeralda (7)

aos rios do sol nascente, (7)

perlongando as alvas praias (7)

ensombradas de coqueiros; (7)

Serenai, verdes mares, (6)

e alisai docemente (6)

a vaga impetuosa, (6)

para que o barco aventureiro (8)

manso resvale à flor das águas.” (8)

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

1) Um dos propósitos de Alencar, ao conceber Iracema, foi, sem dúvida, mostrar como se deu a formação do Ceará, seu Estado natal - a terra onde "canta a jandaia", como significa "Ceará" ao pé da letra, e explica o autor: "Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, calmar, e ara - pequena arara ou periquito".

Como se viu pelo enredo, Moacir, filho do cruzamento do branco (Martim) com o índio (Iracema), é o "primeiro cearense". A conquista da terra pelo branco, ocorrida nos primórdios do século XVII, deu-se através de lutas sangrentas em que os portugueses contaram com a valiosa ajuda dos índios pitiguaras, que habitavam o litoral.

2) Ao retratar o mundo selvagem e primitivo dos índios, Alencar reveste a sua prosa de um tom poético e ingênuo, , tentando, assim dar uma visão da realidade focalizada a partir da ótica do índio: as imagens, as comparações, a forma de exprimir mostram o índio integrado no seu “habitat” natural e como que sugerem o nascimento de um mundo novo; penetrando nas entranhas da terra virgem e selvagem, o branco conquistador iria fazer brotar uma nova raça.

3) Conforme vem explicado em “Literatura comentada”(“Abril Educação”), “todas as imagens de que Alencar se utiliza para se referir a Iracema são retiradas da natureza local, identificando Iracema claramente com essa natureza, fazendo-a símbolo do Brasil e, por extensão, da América. Um crítico já observou que Iracema é anagrama da América, isto é, Iracema tem exatamente as mesmas letras de América, só que em outra ordem. Assim, simbolicamente, a morte da índia, no final da estória, pode representar a aniquilação da cultura nativa pela invasora que conquista domina a terra”.

4) Apresentando o índio integrado de forma harmoniosa à natureza, como é comum na visão romântica, Alencar, obviamente filtrando a realidade pela ótica do português, não mostra claramente a ação devastadora do conquistador branco. Conforme observa Zenir Campos Reis, da USP, “Martim, o guerreiro do mar, vai pertubar a harmonia do índio no seu habitat natural. Seus silêncios encobriam a palavra domínio. Para ele, a adesão à terra não podia ser senão momentânea. Seu objetivo era subjugá-la, pela sedução ou pela violência. Ele era o primeiro agente de um processo de corrosão lento e insinuante, violento às vezes, que se chamou, sucessivamente, catequese, progresso, desenvolvimento.”

5) De sentido igualmente simbólico se reveste a oposição de Irapuã ao hóspede branco, protegido por Araquém (Martim). Ao opor-se a ele, o guerreiro tabajara não quer defender o amor que nutria pela virgem dos lábios de mel; sua resistência é, antes, em defesa da preservação da cultura indígena e do “segredo de Jurema”. Do qual Iracema era guardiã. Violada a sua virgindade pelo invasor branco, fatalmente as tribos seriam dizimadas e aniquiladas.

Assim, embora possa parecer o “vilão da estória”, opondo-se a Martim, o

gesto de Irapuã reveste-se de nobreza e grandeza, pois outro lado, a conduta de Iracema (e também Poti), que se aliam ao conquistador branco, é passível de condenação. Como se viu, Iracema morre, desfigurada pela dor e pelo estrangulamento cultural; Poti, descaracterizado e tornado cristão, recebe o batismo de gente civilizada e passa a se chamar Antônio Felipe Camarão...


FONTE:  http://oportuguesdoantonio.blogspot.com/
Iracema (detalhe), retratada por J.M. Medeiros em óleo de 1881

MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS (Manuel Antônio de Almeida )



INTRODUÇÃO

Nascido no Rio de Janeiro em 1831, Manuel Antônio de Almeida teve existência meteórica, pois morre tragicamente, em 1861, com apenas 30 anos de idade, vitimado por um naufrágio na costa fluminense, ao viajar num vapor com destino a Canipós, no Estado do Rio.

Memórias de um Sargento de Milícias, sua única obra, foi publicado inicialmente, sob anonimato, na forma de folhetins, no suplemento dominical “A Pacotilha” do “Corréio Mercantil”, em 1852, jornal carioca onde trabalhava. Pouco tempo depois, a novela saia publicada na forma de livro, em dois volumes, respectivamente em 1854 e 1855, assinada com o pseudônimo “Um Brasileiro”.

Novela de costumes em que se sente a influência do teatro de Martins Pena com suas comédias costumbristas, o livro de Manuel Antônio inova pela linguagem realista e galhofeira, que não correspondia muito ao gosto da época, motivo por que não teve muita aceitação e parecia mesmo que estava fadado ao naufrágio, como, alias, aconteceu com o autor. o tempo, entretanto, encarregou-se de valorizar a obra, e, se não chegou a explodir, continua viva pelos anos afora e apreciada pelos cultores de unia boa leitura, a ponto de ser indicado para o vestibular da UFMG, já pela segunda vez.

A NOVELA COMO ESPÉCIE LITERÁRIA

Como espécie literária, a novela não se distingue do romance, evidentemente, pelo critério quantitativo, mas pelo essencial e estrutural.

Tradicionalmente, a novela é uma modalidade literária que se caracteriza pela linearidade dos caracteres e acontecimentos, pela sucessividade episódica e pelo gosto das peripécias.

Diferente do romance, a novela não tem a complexidade dessa espécie literária, pois não se detém na análise minuciosa e detalhada dos fatos e personagens. A novela condensa os elementos do romance: os diálogos são rápidos e a narrativa é direta, sem muitas divagações. Nesse sentido, muita coisa que chamamos de romance não passa de novela.

E interessante observar, como revela o critico Massaud Moisés, em Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, que “as primeiras manifestações de nossa prosa de ficção seriam novelas, ou, pelo menos, estariam contagiadas por sua estrutura fundamental, visto ainda o romance estar apenas aparecendo, na Inglaterra.

Tão forte era o influxo e a tradição da novela que nossa ficção romântica não conseguiu desprender-se de todo: as pecas que hoje classificamos de romance, segundo critérios muito discutíveis, obedecem a um sistema de composição próprio da novela. Basta lembrar as narrativas de Alencar, notadamente as históricas, indianistas e regionalistas de Bernardo Guimarães, de Joaquim Manuel de Macedo, de Franklin Távora, ate culminar nas Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, uma acabada novela de cunho picaresco. Alterou-se a fisionomia social, mudaram os costumes, os tempos são outros, mas a estrutura guarda incontestável sujeição à da novela.”

RESUMO DO LIVRO

Em síntese, o enredo de Memórias de um Sargento de Milícias, “tecido, como observa Antônio Soares Amora no já citado Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, com muitas peripécias e intrigas, que não deixam, ainda hoje, de entreter e prender o leitor, pode resumir-se na história da vida de Leonardo, filho de dois imigrantes portugueses, a sabia Maria da Hortaliça e Leonardo, “algibebe” em Lisboa e depois meirinho no Rio do tempo do Rei D. João VI: nascimento do “herói”, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho abandonado mas sempre salvo de dificuldades pelos padrinhos (a parteira e um barbeiro); sua juventude de valdevinos; seus amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal, chefe de polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a proteção da madrinha, tudo tem “conclusão feliz”: promoção a sargento de milícias e casamento com Luisinha”.

Para que se tenha uma idéia mais precisa do conteúdo do livro no que se refere ao enredo, vamos transcrever aqui o resumo elaborado pelo Prof. José Rodrigues Gameiro em estudo sobre Memórias de um Sargento de Milícias, no qual o presente trabalho está apoiado.

A obra é dividida em duas partes: a primeira com vinte e três capítulos e a segunda com vinte e cinco.

PRIMEIRA PARTE

I - Origem, Nascimento e Batizado. A novela se abre com a frase “Era no tempo do rei”, que situa a estória no século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora com uma patrícia, Maria da Hortaliça, sabia portuguesa. Daí resultou o casamento e... “sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, espemeador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem deixar o peito”.

Esse menino é o Leonardo, futuro “sargento de milícias” e o “herói” do livro.

O capitulo termina com o batizado do garoto, tendo a “Comadre” por madrinha e o. barbeiro ou “Compadre” por padrinho, personagens importantes da estória.

II - Primeiros Infortúnios. Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o traía com vários homens; dá-lhe uma surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal.

O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega dele.

III - Despedida às Travessuras. O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, ficou caído pelo garoto, concentrando todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas travessuras.

Depois de muito pensar, resolveu que ele seria padre.

IV - Fortuna. Leonardo-Pataca apaixonou-se por uma cigana que também o abandona. Para atraí-la novamente, recorre a feitiçarias de um caboclo velho e imundo que morava num mangue. Na última prova, à noite, quando estava nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal...

V - O Vidigal. Este capítulo descreve o Major - “um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão; tinha o olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada”. Era a polícia e a justiça da época, na cidade.

Depois de obrigar todos que se achavam na casa do caboclo a dançar, até não agüentarem mais, chicoteia-os e leva Leonardo para a “Casa da Guarda”, espécie de depósito de presos. Depois de visto pelos curiosos, é transferido para a cadeia.

VI - Primeira Noite Fora de Casa. Leonardo filho vai acompanhar uma “Via Sacra” de rua, muito comum naquela época, e junta-se a outros moleques. Acabam passando a noite num acampamento de ciganos. Descreve-se a festa e a dança do fado. De manhã, Leonardo pede para voltar para casa.

VII - A Comadre. Era a madrinha de Leonardo - “uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade e benzia de quebranto...”. Gostava de ir à missa e ouvir o cochicho das beatas. Viu a vizinha do barbeiro e logo quis saber do que é que ela falava.

VIII - O Pátio dos Bichos. Assim era chamada a sala onde ficavam os velhos oficiais a serviço de El-Rei, esperando qualquer ordem.

No meio deles, estava um Tenente-Coronel a quem a Comadre vai pedir para interceder junto a El-Rei para soltar Leonardo-Pataca.

IX - O Arranjei-me do Compadre. O autor conta-nos como o barbeiro conseguiu arranjar-se na vida, apesar de sua profissão pouco rentável: improvisou-se de médico, ou melhor, “sangrador”, a bordo de um navio que vinha para o Brasil. O Capitão moribundo, entregou-lhe todas as economias para que as levasse à sua filha (do Capitão). Quando chegou a terra, ficou com tudo e nunca procurou a herdeira.

X - Explicações. O Tenente-Coronel interessara-se pelo Leonardo porque, de certa forma, ele o havia livrado de certa obrigação: seu filho, um desmiolado, é que havia infelicitado a tal de Mariazinha, a Maria da Hortaliça, ex-mulher de Leonardo. Por isso empenha-se e, por meio de um outro amigo, consegue que El-Rei solte Leonardo.

XI - Progresso e Atraso. Este capítulo é dedicado às dificuldades que o padrinho encontra para ensinar as primeiras letras ao afilhado e às implicâncias da vizinha. A seguir vem um bate-boca entre os dois, com o menino arremedando a velha, e com grande satisfação para o barbeiro que se julga “vingado”.

XII - Entrada para a Escola. É uma descrição das escolas da época. Aborda a importância da palmatória e nos conta como o novo e endiabrado aluno leva bolos de manhã e à tarde.

XIII - Mudança de Vida. Depois de muito esforço e paciência, o padrinho convence ao afilhado de voltar para a escola, mas ele foge habitualmente e faz amizade com o coroinha da Igreja. Pede ao padrinho, e este acede, para também ser coroinha. Pensava assim o barbeiro que seria meio caminho andado para se tomar padre. Como coroinha, aproveitou-se dessa função para jogar fumaça de incenso na cara da vizinha e derramar-lhe cera na mantilha. Vingava-se assim dela.

XIV - Nova Vingança e Seu Resultado. Neste capitulo, aparece o “Padre Mestre de Cerimônias”, que, embora de um exterior austero, mantinha relações com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo-Pataca e fora causa de sua função. No dia da festa da Igreja da Sé, o Mestre de Cerimônia prepara-se orgulhosamente para proferir seu sermão.

O menino Leonardo, encarregado de avisar-lhe a hora do sermão, informa-lhe que será às 10 horas, quando na verdade devia ser às 9.

Um capuchinho italiano, para cooperar, e porque o pregador não chegava, começou a homilia.

Depois de algum tempo, chega o Mestre, furioso, e corre para o púlpito também. Após um bate-papo com o religioso, toma o lugar dele e continua o sermão. O resultado foi o sacristão ser despedido.

XV - Estralada. Leonardo-Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é que lhe tirara a cigana e que este iria ao aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major Vidigal, que prende todo mundo, inclusive o Padre, e os leva para a “Casa da Guarda”.

XVI - Sucesso do Plano. O Mestre de Cerimônias, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana, voltando para Leonardo, que recebe as censuras da Comadre.

XVII - D. Maria. O capitulo é dedicado a D. Maria, “uma mulher velha, muito gorda; devia ter sido muito formosa no seu tempo, porém dessa formosura só lhe restaram o rosado das faces e a alvura dos dentes...”; “...tinha bom coração e era benfazeja, devota e amiga dos pobres, porém, em compensação destas virtudes, tinha um dos piores vícios daquele tempo e daqueles costumes; era a mania das demandas...”

Em sua casa, estavam reunidos, por causa da “Procissão dos Ourives”, o Compadre e o menino, a Comadre e a vizinha O assunto gira em tomo das peripécias do garoto, que aproveita a ocasião e pisa a saia da vizinha, rasgando-a.

A seguir, todos discutem o futuro do rapaz. Depois de cada um dar o palpite, D. Maria sugere que ele seja “Procurador de Causas...”

XVIII - Amores. Leonardo não correspondeu a nenhum dos desejos do padrinho: não foi para Coimbra, não se fez padre, não trabalhou em cartório algum e não foi para a Conceição. Tomou-se um vadio. Um vadio comum, que simplesmente não pensa em nada, vai-se deixando levar pelos acontecimentos sem tirar proveito pessoal de nenhum.

Enquanto isso, Leonardo-Pataca acaba casando-se com a sobrinha da Comadre.

Por sua vez, D. Maria ganha a demanda para ser tutora de uma sobrinha órfã e começa a receber a visita freqüente do Compadre com o afilhado. A sobrinha de D. Maria era já bem desenvolvida, mas muito desajeitada: tinha perdido a graça da menina e não adquirira ainda a beleza da moça.

Leonardo saiu rindo dela, mas não a esqueceu jamais.

XIX - Domingos do Espírito Santo. Na “Festa do Divino”, o Compadre vai com D. Maria e Leonardo ao Campo para ver o fogo. Leonardo começa a apaixonar-se pela sobrinha de D. Maria.

XX - O Fogo no Campo. Terminada a “Festa do Divino” com foguetes e fogos de artifício, Leonardo e Luisinha, sobrinha de D. Maria, tomam-se íntimos.

XXI - Contrariedades. Luisinha voltou ao seu silêncio interior e um novo personagem aparece: é o José Manuel. Muito experiente na vida, passa a cortejar D. Maria, mas interessado na sobrinha e principalmente na herança dela.

XXII - Aliança. O Padrinho e a Comadre aliam-se num só plano contra José Manuel.

XXIII - Declaração. Numa cena ridícula, todo desajeitado, depois de muitas tentativas e retrocessos, Leonardo consegue declarar-se a Luisinha.

SEGUNDA PARTE

I - A Comadre em Exercício. Aqui, o autor narra o nascimento da filha de Leonardo-Pataca e de Chiquinha. A Comadre faz o parto, e o autor aproveita para fazer interessante descrição dos costumes da época.

II - Trama. A Comadre, numa aliança com o sobrinho e o Compadre contra José Manuel, inventa para D. Maria que este fora o raptor da moça na porta da Igreja (um caso policial da época).

III - Derrota. José Manuel põe-se em campo para saber quem é seu adversário e quem tinha feito a intriga perante D. Maria.

IV - O Mestre de Reza. Os mestres de reza da época eram geralmente cegos que ensinavam às crianças as primeiras rezas e o catecismo. Faziam-no á base da palmatória. O Mestre de Reza encarregou-se de descobrir, para José Manuel, quem era o intrigante.

V - Transtorno. O Compadre morre e deixa Leonardo como seu herdeiro. Segue-se a cerimônia de luto e o enterro. Leonardo volta para a casa do pai. A Comadre, que também mora com a filha, faz agora as vezes do Compadre. Leonardo não se entende com a madrasta, Chiquinha.

VI - Pior Transtorno. Leonardo, ao voltar da casa de Luisinha, aborrecido por não a ter visto, briga com Chiquinha. O pai intervém de espada, e Leonardo foge de casa.

A Comadre censura os dois e vai procurar o afilhado, enquanto os vizinhos comentam as ocorrências...

VII - Remédio dos Males. Ao fugir de casa, Leonardo encontra o antigo colega, o Sacristão da Sé, num pique-nique em companhia de moças e rapazes, o qual o convida para ficar; ele aceita e enche-se de amores por Vidinha, cantora de modinhas, que tocava viola.

“Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de altura regular. ombros largos, peito alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes alvíssimos. a fala era um pouco descansada, doce e afinada.”

VIII - Novos Amores. Este capitulo faz a descrição da nova família que acolhe Leonardo. Era composta de duas irmãs viúvas, uma com três filhos e a outra com três filhas. Passavam dos quarenta anos e eram muito gordas e parecidas. Os três filhos da primeira tinham mais de 20 anos e eram empregados no trem. As moças, mais ou menos da idade dos rapazes, eram bonitas, cada uma a seu modo. Uma delas era Vidinha.

IX - José Manuel Triunfa. A Comadre procurou Leonardo por toda parte e, não o encontrando, foi à casa de D. Maria, que a repreendeu por “ter cometido um grande...”

Ela logo entendeu e percebeu que José Manuel estava regenerado aos olhos de D. Maria; e também chegou à conclusão de que o cego Mestre de Reza é que tinha desvendado tudo.

A Comadre desculpa-se e toma conhecimento do interesse de José Manuel por Luisinha.

X - O Agregado. Leonardo fica agregado na nova família, como era costume naquela época. Dois irmãos pretendentes a Vidinha unem-se contra Leonardo, que estava gostando dela.

Vidinha e as Velhas tomam o partido de Leonardo. Houve briga e confusões.

Leonardo decidiu sair da casa, mas as velhas não consentem. Chega a Comadre.

XI - Malsinação. Depois de conferências entre as velhas e a Comadre, Leonardo fica, para alegria de Vidinha.

Os primos vencidos, combinam um modo de vingar-se

Fizeram uma patuscada semelhante à que haviam feito quando conheceram Leonardo e avisaram o Major Vidigal... Este chega no meio da farra e prende Leonardo.

XII - Triunfo Completo de José Manuel. José Manuel ganha uma causa forense para D. Maria e, com isso, consegue o consentimento para casar-se com Luisinha, que Leonardo já havia esquecido; ela aceita com indiferença o novo pretendente. Há festa e casamento em carruagens - “destroços da arca de Noé”.

XIII - Escápula. A caminho da prisão, Leonardo procura um jeito de fugir. O Major adivinha o pensamento do moço e presta atenção a todos os seus movimentos. Entretanto, na hora em que surgiu um pequeno tumulto na rua, e o Major desviou a atenção do prisioneiro, Leonardo escapuliu e foi para a casa de Vidinha.

O Major, pasmado com o acontecido, procura-o por toda parte, com os granadeiros.

XIV - O Vidigal Desapontado. Vidigal, com o orgulho ferido, sobretudo devido às zombarias do povo, jurou vingar-se. A Comadre, entretanto, que não sabia da fuga, procura o Major e, ajoelhada a seus pés, chora e suplica pelo afilhado.

Os granadeiros riam dela cada vez que gritava - solte, solte!

XV - Caldo Entornado. Tendo sabido da fuga de Leonardo, a Comadre dirigiu-se à casa das velhas e pregou um sermão ao afilhado, concitando-o a que abandonasse a vadiagem e procurasse um emprego. Ela mesma consegue para ele uma ocupação na “Ucharia Real”.

O Major não gostou disso porque assim não poderia prendê-la Ucharia, morava um tal de Toma-Largura, assim chamado pela sua estampa grotesca, em companhia de uma mulher bonita Leonardo começa a demorar cada vez mais no trabalho e a esquecer Vidinha.

Um dia, Toma-Largura surpreendeu-o tomando sopa com sua mulher e corre atrás dele escorraçando-o de casa. No dia seguinte, Leonardo é despedido do emprego.

XVI - Ciúmes. Vidinha, extremamente ciumenta, quando soube do acontecido, foi tomar satisfação com a mulher do Toma-Largura, depois de gritar, chorar e ameaçar.

Leonardo vai atrás e se encontra com o Major Vidigal, que o prende.

XVII - Fogo de Palha. Vidinha começa a xingar Toma-Largura e a mulher. Como não houvesse reação dos dois, ficou desconcertada, tomou a mantilha e saiu. Toma-Largura, encantado com Vidinha, resolveu conquistar nem que fosse uma diminuta parcela de seu amor, porque assim se vingaria de Leonardo e satisfaria seu desejo de conquista amorosa. Desse modo, acompanhou a moça para saber onde ela morava.

XVIII - Represálias. Quando Vidinha chegou a casa, deram também por falta de Leonardo. Mandam-no procurar por toda parte e nada. Suspeitam do Major, mas não o encontram na Casa da Guarda.

A Comadre, avisada, põe-se em campo à procura do afilhado, mas também não o encontra. A família que hospedava Leonardo começou a odiá-lo, julgando que ele se havia ocultado propositalmente.

Enquanto isso, o Toma-Largura começa a rodear a casa de Vidinha para cumprimentá-la. Mal imagina ele o que lhes estão preparando...

Recebido em casa, resolvem comemorar a aproximação com uma patuscada nos “Cajueiros”, no mesmo lugar onde Leonardo conhecera a família. E claro que o Toma-Largura lá estava. E como gosta de beber, acabou provocando uma grande confusão na festa. Inesperadamente chega o Vidigal com um grupo de granadeiros e dá ordem a um deles para levar o Toma-Largura preso. Este granadeiro era Leonardo.

XIX - O Granadeiro. Depois de preso, o Toma-Largura foi abandonado na calçada porque estava completamente bêbado e sem condições de andar. A seguir, o autor conta como Leonardo fora transformado em granadeiro: depois de preso foi escondido por Vidigal e levado para sentar praça no Regimento Novo. A seguir, foi requisitado para ajudar o Major nas tarefas policiais. Era a maneira de o Vidigal se vingar.

Leonardo mostrou-se bom de serviço, mas participou de uma “diabrura” quando, em missão, representou Vidigal, defunto, numa cena para ridicularizá-lo.

XX - Novas Diabruras. O Major decide prender Teotônio, um grande animador de festas, onde tocava e cantava modinhas e mostrava outras habilidades, como banqueiro de jogo.

Teotônio, na festa de batizado do filho de Leonardo-Pataca com a filha da Comadre, fez caretas e mímicas imitando o Major, que estava presente, para risada geral do público. O Major sai correndo e incumbe Leonardo de prender Teotônio.

Leonardo, muito bem recebido na casa, revela a missão de que estava incumbido e, de comum acordo com Teotônio, concebe um plano para lograr o Major.

XXI - Descoberta. Leonardo foi cumprimentado por um amigo indiscreto, na frente do Major, pela façanha, e este o prende imediatamente.

Enquanto isso, o José Manuel, depois da lua-de-mel com Luisinha, começou a mostrar que não era lá grande coisa. Isso fez com que D. Maria se aliasse à Comadre para soltar Leonardo.

XXII - Empenhos. Depois de uma tentativa frustrada junto ao Major, a Comadre pede os préstimos de D. Maria que, por sua vez, recorre a Maria Regalada. Chamava-se assim por ser muito alegre, ria-se de tudo. Morava na Prainha, e, quando mais nova, era uma “mocetona de truz”. Já era conhecida do Major, com quem há tempos tivera encontros amorosos.

XXIII - As Três em Comissâo. As três vão ao Major pedir-lhe para soltar Leonardo. Ele mostra-se inicialmente inflexível como o cargo e o lugar exigiam. Como as três rompessem em prantos, ele não se conteve e chorou também, feito um bobo. Depois recompôs-se e ficou novamente durão.

Entretanto, Maria Regalada cochichou-lhe qualquer coisa ao ouvido, e ele logo promete não somente soltar Leonardo como alguma coisa mais.

XXIV - A Morte é Juiz. José Manuel, com a ação que lhe moveu a sogra, tem um ataque de apoplexia e morre.

Leonardo, libertado, chega à noitinha e a primeira coisa que procura é Luisinha. Tinha sido promovido a sargento. A admiração um pelo outro é recíproca.

XXV - Conclusão Feliz. Depois do luto, Leonardo e Luisinha recomeçam o namoro. Os dois querem casar-se, mas há uma dificuldade: Leonardo era soldado, e soldado não podia casar. Levaram o problema ao Major, que vivia com Maria Regalada. Esse fora o preço pela soltura do Leonardo.

Por influência da mulher, o Vidigal logo arranjou um jeito: dar baixa em Leonardo como tropa de linha e nomeá-lo “Sargento de Milícias”.

Leonardo pai entrega ao filho a herança que lhe deixara o padrinho barbeiro. Leonardo e Luisinha casam-se. E agora aparece “o reverso da medalha”:

“Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto .final.”

ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL

1) A novela está dividida em duas partes bem distintas: a primeira com 23 capítulos e a segunda com 25.

2) Os episódios são quase autônomos, só ligados pela presença de Leonardo, dando à obra uma estrutura mais de novela que de romance, como já ficou observado.

3) O leitor acompanha o crescimento do herói com sua infância rica em travessuras, a adolescência com as primeiras ilusões amorosas e aventuras, e o adulto, que, com o senso de responsabilidade, que essa idade exige, vai-se enquadrando na sociedade, o que culmina com o casamento.

4) Para Mário de Andrade, trata-se de uma novela picaresca de influência hispânica.

Manuel Bandeira, em uma de suas crônicas, conta que o grande escritor espanhol Francisco Ayala leu a novela e, de tão encantado, traduziu-a para o espanhol e escreveu no prefácio a palavra que melhor lhe pareceu qualificá-la: obra-prima, acrescentando que As Memórias se inserem na linhagem dos romances picarescos. E olhe que Ayala é da terra da ficção picaresca. Ninguém, pois, melhor qualificado para conferir a láurea.

Não obstante, o nosso pícaro tem características próprias, que o afastam do modelo espanhol, como ressalta o critico Antônio Cândido, m “Dialética da Malandragem”: “Digamos então que Leonardo não é um pícaro saído da tradição espanhola, mas sim o primeiro grande malandro que entra na novelística brasileira, vindo de uma tradição folclórica e correspondendo, mais do que se costuma dizer, a certa atmosfera cómica e popularesca de seu tempo, no Brasil.

5) Freqüentemente identificadas por suas profissões e caracteres fisicos, as personagens se enquadram na categoria de planas, não apresentando, portanto, traços psicológicos densos e profundos. O protagonista da estória (Leonardo), que foge completamente aos padrões de herói romântico, é igualmente uma personagem plana, sem traços psicológicos profundos que marquem a sua personalidade.

Assim, pois, predomina sempre o sentido visual e não a percepção psicológica. Os personagens distinguem-se pelo físico de absoluta nitidez, não falam, e algumas figuras ficam mudas quase todo o tempo, como acontece com Luisinha e o próprio Leonardo.

6) Na construção da obra, muitas vezes há falhas que se explicam devido ao fato de o livro ter sido escrito em meio à algazarra de uma república de estudantes, como testemunha o biógrafo de Manuel Antônio, Marques Rebelo:

a) A amante de Leonardo pai, na primeira parte, figura como sobrinha da parteira; na segunda, aparece como filha desta.

b) Por outro lado, os primos de Vidinha inicialmente eram três e no final só aparecem dois.

c) A moça cujo rapto foi atribuído a José Manuel aparece como filha de uma viúva, mas, pouco depois, o mesmo José Manuel foi salvo graças ao pai da rapariga.

d) Ao contrário do que ocorre nas obras de “memórias”, aqui a narrativa não é feita em primeira pessoa como acontece geralmente com esse gênero literário, mas em terceira pessoa; talvez porque não se trata realmente de um livro de memórias.

e) Para Paulo Rónai, que traduziu a obra para o francês, o título deveria ser: “Como se Faz um Sargento de Milícias , pois, segundo confessa, teve tentação de colocar, como titulo, na tradução francesa -“Comment on devi ent un Sargent de la Mi/ice ‘. Já para Olívio Montenegro, o título poderia ser: “Cenas da Vida Carioca”.

ESTILO DE ÉPOCA

Tendo surgido em pleno Romantismo, Memórias de um Sargento de Milícias apresenta uma narrativa desembaraçada, com conversações colhidas ao vivo e uma multidão de personagens vivos, extraídos da gente do povo, primando pela originalidade.

Entretanto, podem-se detectar, na obra, aspectos que traem não só o Romantismo como o Realismo:

1) Não parece ser muito apropriado considerar o livro como obra precursora do Realismo no Brasil, embora seu autor haja revelado conhecer a “Comédia Humana”, de Balzac, e ter recebido influências dela.

Falta-lhe, sem dúvida, a intenção realista, apesar da presença de muitos elementos denunciadores desse estilo de época, como ressalta José Verissimo: “o autor pratica, no romance brasileiro, o que já é licito chamar obra psicológica e de meio: a descrição pontual, a representação realista das coisas, mas fugindo às cruezas.

2) Ao contrário do que ocorre no Romantismo, o cenário não é o dos palácios reais com festas e diversões ao gosto dos nobres, nem a natureza; são as ruas cheias de gente, por onde desfilam meirinhos, parteiras, devotas, granadeiros, sacristães, vadios, brancos, pardos e pretos: gente do povo, de todas as raças e profissões. Povo sem nome, simplesmente designado por mestre de reza, parteira, barbeiro, toma largura, etc. Assim, existe, no livro, uma preocupação documental bem ao gosto realista.

3)-Além disso, destacam-se na obra o sentimento anti-religioso e anticlericalista, o horror aos padres e o desprezo pelas beatas, a caricatura e a ironia, que são ingredientes sabidamente caracterizadores do estilo realista:

- ‘O Divino Espírito Santo

E um grande folião,

Amigo de muita carne.

Muito vinho e muito pão.

A cena do clérigo, mestre de cerimônias, no quarto de uma cigana prostituta, em noite de festa e nos trajes em que o autor o coloca é digna de mestres do Realismo, como Eça de Queiroz, por exemplo.

Por outro lado, a presença do Romantismo também é notória na obra:

1) A busca do passado, que é uma fixação comum no estilo romântico, serve de ponto de partida para o autor, como se vê na abertura do livro: “Era no tempo do rei”.

Conforme ressalta Paulo Rónai, “orgulha-se o autor de não participar dos exageros românticos, mas, saudoso do passado, explica o interesse pelos tempos antigos com a alegação de querer mostrar que os costumes de outrora não eram superiores aos de seu tempo. Só mero pretexto: ele só não admitia os excessos dos ultra-românticos.”

2) Como é freqüente no Romantismo, que tem, ao lado de uma certa tendência para finais tétricos, propensão para as conclusões açucaradas, todos os capítulos e a própria novela terminam num “happy end ‘, ou final feliz.

3) A despreocupação com a correção gramatical e o aproveitamento da fala e de expressões populares mostram bem a tendência para a liberalização da expressão, que é outra conquista do Romantismo, forjada na esteira do liberalismo da época, como revelam os exemplos abaixo:

A vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu. como se costuma dizer, as estribeiras,...”

"Quando amanheceu, acordou sarapantado...."

"— Olá, Leonardo! Por que carga d ‘água vieste parar a estas alturas? Pensei que te tinha já o diabo lambido os ossos, pois depois daquele maldito dia em que nos vimos em pancadaria, por causa do mestre-de-cerimônias, nunca mais te pus a vista em cima.”

"— Escorropicha essa garrafa que ai resta, disse-lhe o amigo...

“— Fui para casa de meu pai... e de repente, hoje mesmo. brigo lá com a cuja dele...”

Na onda dessa liberalização, há verdadeiras incorreções gramaticais, conforme atestam estes exemplos:

"Naquela família haviam três primos.”

“Nas causas de sua imensa alçada não haviam testemunhas...”

"...ele expôs-me certas coisas... e que eu enfim não quis dar crédito.”

"... Fazia o mestre em voz alta o pelo-sinal. pausada e vagarosamente, no que o acompanhava em coro todos os discípulos.”

4) Como é comum no Romantismo, algumas situações são criadas artificialmente. Revela-o sobretudo o fato de Leonardo transformado em granadeiro e posteriormente em Sargento de Milícias.

Assim, embora apresente características que lembram os estilos realista e romântico, Memórias de um Sargento de Milícias se destaca por sua originalidade, afastando-se dos padrões da época, como observou Mário de Andrade, que considerava essa novela uma obra isolada.

LINGUAGEM

1) A linguagem utilizada pelo autor em toda a novela, embora de cunho popular e com bastantes incorreções, tem muito do linguajar tipicamente português, o que revela, sem dúvida, a marcante presença da gente lusitana em nossa terra no “tempo do rei”:

"Não quero cá saber de nada...”

"— Pois estoure, com trezentos diabos!”

"... há de ser um clérigo de truz.”

"... regulando-se a ouvir modinhas...”

"— E a noiva?.., respondia a outra: arrenego também da lambisgoia...

E outras expressões como tira-te lá, tranco-te essa boca a socos; mais pequena, com a cuja dele, etc.

2) Outras vezes prima por usar construções bem clássicas:

"... o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente ./ora de um dos bolsos, o cabo de uma tremenda palmatória,..."

“Coimbra era a sua idéia fixa, e nada /ha arrancava da cabeça."

"... e quando tiver 12 ou 14 anos há de me entrar para a escola.

"... e isto era natural a um bom português, que o era ele.”

3) A ironia e o gosto pela gozação acompanham a obra do começo ao fim.

"A carruagem era um formidável, um monstruoso maquinismo de couro, balançando-se pesadamente sobre quatro desmesuradas rodas. Não parecia coisa muito nova; e com mais de dez anos de vida poderia muito bem entrar no número dos restos infelizes do terremoto, de que fala o poeta.

“Luisinha, conduzida por D. Maria, que lhe ia servir de madrinha, embarcou num dos destroços da arca de Noé. a que chamamos carruagem; "

“Entre os honestos cidadãos que nisto se ocupavam, havia, na época desta história um certo Chico-Juca. afamadíssimo e temível.”

“Eis aqui como se explica o arranjei-me, e como se explicam muitos outros que vão ai pelo mundo.”

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

1) Para Antônio Soares Amora, “a intenção do autor, ao escrever seu romance de folhetins para a “Pacotilha”, não é difícil perceber; oferecer ao leitor, de um lado, um romance engraçado, pelos tipos que nele entravam, pelas suas expressões, pelas suas atitudes e ações; de outro, um romance de costumes populares, de um Rio que deixara de existir, com a modernização da vida carioca, iniciada no decênio de 1830; um Rio do começo do século, ronceiro e roceiro, mas bem mais pitoresco e alegre, pelas despreocupações de sua gente e pelas festas populares (procissões, folias do Divino, fogos no Campo de Santana, as súcias), e por isso um Rio de que os mais velhos, nos anos de 1850, se recordavam com nostalgia.”

2) Além desses aspectos citados, que configuram bem a “época do Rei” (início do século XIX, quando D. João VI esteve no Brasil fugido de Napoleão), destaca-se também no livro o anticlericalismo típico da época, em que se expõem as safadezas de padres e outros podres da Igreja de Roma.

"— Olá, Leonardo! Por que carga d ‘água vieste parar a estas alturas? Pensei que te tinha já o diabo lambido os ossos, pois depois daquele maldito dia em que nos vimos em pancadaria, por causa do mestre-de-cerimônias, nunca mais te pus a vista em cima.”

"— Escorropicha essa garrafa que ai resta, disse-lhe o amigo...

“— Fui para casa de meu pai... e de repente, hoje mesmo. brigo lá com a cuja dele...”

Na onda dessa liberalização, há verdadeiras incorreções gramaticais, conforme atestam estes exemplos:

"Naquela família haviam três primos.”

“Nas causas de sua imensa alçada não haviam testemunhas...”

"...ele expôs-me certas coisas... e que eu enfim não quis dar crédito.”

"... Fazia o mestre em voz alta o pelo-sinal. pausada e vagarosamente, no que o acompanhava em coro todos os discípulos.”

4) Como é comum no Romantismo, algumas situações são criadas artificialmente. Revela-o sobretudo o fato de Leonardo transformado em granadeiro e posteriormente em Sargento de Milícias.

Assim, embora apresente características que lembram os estilos realista e romântico, Memórias de um Sargento de Milícias se destaca por sua originalidade, afastando-se dos padrões da época, como observou Mário de Andrade, que considerava essa novela uma obra isolada.

LINGUAGEM

1) A linguagem utilizada pelo autor em toda a novela, embora de cunho popular e com bastantes incorreções, tem muito do linguajar tipicamente português, o que revela, sem dúvida, a marcante presença da gente lusitana em nossa terra no “tempo do rei”:

"Não quero cá saber de nada...”

"— Pois estoure, com trezentos diabos!”

"... há de ser um clérigo de truz.”

"... regulando-se a ouvir modinhas...”

"— E a noiva?.., respondia a outra: arrenego também da lambisgoia...

E outras expressões como tira-te lá, tranco-te essa boca a socos; mais pequena, com a cuja dele, etc.

2) Outras vezes prima por usar construções bem clássicas:

"... o que o distinguia era ver-se-lhe constantemente ./ora de um dos bolsos, o cabo de uma tremenda palmatória,..."

“Coimbra era a sua idéia fixa, e nada /ha arrancava da cabeça."

"... e quando tiver 12 ou 14 anos há de me entrar para a escola.

"... e isto era natural a um bom português, que o era ele.”

3) A ironia e o gosto pela gozação acompanham a obra do começo ao fim.

"A carruagem era um formidável, um monstruoso maquinismo de couro, balançando-se pesadamente sobre quatro desmesuradas rodas. Não parecia coisa muito nova; e com mais de dez anos de vida poderia muito bem entrar no número dos restos infelizes do terremoto, de que fala o poeta.

“Luisinha, conduzida por D. Maria, que lhe ia servir de madrinha, embarcou num dos destroços da arca de Noé. a que chamamos carruagem; "

“Entre os honestos cidadãos que nisto se ocupavam, havia, na época desta história um certo Chico-Juca. afamadíssimo e temível.”

“Eis aqui como se explica o arranjei-me, e como se explicam muitos outros que vão ai pelo mundo.”

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

1) Para Antônio Soares Amora, “a intenção do autor, ao escrever seu romance de folhetins para a “Pacotilha”, não é difícil perceber; oferecer ao leitor, de um lado, um romance engraçado, pelos tipos que nele entravam, pelas suas expressões, pelas suas atitudes e ações; de outro, um romance de costumes populares, de um Rio que deixara de existir, com a modernização da vida carioca, iniciada no decênio de 1830; um Rio do começo do século, ronceiro e roceiro, mas bem mais pitoresco e alegre, pelas despreocupações de sua gente e pelas festas populares (procissões, folias do Divino, fogos no Campo de Santana, as súcias), e por isso um Rio de que os mais velhos, nos anos de 1850, se recordavam com nostalgia.”

2) Além desses aspectos citados, que configuram bem a “época do Rei” (início do século XIX, quando D. João VI esteve no Brasil fugido de Napoleão), destaca-se também no livro o anticlericalismo típico da época, em que se expõem as safadezas de padres e outros podres da Igreja de Roma.

3) Ao traçar o perfil de Leonardo, protagonista da novela, o autor retrata um tipo genuinamente brasileiro, com sua malandragem bem carioca e sua propensão ao “dolce far niente” (= não fazer nada, ócio), numa aversão ao trabalho, que antecipa, em quase um século, o celebrado “herói sem nenhum caráter” e modelo de nossa gente, Macunaíma, do modernista Mário de Andrade.

4) Apresentando um perfil pautado pela retidão e pelo senso de responsabilidade, que o aproxima mais do herói tradicional que Leonardo, o major Vidigal é bem a encarnação do poder constituído e da ordem estabelecida. Com sua implacabilidade à cata de malandros, o major representa, sem dúvida, o guardião de normas sociais que padronizam comportamentos e enquadram tipos rebeldes que ousam transgredi-las.

5) Simbolicamente, dada a liberdade que me permite a teoria da obra aberta, pode-se ver, nessas “memórias” de Leonardo, a trajetória existencial de qualquer ser humano, desde o nascimento, quase sempre fruto de um amor que brota com uma “pisada no pé” (que varia conforme o costume da época...), até o enquadramento social, que se concretiza com o casamento e sobretudo com a investidura da camisa de força imposta pelo major Vidigal. Sem dúvida, o “happy end” da conclusão é um final irônico, em que o ser humano dá adeus às travessuras e às ilusões para se enjaular nos limites estreitos de uma vidinha miúda e besta, pautada pelo bom comportamento de um sargento de milícias.



FONTE: http://oportuguesdoantonio.blogspot.com/ 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo

 
O romance A Moreninha (1844) concedeu ao seu autor, Joaquim Manuel de Macedo, imenso prestígio nos salões sociais na época em que foi publicado. O romantismo inscrevia-se como o movimento literário em voga, favorecendo a criação de narrativas fundamentadas sobre temas amenos: o amor "açucarado" com um ligeiro e suave suspense que termina em páginas brandas e felizes para todos... e para sempre.

A Moreninha surge como um modelo exemplar desse estilo. A obra retrata os costumes da alta sociedade carioca dos meados do século 19, onde as mulheres tinham seus momentos de flerte nos saraus, bailes e óperas de teatro.

É nesse ambiente circundado pelas paisagens da Tijuca e pelas praias cariocas (ainda desertas) que vemos se desenrolar a narrativa do romance.
Resumo
O enredo inicia-se com três amigos e estudantes de Medicina, Augusto, Fabrício e Leopoldo, sendo convidados por outro colega, Filipe, para passar o dia de Sant'Ana na casa de praia de sua avó. (O mês de julho era considerado o mês de Sant'Ana.)

Apenas Augusto hesita e se diz disposto a não ir. Mas, a presença da irmã, Carolina - a Moreninha -, e das primas de Filipe, Joana - a pálida, e Joaquina - a loira, entre outros divertimentos, servem como incentivo, e logo todos se põem prontos para a viagem.

Os amigos decidem ainda fazer uma aposta: se Augusto conseguisse apaixonar-se por uma única jovem durante quinzes dias ou mais, visto que se julgava incapaz para tanto, ele assumiria o compromisso de escrever um romance relatando tal paixão.

O jovem evita cair nas graças das mulheres que encontra, desfazendo as esperanças nele depositadas e mostrando-se leviano às investidas românticas. Causando tanto mais medo do que mesmo infelicidade na imaginação das senhoritas, Augusto passa a ser rejeitado nesse círculo. Todavia, Carolina, a Moreninha, uma jovem de quinze anos, inteligente e zombeteira, trará uma nova atmosfera à alma de Augusto.

Tomado por sentimentos perturbadores, o rapaz acaba confessando a D. Ana, avó da menina, um segredo guardado há sete anos, no qual estava a explicação para a sua personalidade obscura e instável. Passemos ao episódio.

Augusto tinha treze anos quando esteve na Corte e, durante um de seus passeios pelas praias cariocas, conheceu uma linda menina, contando não mais do que oito anos. Ela então observava uma concha à beira-mar, mas o ir e vir das ondas impedia que ela avançasse sobre a areia para pegar o objeto de seus caprichos.

Depois de tanto brincar com as vagas, até cair, a menina dirigiu-se a Augusto mimosamente, lastimando não ter conseguido apanhar a concha. Prontamente, ele se dispôs a trazê-la para a menina; foi assim que fizeram amizade e viriam a passar longas horas de deliciosas brincadeiras infantis.

Em meio às travessuras, a garotinha perguntou-lhe se desejava um dia casar-se com ela. Embora aturdido, Augusto acabou por aceitar a ousada proposta. A promessa fez com que seus nomes deixassem de ter importância, e assim passaram a tratar-se por "meu marido" e "minha mulher".

Mas, a aproximação de um garoto aos prantos anunciando a morte do pai viria quebrar o encanto do momento. Augusto e a menina foram conduzidos até uma pequena casa, onde se achava um homem agonizante junto a sua família em sofrimento. Pouco, ou nada, poderia ser feito.

Uma caridade realizada por Augusto e sua nova amiga fez o velho abençoá-los, profetizando a união de ambos... deu-lhes, então, dois breves: um branco, que levaria costurado um camafeu de Augusto, presenteado à garota; e outro verde, cosido a um botãozinho de esmeralda da blusa da menina, por sua vez oferecido a Augusto.

Pouco antes de o ancião expirar, os dois partiram. Despediram-se na praia, mantendo o enigma de seus nomes, mas vivo o juramento de amor feito diante do homem: o de um dia se encontrarem e serem felizes juntos.

Assim, Augusto termina a sua curiosa história. No entanto, além de D. Ana, os ouvidinhos aguçados de Carolina também tinham acompanhado secretamente sua narrativa.

Em outra conversa com a velha senhora, Augusto comenta sobre o malogro de suas paixões: ele já tinha sido enganado por três jovens que escarneceram de suas devoções afetivas. A primeira, uma moreninha, deixou-o esperançoso pelo período de oito dias, finalmente casando-se com um velho. A segunda, uma coradinha, mostrava-se ciumenta e possessiva, mas ria-se dele pelas suas costas, enamorada de outro. A terceira, uma jovem pálida, fazia-o acreditar ser o único em sua vida, mas enganava-o com um primo. Tantas desilusões levaram-no a crer que a melhor saída era namoriscar todas e não dar o coração a nenhuma.

O fim de semana termina e os jovens voltam à Corte. Augusto traz consigo mais do que uma lembrança da agradável companhia dos amigos e de D. Ana; ele guarda um sentimento profundo que irá rendê-lo à afabilidade de Carolina. Isso o fará retornar a casa da jovem, e juntos descobrir-se-ão amigos e enamorados.

Após um breve período de distância entre os dois, o que os leva a uma grande tristeza, Augusto corre ao encontro da amada. Porém, a Moreninha repreende-o por trair o voto feito à garotinha que conhecera há sete anos e ao homem em seu leito de morte. Augusto declara ser impossível reconhecê-la, ou mesmo encontrá-la e, ainda que isso fosse possível, como ele poderia negar o amor sincero que agora sentia por Carolina?

É o momento de desfazer-se o mistério: a jovem revela o breve que um dia ganhara de um velho às vésperas de sua morte, e nele estava enrolado o camafeu pertencente a Augusto.

Comovidos, concluem que a espera e a busca tinham chegado ao fim.

Também a aposta antes lançada pelos amigos estava ganha: Augusto escreveria sua história, uma história de amor e final feliz, intitulada A Moreninha.





sábado, 5 de novembro de 2011

Goya: "o Shakespeare do pincel" !



Francisco José de Goya y Lucientes (1746 -1828), foi um pintor e gravador espanhol. Conhecido como "Goya, o Turbulento" e considerado às vezes como "o Shakespeare do pincel" suas produções artísticas incluem uma ampla variedade representativa de retratos, paisagens, cenas mitológicas, tragédia, comédia, sátira, farsa, homens, deuses e demônios, feiticeiros, e um pouco do obsceno.

Os primeiros anos

 
Goya nasceu em Fuendetodos, Aragão, Espanha, em 1746, filho de José Benito de Goya y Franque e de Gracia y Lucientes Salvador. Passou sua infância em Fuendetodos, onde sua família morava em uma casa com o brasão da família de sua mãe. O pai ganhava a vida como dourador. Em 1749, a família comprou uma casa na cidade de Zaragoza e alguns anos mais tarde mudou-se para lá.

Birth of the Virgin, 1771-73

Goya frequentou a Escuelas Pias, onde fez uma estreita amizade com Martin Zapater, sendo sua correspondência ao longo dos anos considerada uma valiosa fonte para as biografias de Goya. Aos 14 anos, entrou para a aprendizagem com o pintor Don José Luzan y Martinez. Como era costume na época, começou fazendo cópias de pinturas de vários mestres.


Aos dezessete anos, transferiu-se para Madrid, onde estudou com Anton Raphael Mengs, um pintor que era popular na realeza espanhola. Entrou em choque com seu mestre e seus exames foram insatisfatórios.

Tentou por duas vezes, uma em 1763 e outra em 1766, entrar para a Academia de Belas Artes, sendo rejeitado em ambas as tentativas. Os biógrafos atribuem a Goya todo o tipo de aventuras nos anos que se seguiram, como a de ter-se tornado toureiro em Roma e ter-se envolvido em inúmeras aventuras amorosas.

 
The Parasol, 1777

Ficheiro:Paseo por Andalucia.jpg The Maja and the Masked Men, 1777

No final de 1771, inscreveu-se em concurso da Academia de Belas Artes de Parma, recebendo uma menção honrosa e sua primeira encomenda: o afresco na Igreja Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça. A partir daí, seguiram-se encomendas para o Palácio de Sobradiel e o Monastério Aula Dei. Entre os anos de 1773 e 1774 foram executadas, provavelmente, as últimas pinturas desse período em que esteve em Saragoça.

Ficheiro:La cometa Goya lou.jpg La cometa. 1778


Goya se casou com Josefa Bayeu, irmã dos artistas Francisco e Ramon Bayeu. Enquanto esteve em Madrid, trabalhou para várias fábricas, fazendo desenhos para tapeçarias. São desse período os desenhos que ganharam fama, com reprodução de cenas folclóricas e de paisagens. Contudo, ele não era um artista interessado em paisagens e o fundo de suas obras mostra o pouco interesse que ele tinha por elas.

O reconhecimento

Depois de estabelecido em Madrid, começou a pintar retratos. O mais antigo que se conhece data de 1774, sendo que no ano de 1778 fez nada menos do que quatorze retratos.
No ano de 1780, entrou para a Academia de San Fernando e apresentou a obra "La Crucificada". Nessa pintura, Goya seguiu as regras acadêmicas, provando que era um mestre do estilo convencional. Em 1785, começou a receber encomendas da aristocracia.

Ficheiro:Carlos IV de rojo.jpg Carlos IV de vermelho. 1789

 A primeira encomenda foi para o "Festival Folclórico" do dia de Santo Isidoro. No mesmo ano, executou o primeiro retrato de um membro da nobreza, a Duquesa de Osuna. Em 25 de abril de 1785, depois da morte de Carlos III e da coroação de Carlos IV, foi nomeado "Primeiro Pintor da Câmara do Rei", tornando-se o pintor oficial do monarca e sua família.
Em 1790, pintou um de seus auto-retratos.

A doença

 
Em 1792, numa viagem a Andaluzia, contraiu uma doença séria e desconhecida, transmitida por seu amigo Sebastián Martínez, ficando temporariamente paralítico, parcialmente cego e totalmente surdo.

Com a doença, perdeu sua vivacidade, seu dinamismo, sua autoconfiança. A alegria desapareceu lentamente de suas pinturas, as cores se tornaram mais escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo.

Parcialmente recuperado, retornou a Madrid no verão de 1793 e continuou a trabalhar como artista da Corte, porém buscou outras inspirações para expressar sua fantasia e invenção sem limite, o que as obras sob encomenda não lhe permitiam.

Devido à doença, Goya passou a não ter mais muito respeito pela aristocracia, expondo nas suas pinturas as verdadeiras identidades e as fraquezas dos modelos. Um exemplo é o retrato do rei Fernando VII da Espanha.

 Seus retratos deste período mostram, todavia, a sua fascinação pelas mulheres e pelas crianças, não igualada por nenhum outro artista, com a possível exceção de Renoir. Dois retratos de mulheres, executados nessa época, mostram claramente essa qualidade: "Doña Antonia Zarate", orgulhosa, ereta, coquete e algo triste; e a "Condesa de Chinchón", o mais terno de seus retratos de mulheres, no qual o rosto infantil e a postura frágil dos ombros contrastam com o traje elegantemente pintado.

Estes retratos foram como um último adeus às alegrias da vida, porque pouco depois Goya se exilou em sua Quinta del Sordo, em Madrid.

As guerras napoleônicas vieram e se foram, e os horrores sofridos pelos espanhóis deixaram um Goya amargo, transformando a sua arte em um ataque contra a conduta insana dos seres humanos, passando a retratar a falta de sentido do sofrimento humano, tanto injusto como não merecido.

Entre os anos de 1810 e 1814, produziu sua famosa série de pinturas "Los Desastres de la Guerra" e suas duas obras primas "El Segundo de Mayo 1808" e "El Tercero de Mayo 1808" .

Goya foi tão importante na pintura quanto na gravura, onde pôde manifestar de forma extremamente expressiva o espírito do humor espanhol, que tende para a deformação e até para o trágico.

Predominam a sátira social, cheia de sarcasmo, os motivos eróticos e a feitiçaria, como obra oposta à razão, pois Goya era um iluminista e fustigava as crendices do tempo. Emblemática é a que traz a inscrição "O sono da razão produz monstros". O charlatanismo, a avareza, a vaidade, são seus alvos.


Os fuzilamentos de 3 de maio 1808

O quadro mostra um gigante se erguendo sobre uma pequena aldeia, cujos moradores e animais fugem de medo. Estudiosos consideram que a imagem representa a resistência espanhola diante das tropas francesas de Napoleão Bonaparte durante a Guerra Peninsular (1808-1814).


Ficheiro:Goya-Guerra (00).jpg

Em 1821, a Inquisição abriu um processo contra Goya por considerar obscenas as suas "Majas", mas o pintor conseguiu livrar-se, sendo-lhe restituída a função de "Primeiro Pintor da Câmara".

Ficheiro:Goya Maja ubrana2.jpg

A Maja Vestida. Museo del Prado

 

 

Os últimos anos

Durante a última parte de sua vida, Goya cobriu as paredes de sua Quinta del Sordo com as famosas "pinturas negras", as últimas e mais misteriosas de seu gênio atormentado, como "Saturno devorando a un hijo" (1815) que se encontra atualmente no Museu do Prado.
Esta pintura constitui uma referência aos conflitos internos de Espanha, durante o reinado absolutista de Fernando VII, mas será também um reflexo da degradação da sua saúde física e mental.

Pinturas Negras (1819 - 1823) é o nome que recebe uma série de quatorze quadros de Francisco de Goya pintados com a técnica de óleo al secco (sobre a superfície de reboco da parede) como decoração dos muros da sua casa, chamada a Quinta del Sordo, que o pintor adquiriu em Fevereiro de 1819 e que foram trasladadas para tela em 1873. Atualmente conservam-se no Museu do Prado de Madrid.

Ficheiro:La romería de San Isidro.jpg A romaria de Santo Isidro.



Ficheiro:Francisco de Goya, Saturno devorando a su hijo (1819-1823).jpg Saturno devorando um filho.

Ficheiro:El Aquelarre.jpg

Ficheiro:Cabezas en un paisaje.jpg Cabeças em uma paisagem.

 Duelo a bordoadas.


Ficheiro:Viejos comiendo sopa.jpg Dois velhoa comendo sopa.

No quadro aparecem dois personagens anciãos, quer homens quer mulheres. O da esquerda, com lenço branco, desenha uma careta com a sua boca, possivelmente pela falta de dentes. O outro personagem contrasta vivamente com ele: de rosto de cadáver, os seus olhos são dois ocos pretos, e a sua cabeça tem em geral o aspecto de uma caveira.

As pinceladas estão aplicadas de modo muito livre, decidido e rápido. São broxadas cheias, com muita pasta de pintura, as que definem os dedos artríticos ou a colher. Também há um amplo uso da técnica da aplicação de pigmento com espátula.

Como em todas as Pinturas negras, a gama cromática reduz-se a ocres, terras, grises e pretos. O quadro é um expoente das características que o século XX considerou como precursoras do expressionismo pictórico.
Em 1824, Goya se exilou em Bordeaux, França, vindo a morrer quatro anos depois naquela cidade.

     A sátira está entretanto ausente na coleção mais célebre de Goya, "Os desastres da guerra" (1810-1814), na qual o artista rememora as atrocidades das invasões napoleônicas na Espanha. É também o Goya mais "heróico", que exalta os patrícios -- sobretudo as mulheres -- e mostra a infâmia dos invasores: uma sucessão de mutilações, fuzilamentos, saques, tentativas de estupro e outros males da guerra.

   

La romería de San Isidro.jpg
A romaria de Santo Isidro


Os desastres da guerra é uma série de 82 gravuras do pintor espanhol Francisco de Goya, realizada entre 1810 e 1815. O horror da guerra é amostrado especialmente cru e penetrante nesta série. As estampas detalham as crueldades cometidas na Guerra da Independência Espanhola.

Ficheiro:Goya-Guerra (30).jpg
Os desastres da guerra  nº30

Ficheiro:Goya-Guerra (05).jpg
Os desastres da guerra nº05


Ficheiro:Goya-Guerra (33).jpg
Os desastres da guerra nº 33

Ficheiro:Goya War4.jpg
Os desastres da guerra nº 04

Ficheiro:Goya War3.jpg
Os desastres da guerra nº 03

 
 
"O Colosso" teria sido pintado por Asensio Julia, um discípulo de Goya, na época em que tropas de Napoleão invadiram a Espanha; museu apontou pobreza de técnica, luz e cores em comparação com obras autênticas
"O Colosso" teria sido pintado por Asensio Julia, um discípulo de Goya, na época em que tropas de Napoleão invadiram a Espanha; museu apontou pobreza de técnica, luz e cores em comparação com obras autênticas

"O sono da razão produz monstros"