terça-feira, 8 de março de 2011

Candido Portinari: na tela, e gigantescos murais, foi o primeiro a colorir nossos problemas sociais

Candido Portinari nasceu  no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café, em Brodósqui, no interior do Estado de São Paulo.
Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, recebe apenas a instrução primária e desde criança manifesta sua vocação artística. Aos quinze anos de idade vai para o Rio de Janeiro, em busca de um aprendizado mais sistemático em pintura, matriculando-se na Escola Nacional de Belas-Artes.
Em 1928 conquista o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Parte em 1929 para Paris, onde permanece até 1930.Longe de sua pátria, saudoso de sua gente, decide ao voltar ao Brasil, no início de 1931, retratar em suas telas o povo brasileiro, superando aos poucos sua formação acadêmica e fundindo à ciência antiga da pintura, uma personalidade moderna e experimentalista.
Café
Em 1935 obtém a segunda Menção Honrosa na exposição internacional do Instituto Carnegie de Pittsburgh, Estados Unidos, com a tela Café, que retrata uma cena de colheita típica de sua região de origem.
Aos poucos, sua inclinação muralista revela-se com vigor nos painéis executados para o Monumento Rodoviário, na Via Presidente Dutra, em 1936, e nos afrescos do recém construído edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, realizados entre 1936 e 1944.
Estes trabalhos, como conjunto e como concepção artística, representam um marco na evolução da arte de Portinari, afirmando a opção pela temática social, que será o fio condutor de toda a sua obra a partir de então.
Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Portinari participa de uma notável mudança na atitude estética e na cultura do país. No final da década de trinta consolida-se a projeção de Portinari nos Estados Unidos.
Em 1939 executa três grandes painéis para o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York e o Museu de Arte Moderna de Nova York adquire sua tela Morro. Em 1940, participa de uma mostra de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York e expõe individualmente no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York, com grande sucesso de crítica, venda e público.
Casamento na roça
Em dezembro deste ano a Universidade de Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor: Portinari, His Life and Art com introdução de Rockwell Kent e inúmeras reproduções de suas obras.
Em 1941 executa quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington, com temas referentes à história latino-americana.
De volta ao Brasil, realiza em 1943, oito painéis conhecidos como Série Bíblica, fortemente influenciado pela visão picassiana de 'Guernica' e sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.
Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, inicia as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, Minas Gerais, destacando-se na Igreja de São Francisco de Assis, o mural São Francisco (do altar) e a Via Sacra, além dos diversos painéis de azulejo.
 A escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçam o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries Retirantes (1944) e Meninos de Brodósqui (1946), assim como à militância política, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro, sendo candidato a deputado em 1945, e a senador em 1947.
 A série "retirantes" feita entre 1944 e 1945, se aproxima do expressionismo ao retratar a miséria dos retirantes nordestinos.

Em 1946, Portinari volta a Paris para realizar, na Galeria Charpentier, a primeira exposição em solo europeu. Foi grande a repercussão, tendo sido agraciado, pelo governo francês, com a Legião de Honra.
Em 1947 expõe no Salão Peuser, de Buenos Aires e nos salões da Comissão Nacional de Belas Artes, de Montevidéu, recebendo grandes homenagens por parte de artistas, intelectuais e autoridades dos dois países.
O final da década de quarenta assinala na obra do artista, o início da exploração dos temas históricos através da afirmação do muralismo.
Soltando pipas
Em 1948, Portinari se auto-exila no Uruguai, por motivos políticos, onde pinta o painel A Primeira Missa no Brasil, encomendado pelo Banco Boavista do Rio de Janeiro.
Em 1949 executa o grande painel Tiradentes, narrando episódios do julgamento e execução do herói brasileiro, que lutou contra o domínio colonial português. Por este trabalho, Portinari recebeu, em 1950, a Medalha de Ouro concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia.
O jagunço
Em 1952, atendendo à encomenda do Banco da Bahia, realiza outro painel com temática histórica: A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia, e inicia os estudos para os painéis Guerra e Paz, oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da Organização das Nações Unidas.
Concluídos em 1956, os painéis, medindo cerca de 14 x 10m cada 'os maiores pintados por Portinari' encontram-se no hall de entrada dos delegados do edifício-sede da ONU, em Nova York.
O mestiço
Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e em 1960 organiza importante exposição na Tchecoslováquia.
Em 1961 o pintor tem diversas recaídas da doença que o atacara em 1954 - a intoxicação pelas tintas -, entretanto, lança-se ao trabalho para preparar uma grande exposição, com cerca de 200 obras, a convite da Prefeitura de Milão.
Israel pedrosa
Candido Portinari falece no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.
Ainda que amplamente reconhecido no País, Portinari também encontrou críticos e conhecedores de arte dispostos a contestar a justiça da posição alcançada pelo artista.
Plantando bananeira
Acusado de desenvolver uma estética de tons fascistas por uns e de adotar um tom excessivamente engajado de "artista de esquerda" por outros ou de apenas reinterpretar o cubismo de Picasso sem desenvolver um estilo próprio, o pintor sobrevive aos seus possíveis pontos fracos, assim como ao próprio mito.


   Na edição de 23 de junho de 1993 da revista Veja, o crítico de arte e editor da revista Novos Estudos (Cebrap), Rodrigo Naves, dedicou duas páginas à tese de que o artista não conseguia libertar-se de um estilo marcadamente sentimental e não resistia a apelar para as emoções derramadas, ainda que socialmente inócuas, com o intuito de obter ampla difusão e reconhecimento, por meio do que chama de "empatia áspera":
"Diante desses trabalhos é praticamente impossível evitar uma resposta de ordem sentimental. Eles provocam, de maneira irremediável, piedade, indignação, tristeza, sensações de desolação ou revolta. E aqui começam os problemas. Nada contra afetos e sentimentos. (...) A questão é que, por suas soluções pictóricas, o trabalho de Portinari tende a nos devolver sempre a um âmbito estritamente pessoal, em que confirmamos de modo reiterado nossas crenças e opiniões e mantemos uma intimidade imune aos desafios daquilo que é novo e imprevisto. E aí os sentimentos tendem ao sentimentalismo."
Perto da conclusão do seu artigo, Rodrigo Naves analisa a influência de Picasso sobre o trabalho de Portinari:
"(...) Essa ânsia de reconhecimento e obtenção de uma dimensão pública teve de pagar o seu preço. Basta ver o uso que ele fez do cubismo de Picasso. A bem dizer, Portinari diagramava Picasso. O pintor de Brodósqui lançava sobre figuras mais ou menos realistas uma trama decorativa que, à maneira de fachos de luz, as recortava e lhes conferia algum dinamismo, preservando contudo sua forma natural. Sem grande função estrutural, essa malha servia de camuflagem moderna a uma pintura de forte teor acadêmico."
Futebol
    Como lembrou o jornalista Antonio Gonçalves Filho, "críticos como Theon Spanudis viam em seus espantalhos, retirantes, favelados e lavradores pouco mais do que uma diluição do cubismo de Picasso. Spanudis costumava dizer que Portinari era um acadêmico arrependido."
    A influência - inegável - de Picasso é vista por outros críticos como natural. "O veio realista de Portinari ganha reforço na Europa na é em que um Picasso neoclássico era o grande modelo", assinala Annateresa Fabris. "Portinari é moderno dentro das peculiaridades de modernismo no Brasil", que não teve sincronia com os movimentos estéticos do Velho Mundo.

                                                    "O Lavrador de Café", de Portinari

Sugestões de Leitura:
- Encontro com Portinari - Rosane Acedo e Cecília Aranha - Coleção Encontro com a Arte Brasileira, Ed Minden
- Portinari - Nadine Trzmielina e Ângela Bonito - Série Crianças Famosas, Ed Callis
- Candido Portinari - Nereide Schilaro Santa Rosa - Coleção Mestres da Arte no Brasil, Ed Moderna

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