quinta-feira, 14 de julho de 2011

RENASCIMENTO

Europa retoma valores clássicos

No fim da Idade Média, o comércio desenvolveu-se na Itália, beneficiada por sua situação geográfica, às margens do Mediterrâneo. Surge a burguesia, nova classe média que, com dinheiro, patrocinar as artes. O interesse é pela produção da antigüidade clássica, pelas tradições grega e romana. É esse o contexto do período conhecido como renascimento.
Como diz a origem da palavra, o movimento renascentista fez ressurgir o interesse da Europa pela cultura e pelos valores da Antigüidade clássica.

Textos latinos e gregos foram revisitados, e o homem renascentista deparou-se com o ideal do humanismo. Essa corrente de pensamento colocava o homem como centro do universo (antropocentrismo), em oposição à cultura medieval, teocêntrica.
O homem no centro

Os humanistas davam muita importância ao ser humano e ao natural, contrariando a visão medieval que glorificava o divino e o extraterreno. Com isso, os intelectuais passaram a questionar a autoridade da Igreja e atribuíram maior importância ao ser humano e à razão.
Leonardo Da Vinci representado no alto mostra o interesse pela proporção da representação da figura humana, desenvolvida pelos gregos no século 5 a.C. Baseou-se num trecho escrito pelo arquiteto romano Vitruvius.


O arquiteto descreve como a forma humana com as mãos e pernas abertas poderia ser encaixada em um círculo, cujo centro seria o umbigo. E sugere que a figura pode também estar contida exatamente dentro de um quadrado.

Características do movimento

O humanismo foi de fato a mola propulsora das características da arte nesse período. Dele advêm características como racionalidade, dignidade do ser humano, rigor científico e reutilização da estética greco-romana.


Veja implicações dessa idéia em diferentes manifestações artísticas:
·  Na pintura
A precisão no desenho, a perspectiva, o "sfumato" (técnica que possibilita o sombreado de claros e escuros) e o realismo.
Por conta do humanismo e do ideal de liberdade predominante naquele período, o artista renascentista teve a oportunidade de expressar suas idéias e sentimentos sem estar submetido à Igreja. Poderia criador e deixar marcas de seu estilo pessoal, diferenciando-se dos artistas medievais.

Os
principais pintores foram: Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio.
·  Na escultura

Representação do homem tal como ele é, proporção da figura mantendo a sua relação com a realidade, profundidade e perspectiva e estudo do corpo e do caráter humano.
·  Na arquitetura

As construções renascentistas são bastante diferentes das medievais. Compare, por exemplo, a Basílica de São Pedro, do século 16 (foto acima), com a Abadia de Westminster, gótica - estilo típico da idade média.

No templo de Londres, as torres são muito altas, para lembrar ao homem como ele é "pequeno" diante de Deus. A abadia londrina tem linhas verticais, enquanto a basílica do Vaticano prefere linhas horizontais.

Na Basílica de São Pedro notam-se colunas e capitéis (parte superior da coluna) suspensos, clara influência greco-romana. Outras características da arquitetura renascentista são as janelas de dupla abertura, os alto-relevos, as cúpulas e os arcos de volta perfeita.

A basílica em Roma é o maior exemplo da arquitetura desse período. A construção iniciou-se em 1506 e seu primeiro arquiteto, Rafael, projetou uma planta em forma de cruz grega, com ampla e elevada cúpula central.

Mais tarde, Rafael alterou-a, dotando-a de uma forma retangular ou basilical. O projeto da cúpula foi de
Michelangelo, mas ela foi terminada por Giacomo Della Porta

As fases e a pintura renascentista

Podem-se identificar três fases distintas no desenvolvimento do renascentismo, movimento intelectual e artístico surgido na Itália. São elas: trecentismo (anos 1300), quatrocentismo (anos 1400) e cinqüecentismo (anos 1500). (Veja também como surgiu e as principais características).

Trecentismo

No século 14, o renascentismocimento ainda estava concentrado na Itália, mais especificamente em Florença. Seus principais expoentes artísticos eram Giotto, Boccaccio e Petrarca.
As características desse momento foram a valorização do indivíduo e dos detalhes humanos e a ruptura com o imobilismo e a hierarquia da pintura medieval. Eram traços diretamente relacionados ao pensamento humanista.
Quatrocentismo

No século 15, o renascentismo estendeu-se pela península itálica e atingiu seu auge. São desse período Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael e Michelangelo. Suas características foram: o racionalismo, o resgate da estética greco-romana e o experimentalismo.
Quinhentismo

Último período do renascimento, em que as obras de arte atingiram seu mais elevado grau de elaboração. Espalhado por toda a Europa, no século 16, o movimento vê também sua decadência. O maneirismo, um estilo "anticlássico", e o barroco, ganham força devido à reação da Igreja.
A pintura renascentista

De um modo geral, os pintores da renascença procuravam reproduzir a realidade, sob a influência do ideal de beleza grego. O espírito clássico, a ordem e as formas simétricas são traços marcantes dessa pintura.
Podemos distinguir três grandes escolas com características próprias: a florentina, de Florença, que se caracterizou pelo racionalismo demonstrado tanto pelo predomínio da linha sobre a cor, como pelo "sfumato"; a veneziana (de Veneza), caracterizada pelo sentimento, pela emoção, o predomínio da cor sobre o desenho ou a linha; e a romana, que tenta equilibrar linha e cor, razão e sentimento.

A pintura renascentista inovou com a descoberta da perspectiva, que permite abordar o espaço e a luz de maneira realista. Além disso, a nova técnica da pintura a óleo possibilitou novas associações e graduações da cor. Por fim, o surgimento de novos suportes, como a tela e o cavalete e a imprensa, permitiram uma circulação mais fácil das obras e do pensamento.
Principais pintores

·  Giotto (1266-1337). Pintor italiano, introduziu a perspectiva na pintura. Foi considerado o precursor da pintura renascentista, o elo entre essa e a pintura medieval. A característica principal do seu trabalho é a identificação da figura de santos com seres humanos de aparência comum. Sua pintura coincide com a visão humanista que se consolidava naquele momento.

·  Sandro Botticelli (1444-1510). Pintor da escola florentina, nasceu e viveu em Florença. Trabalhou na decoração da Capela Sistina, em 1481. Suas obras abordavam principalmente dois temas: a antigüidade grega e o cristianismo. Em sua obra chama a atenção a leveza dos corpos esguios e desprovidos de força: eles parecem flutuar, expressando suavidade e graça.
·  Leonardo da Vinci (1452-1519). Maior figura da pintura renascentista, também da escola florentina, Leonardo considerava-se, em primeiro lugar, um cientista. Imaginou máquinas voadoras, estudou mecânica, geologia, ótica, hidráulica, anatomia, botânica e astronomia. Além de pintor foi desenhista, escultor, engenheiro e arquiteto.

Seus estudos de perspectiva são considerados insuperáveis. O "sfumato", técnica de uso de tons claros e escuros, foi utilizado em suas obras com maestria.
Veja as reproduções dessas telas:
·  Ticiano (1490-1576). Foi o maior pintor da escola veneziana. Produziu obras religiosas, mitológicas e retratos utilizando cores vivas e movimentos que mais tarde serviram de base para outros artistas. Suas obras têm um grande apego à vida e à beleza feminina. A paisagem, com freqüência, é mais importante que as figuras. Ticiano foi um dos primeiros a pintar um tipo de paisagem moderna.
·  Rafael Sanzio (1483-1520). Da escola romana, destaca-se pela delicadeza de traços, pela conciliação do paganismo com o cristianismo e pelo equilíbrio entre a linha e a cor. Conhecido como o pintor de madonas, tipos ideais de beleza feminina, suaves, muitas vezes convencionais, mas, com eminentes qualidades.

Suas composições são expressivas na organização e na distribuição dos elementos, massas, volumes, áreas, cores e linhas. Rafael aplicou com sensibilidade os princípios matemáticos e geométricos em seus quadros.
·  Michelangelo (1475-1564). Arquiteto, pintor, poeta e escultor, é difícil classificá-lo dentro das características gerais das escolas. A pedido do Papa Júlio 2, pintou o teto da Capela Sistina, dividindo-o em nove retângulos para contar a história da criação do mundo e do homem.
As poses das figuras na capela são baseadas em famosas esculturas gregas e romanas. Por isso, uma das raríssimas imagens de Deus, senão a única na cultura ocidental, apresenta um Deus de barba branca, como seriam na antigüidade clássica Zeus e Posseidon, deuses considerados pais. Para os gregos antigos, a barba era uma insígnia de homem velho e sábio, modelo que persiste até os dias de hoje.
Esculturas e expansão pela Europa

Seguindo as linhas do pensamento humanista e o resgate dos valores greco-romanos, a escultura renascentista deu ênfase à importância do homem e suas atividades. Os escultores ficaram conhecidos por seus relevos e pelas ornamentações de púlpitos (a parte elevada da igreja em que o padre prega aos fiéis).
O maior escultor do renascimento foi Michelangelo. Até as pinturas desse artista possuem caráter escultórico. Sua carreira, aliás, começou como escultor.
A escultura "Davi" foi feita por encomenda. Michelangelo começou a executá-la num bloco de mármore abandonado junto à catedral. Esculpida com grande técnica, destaca quaidades "superiores" do homem, como o heroísmo, força, visão dramática e grandiosa do mundo. Se comparada ao Doríforo de Policleto, feito no século 5 a.C., fica evidente a influência estética clássica.
Outra figura importante da escultura italiana foi Donatello. Realista, suas figuras são carregadas de verdade humana, com fortes influências da escultura romana.

Fora da Itália, o renascimento também teve força.
Renascentismo pela Europa: Flandres (Holanda): pintura a óleo

O renascimento flamengo esteve muito ligado ao desenvolvimento da pintura. Suas maiores preocupações eram a pesquisa dos materiais, o aprimoramento técnico e o esforço de fazer representações que parecessem naturais.

Foram os artistas flamengos que introduziram a técnica da tinta a óleo, iniciaram a pesquisa sobre perspectiva linear, inventaram a perspectiva aérea e desenvolveram os efeitos de cor, luz e brilho.
Temas urbanos, o interior das residências, das oficinas, palácios e templos eram os preferidos pelos pintores. Como em nenhum outro lugar, a pintura flamenga representa com autenticidade e crueza as disparidades sociais, mostrando o povo simples ao lado dos personagens sofisticados. O mesmo realismo que projeta os detalhes do luxo ressalta a dura opressão da miséria, da fome e do desamparo. Observe a pintura reproduzida a seguir:
Os principais pintores flamengos foram o Mestre de Flemalle (1375-1444), os irmãos Jan (1390-1441) e Hubert (1366-1426) Van Eyck, Rogier Van der Weyden (1400-1484), Hugo Van der Goes (1420-1482), Hans Memling (1435-1494) e Hieronymus Bosch (1450-1516).
Na França: base na corte parisiense
O renascimento francês alcançou um elevado grau de elaboração em várias áreas das artes e da cultura. Sua base seria a corte parisiense onde os monarcas atuaram como mecenas (patrocinadores).
Alguns dos principais artistas no período foram Pierre Lescot (1510-1578), arquiteto, e Jean Fouquet (1420-1480) pintor.
Na Inglaterra: o teatro de Shakespeare

O renascimento inglês é bem mais tardio, se comparado ao italiano e ao flamengo. Só se torna marcante em 1485, com a consolidação do Estado nacional inglês.
Não houve nenhum desenvolvimento significativo nas artes plásticas. A produção cultural concentrou-se na música, na literatura e no teatro. Com esse último, a contribuição mais notável do Renascimento inglês foi o teatro elisabetano cujo maior expoente foi William Shakespeare (1564-1616).
Na Alemanha: gravuras de Dürer
Também nas terras germânicas orRenascimento aconteceu tardiamente, entre o final do século 15 e início do século 16. Na Alemanha, como aconteceu na Flandres, serviu de inspiração a vida burguesa das cidades que passavam por um intenso processo de enriquecimento.
A forma característica da criação artística alemã foi a gravura sobre metal ou madeira. O mais notável gravurista foi Albrecht Dürer (1471-1528). A leveza de seu traço permite a seus trabalhos transmitir com a mesma força uma sensação que passa por realismo e fantasia, naturalismo e magia.
 [Albrecht-self.jpg]
Auto-retrato
Pintura a óleo
Dürer - gravura do Rhinoceros

 Adoração da Santíssima Trindade, pintura a óleo

O Cavaleiro, A Morte e o Diabo, gravura em metal

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