segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Trovadorismo e humanismo

IDADE MÉDIA – 1º MOMENTO


O TROVADORISMO EM PORTUGAL

O Trovadorismo
é um movimento de caráter exclusivamente poético e marca o surgimento da Literatura portuguesa. Historicamente é marcado pelo predomínio da Igreja e da nobreza feudal; resultando numa visão cristã teocêntrica e subjetiva, com características como emoção, espiritualismo, pessimismo, pecado e escuridão.

As composições líricas desse período são chamadas de cantigas e se dividem em dois tipos:
• Cantigas líricas (de amor e amigo);
• Cantigas satíricas (de escárnio e maldizer).

CANTIGAS DE AMOR

A submissão do vassalo ao seu senhor é transferida para o mundo das relações amorosas, por isso o mandamento número um do trovador é fidelidade e submissão absoluta à sua musa.
Essas cantigas apresentam eu lírico masculino; o trovador lamenta a coyta d’amor, ou seja, o sofrimento pela impossibilidade de realização amorosa, já que a dama pertence a uma classe social superior à dele.

O trovador reitera a promessa de servir, honrar e respeitar a dama, poupando-a até da revelação de sua identidade.

O poeta idealiza a amada como um ser quase divino, mas ela ignora seu amor ou tem conhecimento dele e o despreza. Esse amor impossível e inevitável faz com que o eu lírico sofra por tornar-se prisioneiro desse sentimento.

Quanto aos aspectos formais, podemos dizer que as cantigas de amor apresentam uma linguagem mais erudita e sofisticada do que as de amigo. Sua estrutura é menos repetitiva, podendo ou não apresentar refrão.

“ Eu gran coita, senhor
que peior que a morte
vivo, per boa fé,
e pólo voss’amor
esta coita sofr’eu
por vos, senhor, que eu

Vi pólo meu gran mal,
e melhor mi será
de morrer por vós já
e, pois meu Deus nou val,
esta coita sofr”eu
por vós, senhor, que eu

Pólo meu gran mal vi
e mais mi val morrer
ca tal coita sofrer,
pois por meu mal assi
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu

Vi por gran mal de mi,
Pois tan coitad’and’eu.”

(D.DINIS)


CANTIGAS DE AMIGO

As cantigas de amigo apresentam eu lírico feminino, o trovador assume o ponto de vista da mulher. O “amigo” referido é, na verdade, namorado ou amante. Várias dessas cantigas se prestavam a festas, comemorações e rituais ligados à chegada da primavera.

A vida cotidiana, a saudade do amigo que partiu para às guerras, o ciúme, a indignação, a vaidade de ser bela, festas, bailes; enfim, o colorido do mundo medieval português podem ser sentido nessas cantigas.

Na maior parte das vezes, a mulher não se dirige diretamente ao homem amado; adota como confidente uma amiga, a irmã, a mãe ou um elemento da natureza.

Quanto aos aspectos formais, as cantigas de amigo apresentam linguagem mais simples que as cantigas de amor (devido a sua origem popular). Muitas apresentam refrão e estrutura paralelística.

“Mandad’ei comigo,
ca ven meu amigo:
e irei, madr’, a Vigo.


comi’gei mandado,
ca ven meu amado:
e irei, madr’, a Vigo.


ca ven meu amigo
e ven san’e vivo:
e irei, madr’, a Vigo.


ca ven meu amado
e ven viv’e sano:
e irei madr’, a Vigo.


ca ven san’e vivo
e d’el rei, amigo:
e irei, madr’, a Vigo.


ca ven viv’e e sano
e d’el rei privado:
e irei, madr’, a Vigo.”

( MARTIN CODAX)



CANTIGAS SATÍRICAS

Esse gênero da cantiga revela o mundo boêmio e marginal dos jograis, fidalgos, bailarinas; enfim, dos artistas da corte, aos quais se misturavam religiosos e até mesmo reis.
A distribuição entre as cantigas de escárnio e maldizer é muito sutil:

• Escárnio: crítica indireta, de forma velada e sutil, a identidade do alvo permanecia um pouco na sombra (mascarada).
• Maldizer: ataque nominal e direto, crítica rude, mencionando o nome da pessoa a ser criticada; usando linguagem desbocada, chula e obscenidades.



“Rui queimado morreu con amor
eu seus cantares, par Santa Maria,
por na dona que gran ben queria,
e por se meter por mais trabador,
porque lh’ela non quis [o] ben fazer
fez-s’el en seus cantares morrer,
mas ressurgiu depois ao tercer dia!

Esto fez el por ua sa señor
que quer gran ben, e mais nos em diria:
porque cuida que faz i mestria,
e nos cantares que fez sabor
de morrer i e desi d’ar viver;
esto faz el que se’o pode fazer,
mas outr’ omem per ren non [n] o faria.

E non há já de sa morte pavor,
senon as morte mais la temeria,
mas sabe ben, per sa sabedoria,
que viverá, dês quando morto for,
e faz [s’] en seu cantar morte prender,
desi ar viver: vede que poder
que ehi Deus deu, mais que non cuidaria.

E, se mi deus a min poder,
qual oi’el há, pois morrer, de viver,
jamais morte nunca temeria.”

(PÊRO GARCIA BURGALÊS)

IDADE MÉDIA – 2º MOMENTO


HUMANISMO

(O RITO DE PASSAGEM PARA O CLASSICISMO)


No segundo momento da Idade Média surgiu o Humanismo, quando o homem buscava outras maneiras de interação com o mundo, levado agora por uma racionalidade, que esbarrava ainda no teocêntrismo milenar imposto pela Igreja.

Novas formas de pensar e agir vão construindo um novo código de ética e, no século seguinte aflora o Classicismo Renacentista, caracterizado sobretudo pelo resgate da herança greco-latina, pelo antropocêntrismo, e pelo florescimento de uma nova cultura.

O Humanismo é o período intermediário entre o mundo clássico e inaugura um período que a história chama de Renascimento.

Quatro foram os tipos de produção que marcaram o século XV e o início do século XVI:

  • A historiografia de Fernão Lopes ( escreveu a história de Portugal com base em documentos, desprezando testemunhos frágeis ou duvidosos, mantendo a chama artística acesa, sem deixar que seu ponto de vista prevalecesse sobre os fatos verídicos).
  • A prosa didática (ou doutrinária), a poesia palaciana (poemas compostos em “medida velha” – redondilhas de cinco e sete sílabas poéticas- para o prazer da leitura e declamação, sem acompanhamento musical), e ainda o teatro de Gil Vicente.


Gil Vicente e o Teatro Português

Gil Vicente inaugurou o teatro português, encenando peças na corte para os nobres. Viveu no contexto histórico marcado pelas grandes descobertas e ao mesmo tempo pelo ambiente palaciano, medieval, religioso e conservador. Humanista, reflete o estado oscilante de um mundo velho e de sua decomposição.

O ser humano é seu objeto de preocupação. O homem de seu tempo, de qualquer categoria social, é motivo de reflexão porque vive num contexto em que os costumes se degradam. A crítica ao homem tem como função abrir sua consciência e reaproxima-lo de Deus.

Nas peças religiosas o autor coloca sempre um relevo a oposição de dois mundos: material e sobrenatural, profano e divino, trevas e luzes.
Obras principais: Farsa de Inês Pereira, Auto da Barca do Inferno e Auto da Alma.

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