sábado, 10 de dezembro de 2011

Interiores Holandeses, de Joan Miró


Contemporâneo do fauvismo e do cubismo, Miró criou sua própria linguagem artística e procurou retratar a natureza como o faria o homem primitivo ou uma criança, que tivesse, no entanto, a inteligência de um homem maduro do Século 20.

Joan Miró nasceu em Barcelona, na Espanha, em 20 de abril de 1893. Apesar da insistência do pai em vê-lo graduado, não completou os estudos. Freqüentou uma escola comercial e trabalhou num escritório por dois anos até sofrer um esgotamento nervoso. Em 1912, seus pais finalmente consentiram que ingressasse numa escola de arte em Barcelona. Estudou com Francisco Galí, que o apresentou às escolas de arte moderna de Paris, transmitiu-lhe sua paixão pelos afrescos de influência bizantina das igrejas da Catalunha e o introduziu à fantástica arquitetura de Antonio Gaudí.

Joan Miró Painting of Toledo
                                                         Joan Miró Painting of Toledo

     Miró trazia intuitivamente a visão despojada de preconceitos que os artistas das escolas fauvista e cubista buscavam, mediante a destruição dos valores tradicionais. Em sua pintura e desenhos, tentou criar meios de expressão metafórica, ou seja, descobrir signos que representassem conceitos da natureza num sentido poético e transcendental. Nesse aspecto, tinha muito em comum com dadaístas e surrealistas.

     De 1915 a 1919, Miró trabalhou em Montroig, próximo a Barcelona, e em Maiorca, onde pintou paisagens, retratos e nus. Depois, viveu em Montroig e Paris alternadamente. De 1925 a 1928, influenciado pelo dadaísmo, pelo surrealismo e principalmente por Paul Klee, pintou cenas oníricas e paisagens imaginárias. Após uma viagem aos Países Baixos, onde estudou a pintura dos realistas do século XVII, os elementos figurativos ressurgiram em suas obras.
 Joan Miro Painting "Kissing"
                                                          Joan Miro Painting "Kissing"

Em 1928 Joan Miró viajou para Holanda com o intuito de visitar alguns museus. Ele era fascinado pela arte holandesa do século XVII, cheias de minúcias e detalhes.
De volta a Paris Miró levou consigo alguns postais da arte holandesa que ele tanto admirava. Propôs-se então a fazer alguns trabalhos tendo como fonte de recursos as pinturas que mais marcaram seu olhar.
Hendrick Sorgh e Jan Steen dois mestres da pintura holandesa daquele período inspiraram Miró a criar uma série de três pinturas chamadas por ele de Interiores Holandeses.
Elas representam alguns dos mais importantes trabalhos de Miró de sua fase surrealista.
Dedicou-se arduamente a investigar e recriar a seu modo as obras holandesas através de desenhos e esboços a lápis.
Miró deu sua contribuição a uma longa tradição de cópias criativas, nas quais os artistas reinterpretam obras importantes de seus predecessores, usando-as como fonte de inspiração para a criação de novas obras de arte. Coisas de mestres!
A exposição traz um intrigante e surpreendente encontro entre a era de Ouro Holandesa (Dutch Gold Age) e os movimentos de vanguarda do século XX. Jan Steen foi um dos mestres da Dutch Golden Age, e no final dos anos vinte gozava de grande fama. Miró naquele tempo era considerado um dos grandes expoentes do surrealismo e da pintura e se tornou um dos mais influentes e importantes artistas de sua geração. Nos Interiores Holandeses as cenas originais (das obras holandesas) passam por uma metamorfose completa. Através da imaginação criadora de Miró elas são decodificadas a trazidas ao mundo mágico e surreal do mestre catalão.


 
                       Interior Holandês I, 1928.Miró.                O tocador de alaúde, 1661 - Hendrick Sorgh
                                       
Interior Holandês II, 1928,Miró.        A lição de dança,1660-1679. Jan Steen.

 
                       Interior Holandês III, 1928. Miró.               A Família Feliz, de Jan Steen

                                              
     Na década de 1930, seus horizontes artísticos se ampliaram. Fez cenários para balés, e seus quadros passaram a ser expostos regularmente em galerias francesas e americanas. As tapeçarias que realizou em 1934 despertaram seu interesse pela arte monumental e mural. Estava em Paris no fim da década, quando eclodiu a guerra civil espanhola, cujos horrores influenciaram sua produção artística desse período.

     No início da segunda guerra mundial voltou à Espanha e pintou a célebre "Constelações", que simboliza a evocação de todo o poder criativo dos elementos e do cosmos para enfrentar as forças anônimas da corrupção política e social causadora da miséria e da guerra.

     A partir de 1948, Miró mais uma vez dividiu seu tempo entre a Espanha e Paris. Nesse ano iniciou uma série de trabalhos de intenso conteúdo poético, cujos temas são variações sobre a mulher, o pássaro e a estrela. Algumas obras revelam grande espontaneidade, enquanto em outras se percebe a técnica altamente elaborada, e esse contraste também aparece em suas esculturas. Miró tornou-se mundialmente famoso e expôs seus trabalhos, inclusive ilustrações feitas para livros, em vários países.

     Em 1954, ganhou o prêmio de gravura da Bienal de Veneza e, quatro anos mais tarde, o mural que realizou para o edifício da UNESCO em Paris ganhou o Prêmio Internacional da Fundação Guggenheim. Em 1963, o Museu Nacional de Arte Moderna de Paris realizou uma exposição de toda a sua obra. Joan Miró morreu em Palma de Maiorca, Espanha, em 25 de dezembro de 1983.

Abaixo alguns esboços e estudos para Interiores Holandeses:


Em Paris, a arte de Miró emergiu com o movimento surrealista, quando pintava Carnaval de Arlequim - pintura que refletia com exatidão o pensamento de André Breton, líder do movimento, expresso em seu Manifesto Surrealista de 1924.

 No ambiente parisiense pairava o espírito moderno e revolucionário das vanguardas históricas. A visualidade de Miró integra-se nesse contexto como reflexo dessas correntes artísticas: o clima anedótico do Dada e o caráter onírico do Surrealismo. 

veja mais em : http://joanmiro.com/
Essa obra do acervo do MAC-USP é um exemplo da união de valores dada e surrealistas: apresenta uma espécie de ectoplasma em uma praia deserta ao lado de luas, olhos, círculos, compondo uma paisagem surreal, ao mesmo tempo em que faz alusão ao espírito Dada, através de seu grafismo, com formas que parecem ter sido tiradas de revistas em quadrinhos.

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