segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Redação nota 10 : Normalidade/Anormalidade

TEMA: “Reflexões acerca do olhar sobre a normalidade e a anormalidade“.

DE PERTO, NINGUÉM É NORMAL

O poeta Caetano Veloso, certa vez, disse que, de perto, ninguém é normal. Para isso, ele se valeu do que é entendido como a normalidade dentro de nossa sociedade. Considerando que tanto esse conceito quanto o da anormalidade são previamente estabelecidos, fluidos de uma cultura para outra, é preciso refletir até que ponto eles afetam a personalidade das pessoas. Se pensar e agir de maneira diferente do habitual pode ser visto como estranho, descontextualizado e, até mesmo, anormal, isso é capaz de podar as liberdades e desejos individuais, e uma discussão profunda sobre o assunto se faz necessária.

Em primeiro lugar, é possível afirmar que, como se vive em uma sociedade de massa, as pessoas tendem a ser muito parecidas. Com a difusão, por parte da mídia, de dogmas de comportamento, a tendência geral é a da homogeneização. Por isso, o que é diferente destoa na multidão, e é visto como anormal ou inadequado. Porém, em um contexto de globalização, esses mesmos meios de comunicação divulgam com velocidade e intensidade os mais diferentes hábitos e costumes. Considerando que o que é considerado normal pode mudar de uma cultura para outra, esse conceito é maximizado, ampliando a capacidade de aceitação do, até então, diferente.

É necessário, ainda, apontar a diferença entre normal e comum. Quando algo se torna corriqueiro, as pessoas tendem a inserir o fato no conceito de normalidade, embora não o seja. No Brasil, por exemplo, a violência é tão presente na vida dos cidadãos das grandes cidades, que já é encarada como parte do dia a dia do cidadão. É perigoso, entretanto, cair no comodismo e aceitar atos violentos como normais, pelo simples fato de serem tão freqüentes. Eles são, sim, comuns, mas não pode ser visto como algo diferente de anormal um cidadão caminhar com medo pelas ruas, evitar certos lugares em determinados horários, ou aceitar que, possivelmente, ele será assaltado na próxima esquina.

Por fim, é preciso refletir como o que é socialmente aceito como normal pode fazer mal. Em um mundo altamente competitivo, no qual o mercado de trabalho é cada vez mais exigente, já é considerado natural que o indivíduo procure estudar, entrar em uma universidade, falar mais de dois idiomas, para poder ter uma chance de crescer na vida. Embora possa trazer bons frutos, esse processo de racionalização da vida dentro do que é considerado normal pode levar ao atrofiamento da abstração e da capacidade criativa. É quase impossível fugir a essa regra sem ser visto como anormal pela sociedade, e isso pode levar à infelicidade e depressão crônicas.

Portanto, para vivermos harmonicamente em sociedade, é preciso estabelecer que existe uma linha tênue que separa o subjetivo conceito entre normal e anormal. Considerando que, primeiramente, a loucura é definida sempre por aqueles que não se acham loucos, essa visão pode mudar de uma pessoa para outra sem que, necessariamente, uma delas esteja errada. Precisamos praticar o exercício da aceitação de diferentes hábitos, culturas e costumes, nos fazendo valer na incrível capacidade que os meios de comunicação em massa têm para nos proporcionar isso, pelo rápido acesso a um mundo de conhecimento. Se todos fossem racionalmente normais, o viver perderia toda a leveza. De perto, ninguém é normal, e uma pequena dose de anormalidade é o que nos permite continuar sobrevivendo.


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