terça-feira, 17 de abril de 2012

Resenha: O Quinze, de Rachel de Queiróz


Portinari, Retirantes

Publicado em 1930, os romancistas da segunda década do século XX, assim como aqueles que escreveram seus romances no decorrer do terceiro decênio dos novecentos, já haviam travado contato com A Bagaceira de José Américo de Almeida, cuja primeira edição deu-se em 1928. O certo é que, após a chamada fase heroica do modernismo, os anos de 1930, no que toca a produção de romances produzidos no nordeste do país, ganhou títulos e nomes que se tornariam os mais representativos da literatura brasileira. Raquel de Queiroz destaca-se como sendo uma das poucas mulheres que se aventuraram pelos caminhos da prosa regionalista.

O quinze foi recebido com grande espanto por Graciliano Ramos, que elogiou a obra, porém não acreditou que a mesma havia sido escrita por uma jovem de apenas vinte anos. O autor de Vidas Secas pensou que houvesse algum barbudo valendo-se dum pseudônimo feminino, haja vista a força do romance; desse modo, o romancista pensou tratar-se duma boa pilheria.

Logicamente, Queiroz mostraria uma prosa ainda mais vigorosa nos seus romances subsequentes. Todavia, não se pode deixar de dizer que O quinze é, de facto, um excelente livro de estreia.

O enredo do romance centra-se na figura de três personagens principais – Conceição, Vicente e Chico Bento – e alguns secundários que estão ligados a esses. A primeira, uma moça normalista formada, mora em Fortaleza, no entanto, em seus períodos de férias vai para o Sertão visitar a avó. Vicente, por seu turno, trabalha duro na lida como gado e nutre um sentimento especial por Conceição. Já Chico Bento é um empregado numa das fazendas do sertão, o homem mora perto de Vicente e, os dois, por sua vez, estão próximos da cidade de Quixadá.
O título do livro remete à seca que acometeu o Ceará em 1915. É a partir desse evento catastrófico da natureza que as personagens vivenciam seus conflitos basilares. Assim, o romance desenvolve-se, num primeiro momento, em dois planos: um centra-se, mormente, no afeto que entre Vicente e Conceição; o outro traz à baila a luta de Chico Bento e a família que se tornam retirantes e, a pé, rumam para a capital. Na segunda metade da narrativa, essa tríade de personagens, bem como aqueles que estão, dum certo modo, ligados a elas, têm seus destinos cruzados.

A descrição da sofrida viagem de Chico Bento, sua esposa e seus filhos é feita de maneira crua. Chega a lembrar, em alguns momentos, as cenas que Teófilo escreveu em A Fome. A morte dum dos garotos, por exemplo, é descrita no melhor estilo naturalista, isto é, realizada, de fato, para chocar o leitor. A lida de Vicente que trazem a lume os efeitos da seca são narradas dum modo mais leve. Penso que a estratégia da autora foi a de, justamente, alternar entre os momentos mais duros (a violenta viagem de Chico Bento) e uma leve história dum possível romance entre o fazendeiro e Conceição.

Entretanto, como já foi dito, assim que os retirantes conseguem chegar a Fortaleza, eles encontram a jovem professora que ajuda os retirantes que ficam acampados num local da cidade e esperam a ajuda do Governo. Vicente também ruma para a Capital para encontrar Conceição e sua tia-avó, que devido à seca vai para Fortaleza para residir com a professora.

A descrição do campo em que os retirantes são colocados também sofrem um pouco da influência naturalista. A condição das pessoas é precária, a fome, a doença e outros males afligem a todos.

O quinze é um bom romance. Traz as características neorrealistas que tomaram conta de boa parte da produção de 30. Contudo, penso que Rodolfo Teófilo, mesmo sofrendo as limitações das teorias cientificistas que permearam toda a segunda metade do século XIX, fez um trabalho mais apurado ao descrever a seca de 1870. Lado outro, o romance de Queiroz é mais enxuto objetivo e claro. Enfim, a obra pode agradar a todos os leitores!


 Clóvis Graciano, Retirantes.

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