quarta-feira, 6 de março de 2013

Qual princesa a sua filha é?



 
Enquanto os meninos passam a infância escolhendo superpoderes de seus heróis preferidos, as garotas têm que se contentar com as princesas que têm como atributo a beleza? Isso não parece justo...

Como sou mãe de um casal, acostumei a ver meus filhos sempre brincaram bastante juntos (ainda bem!), sem distinção de sexo: a Bruna joga bola e o João brincava de escola. Bonecos e bonecas também conviveram pacificamente entre si, no meio de dinossauros e panelinhas. E, vai ver por isso, a Bruna nunca se ligou muito na fantasia de ser uma das princesas da Disney, como várias de suas coleguinhas que não tinham irmão mais velho. Entre a Cinderela e as fantasias herdadas do Batman, Homem Aranha, Superman, ela preferia os super-heróis, basicamente porque não eram vestidos e, por isso, mais confortáveis pra brincar. Das heroínas femininas dos contos de fadas, gostava da Ariel. O motivo? Por que ela nadava!

 A antropologia, que entre coisas explica que masculinidade e feminilidade não são pautadas pela natureza, mas sim apreendidas pelos nossos modos de socialização, entenderia que para a Bruna a imagem de princesa não serviu como referencial para sua feminilidade. Ou seja, ser a dama que fica esperando seu príncipe pra história acontecer parece não fazer a cabeça da minha filha. Se for assim, acho que é sorte dela. Afinal, feminilidade é muito mais do que isso. Nós, as mães dessas meninas de hoje não crescemos com essa fantasia superfaturada – até porque a indústria das princesas Disney é uma invenção de duas décadas pra cá, criada, em parte, pela necessidade de mercado de vender produtos e brinquedos para a faixa feminina dos 3 aos 8 anos. 
 
Brincadeira de criança, como vemos, é assunto sério. A pesquisadora Michele Escoura, do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, inclusive usou as princesas com tema de sua recém lançada tese. Uma dos pontos mais interessantes dessa pesquisa, feita com meninas de 5 anos, foi definir a preferência delas entre a Cinderela e a Mulan – esta última, na descrição da Disney, “uma princesa rebelde que desencadeia os acontecimentos na história a partir de suas ações”. Bom, as meninas em massa preferiram a Cinderela e, segundo a pesquisadora, elas nem consideravam a Mulan princesa, já que não tem cabelos longos, não usa vestido e nem se casa no final!
 
Argumento de criança é coisa mais séria ainda, e, nesse caso, o que o experimento da pesquisadora está mostrando, na minha opinião, é que o modelo de feminilidade que estamos comprando (e vendendo) está relacionado a um padrão estético pasteurizado e a um comportamento vulnerável da mulher, que só seria feminina se, no final da história, se casasse. Portanto, parece que estamos brincando errado com nossas meninas... Claro que não há mal algum em viver o conto de fadas, ao contrário, é pela fantasia que nossas filhas vivenciam experiências lúdicas e de aprendizado que são incomparáveis. Quem não quer dançar no fundo do mar, bailar na corte e ter fadas madrinhas? Que ótimo que ser princesa permita isso! E que ótimo também saborear ter superpoderes, salvar a humanidade com um sopro congelante ou com um cinto de mil e uma utilidades... Uma menina que cresce assim, com diversidade e riqueza de referenciais, aprende que não há apenas uma maneira de ser feminina e feliz, não acha? 

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