![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs2HBWdU-yhywEf6p6frigsptF00vftii4q2In4or2-aPbzskHJJtGCixiGIrmTLGgP6aX-yXeDz_AySaAADaAqEJ4jpHIKpSlmuNJY7kKd5luJHeB0gLY5bGn0waKN6VrjHgNNhTg62CY/s400/Rugendas+-+Missa+em+Pernambuco.jpg)
A fotografia jornalística, as imagens que documentam o homem e o seu cotidiano, a cidade e o campo, a paisagem e os fatos gerados por ela, é hoje uma realidade corriqueira, que pode ser exercida por qualquer um, desde que se tenha uma objetiva na mão e observe o mundo ao seu redor. Nem sempre dispositivos como uma câmera digital, estiveram à disposição. Cabia no passado, aos desenhistas e pintores retratarem o cotidiano do mundo em que viviam, através de litografias que registravam o seu tempo e a sua época.
O Brasil colonial foi fartamente retratado por grandes pintores e desenhistas, como o francês Jean-Baptiste Debret e o alemão Johann Moritz Rugendas. Pintores e desenhistas das cenas brasileiras da primeira metade do século XIX, eles trazem a paisagem humana viva de uma colônia que elevada à categoria de reino unido, ainda não rompera com as amarras econômicas que se sustentava pela escravidão tanto dos negros africanos quanto dos indígenas nativos. Do homem à botânica, das etnias que construíam a Colônia aos animais que habitavam as suas florestas, tudo foi retratado por estes grandes desenhistas.
Aqui fazemos uma viagem ao Brasil colônia do século XIX, com Debret e Rugendas (autor da gravura acima, “Missa de Nossa Senhora da Candelária em Pernambuco”, da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”), mergulhando em um passado que não mais existe, mas mesmo distante, deixou suas marcas indeléveis na paisagem humana e nos costumes da nação que se construiu a partir desta época.
Jean-Baptiste Debret e a Missão Artística Francesa
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), pintor
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbAwyz-llYMkbxvMQrzyHIHuNEoIKlxmQLvuWCYvnsYu7pOxVN_Jb0VmaBr-pMFgFT_Eg6fQFMTrrWXUxo_-SO_K1pwItzZh8DXopu8VrmlkHyBRAJ32RutjaTJ1wR0bev7DkRCzuYiCw-/s400/Debret.jpg)
Durante a época que esteve no Brasil, de 1816 a 1931, Debret, com os seus traços do neoclassicismo, retratou com detalhes históricos únicos o Brasil de então. Da corte portuguesa no país à corte instalada pelo proclamador da independência, dom Pedro I, nada passou despercebido na obra de Debret. Quando retornou à França, publicou, entre 1834 e 1839, “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil” (Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil), que documentava os aspectos do homem, da natureza e da sociedade brasileira.
O Brasil de Debret
As gravuras aqui mostradas têm textos do próprio Jean-Baptiste Debret, extraídos de “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVPLK0-faa9Rk1T1JW7zCuie47pXWkNqTdt3NUTiR7ON5jIV2-FTCDN2fID4AppSa54_G4dhcFFEM1iI_BS3jYFHqnql8Kamo6Q4pB2LnJ71hY8xk0n-95zqZgsxmy9t4-3nziYSd3dfB_/s400/Debret+-+Charruas+Civilizados.jpg)
... É somente na província de São Pedro e de Espírito Santo que se encontra grande número de Charruas civilizados, a maior parte originários do Paraguai. Andam quase sempre a cavalo, envolvidos pelo poncho... e trazem sempre uma grande faca à cintura, ou simplesmente colocada em uma das botas. O comércio de animais é a sua principal ocupação; e freqüentemente, sob o nome de peões, servem de guias aos viajantes que percorrem estas províncias. Não menos intrépidos a pé que a cavalo, eles não temem atacar a onça, o braço esquerdo envolvido pelo poncho com toda precaução, e coberto por um pedaço de couro. Assim preparado ao combate, e tendo na mão direita a sua faca, ele vai ao encontro do animal e o desafia. O caçador avança o braço esquerdo, e quando a onça arremete, ele lhe mergulha a faca no peito e a mata de um só golpe. Este gênero de combate lhes é tão familiar que estão sempre dispostos a proporcionar soberbas peles de onça pela quantia de cinco francos (um patacão); é uma especulação que eles reservam para fazer frente às despesas com suas diversões, pouco variadas na verdade, pois consistem em passar grande parte de seu tempo nas tavernas fumando, bebendo aguardente e jogando cartas, prazer que termina quase sempre em golpes de faca. Embora naturalmente inclinados ao roubo e ao assassinato, eles são de uma fidelidade a toda prova, caso tenham sido contratados para a escolta de um viajante.”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxvQBvinqu_II5UvpKjt7tJ6QIHpWTQ5fqiH9C4iag36NsEoevjg-U7tDRbzZgRddFb-LDRmfu9LXDhfjy_-Ei8ToJeIsyC1cj3nnRCenYDx4Xkslxg6PIa21uDmST7lo0uid99WOv8ABn/s400/Debret+-+Le+Retour.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-E7RUoCfmvOOrDq5HK_vO52LB8kAvrREo_J6EkfN4YQ0m83N_zsaC9gvvdNjkbSAd1alWeLn0dvHeuJFZUZzXYm_kdW3EVNOs27hOASCrv47v6mDyRCB4Za3UlDcWQ_m-TOqzAKiML1vc/s400/Debret+-+Selvagens+Civilizados.jpg)
Estes soldados aguerridos... dormem sem acender fogo na floresta, para que sua presença não seja percebida pelos selvagens que eles procuram surpreender... Cada ano, numa certa época, o governo lhes dá munições para a campanha; uma vez em marcha, eles não retornam antes de haver esgotado suas provisões de guerra; então, repousam até a campanha seguinte. Durante este intervalo eles cultivam suas terras e servem de guia aos viajantes estrangeiros... Sua tática é atacar os ranchos dos selvagens, matar os homens e trazer prisioneiras as mulheres e crianças. Selvagens até época recente, eles mostram-se mais aptos que os europeus a empregar as artimanhas necessárias a este gênero de expedições.”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXD4PWW0kdEeifipjyzPvDu0HLEubQP1dnx-Q48KL0thHrainV_XpmHW2Ia_3Un8IEtbAW1CrEsfukpOwbgU6LJXov7iySuTnLaBrW5F-1Lq4UaLJNWQ9_AfsuZ84FKl3SvjG39m4DgANY/s400/Debret+-+M%C3%BAmia+Chefe+Coroado.jpg)
Os Coroados tinham antigamente o costume de enterrar seus chefes de uma maneira particular: os restos mortais deste chefe reverenciado eram encerrados em um grande vaso denominado camucis, enterrado em seguida profundamente junto a uma grande árvore...
Estas múmias, revestidas de suas insígnias, estão perfeitamente intactas, e são sempre colocadas, em sua urna funerária, de modo a conservar a atitude de um homem sentado sob seus calcanhares, posição habitual do selvagem quando em repouso. Pretendiam, por este meio, fazer uma alusão à morte, este eterno repouso?”
Rugendas, Vindo com a Expedição do Barão de Langsdorff
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIX6hWzOloKj3r7cRuIGwxvrRrbN-bpd_xCgUlAlAko2DARAJiywtvU_QAPW6quLLC-1rJEUBHc_UKYah1CoWR3ZtWmtzO6yAflaIEfGhf6dWZu712c-nZ2PD1hsR1wtHYyHKBJo-vQPsw/s400/Rugendas+1.jpg)
O desenhista Johann Moritz Rugendas (1802-1858), nascido em Augsburg, chegou bem jovem ao Brasil, em 1921, vindo como membro da expedição do Barão de Langsdorff, cientista e diplomata russo.
No Brasil, Rugendas logo deixou a expedição e passou a viajar por sua própria conta, percorrendo de 1822 a 1825 várias partes do país, dedicando-se a retratar os mais variados aspectos da vida da nação que se formava depois da independência em relação a Portugal. Rugendas registra justamente o momento de transição entre o Brasil colônia e o Brasil nação independente.
Os registros de Rugendas do cotidiano brasileiro, formaram uma coletânea de cem trabalhos publicada em Paris, em 1835, sob o título de “Voyage Pittoresque au Brésil” (Viagem Pitoresca ao Brasil).
O Brasil de Rugendas
É da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”, que se extraiu os textos que ilustram as imagens aqui apresentadas, escritos por Koster, citados por Rugendas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3Sw_C6J2pM_caHv6ZaH55kxGI5_2Nc-VtBq6iqCZJPKG_9_yHt4MQU50EbFwS4D1ZWPnR3EtcUzxau_WeDh6XSLRdIQsZg9ogP0moV6xf8bhCIxuvtIyxvGwls85UkFvqXuyaHHpaXUPT/s400/Rugendas+-+Por%C3%A3o+Navio+Negreiro.jpg)
E somente quando o novo escravo se acha completamente refeito das conseqüências da travessia que se começa a fazê-lo tomar parte nos trabalhos agrícolas...”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTRjyyB5wSlKLElGRbVsjSfnHnnrrrO7THfqqSV2ZtEQSC2xlFklmdtcXom9ASTI_szuzF9LRuvJQvJTjmS28Irw1y7RORad0F6bJhzuqeL23IMYdrtSuk5KwjB3wkramz3goTZFNa6QCo/s400/Rugendas+-+Habita%C3%A7%C3%A3o+de+Negros.jpg)
As mulheres casam-se com catorze anos, os homens, com dezessete e dezoito; em geral incentivam-se esses casamentos. As jovens mulheres participam do trabalho do campo e aos recém-casados se dá um pedaço de terra para construir sua cabana e plantar, por conta própria, em certos dias... Nos domingos, ou dias de festa, tão numerosos que absorvem mais de cem dias por anos, os escravos são dispensados do trabalho por seus senhores e podem descansar ou trabalhar para si próprios... Assim, um dos mandamentos da Igreja Católica, tão amiúde censurado como abusivo e pernicioso, tornou-se um verdadeiro benefício para os escravos, e quando o Governo português achou que devia atender às necessidades do progresso, tomando medidas para diminuir o número de festas, a inovação não alcançou a aprovação dos homens mais esclarecidos do Brasil. Diziam estes, com razão, que o que podia ser benefício para Portugal não passava de crueldade para com os escravos. Que responder a isso, senão que essa contradição já constitui uma prova do absurdo de todo o sistema? Como quer que seja, as cabanas dos escravos contêm mais ou menos tudo que neste clima pode ser considerado necessário. Por outro lado, eles possuem galinhas, porcos, às vezes mesmo um cavalo ou uma besta, que alugam com vantagem porque a alimentação nada lhes custa.”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtJzTZoBvrFWfK7y7HHUD59qpJAs4vF5XxsjAuDm4VLQyEVdBDKZUU7PZKjK-hfmHIvNBwTJBb55kRsPI2ri_UDZlNA5xQX8Z0pDpo0wHOSWD2QMGPPujS2ATPZDOnuggt6X3chZjJYOJl/s400/Rugendas+-+Guerrilhas.jpg)
...limita-se o governo a instalar, nos lugares mais expostos do país, ou naqueles em que a estrada atravessa a floresta, quartéis ou presídios; são geralmente simples postos, com alguns soldados, sob o comando de um suboficial...
Quando os índios praticam algum ato de hostilidade em determinado lugar, ou quando, como acontece, atacam de surpresa um desses postos, para puni-los e amedrontá-los faz-se uma entrada. Reúnem-se alguns postos, sob o comando do capitão do distrito e dá-se caça aos índios, atacando-os em toda parte onde se encontrem. Procura-se de preferência surpreendê-los nos acampamentos e, quando descobertos, são cercados durante a noite, e ao clarear do dia faz-se fogo, de todos os lados, contra os índios ainda adormecidos. Assim surpreendidos, os selvagens tentam escapar pela fuga. Em regra geral, os soldados massacram tudo que lhes cai nas mãos e só poupam as mulheres e crianças muito raramente, e assim mesmo quando cessa toda a resistência, a qual é, não raro, obstinada.“
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4eezqtQ4CD-hOmAdWyvqWrTVuEowoXIGhzZbd7snsBGm0boqaqbymmivBPviLOD4SbOjQSsBWuYl9_Z8F1I8a7koqHjCYfi2p61N0s7SnpMwt3IB9YLPE3Cu4cAxPCWZMl_Gwj629uAZe/s400/Rugendas+-+Festa+do+Ros%C3%A1rio.jpg)
... Às onze horas fui à igreja com o capelão e, não demorou muito, vimos chegar uma multidão de negros, ao som dos tambores. Homens e mulheres usavam vestimentas das mais vivas cores que haviam encontrado. Quando se aproximaram, distinguimos o Rei, a Rainha, o Ministro de Estado. Os primeiros usavam coroas de papelão, recobertas de papel dourado... As despesas da cerimônia deviam ser pagas pelos negros, por isso haviam colocado na igreja uma pequena mesa à qual estavam sentados o tesoureiro e outros membros da irmandade negra do Rosário, os quais recebiam os donativos dos assistentes dentro de uma espécie de cofre.”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFyBUKXh1xNBdTUDshsdDz7CPPWx-P1pEdaId29zAY_GFcvsLmsvHFSOunposyYip4J13ySL3AWXKRVZij2Puw2LTW2o3kXkIUMupbmKC_UXbe4l4Rbcfbydz9GfMONlXn_vAMvGmXa4YF/s400/Rugendas+-+Ca%C3%A7a+a+On%C3%A7a.jpg)
Há três espécies de flecha. Uma de ponta larga, feita em geral de bambu tangaraçu; é dura e muito aguçada. Para aumentar ainda a força da penetração, a ponta é encerada e a taquara, também encerada ao fogo, torna-se tão dura quanto o chifre. Como na taquara a ponta é oca, os ferimentos que ela produz sangram fortemente. Por isso é empregada, principalmente, na guerra e na caça de grandes animais.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário