sábado, 30 de julho de 2011

RÔMULO E REMO - A FUNDAÇÃO DE ROMA

 

Quando Roma tornou-se a cidade mais importante do mundo, era preciso que se lhe desse uma origem mítica e esplendorosa, que deixasse aquém a verdade de ter sido fundada por simples pastores. Desprovidos da tradição escrita na época da fundação, a Roma emergente, poderosa e dona do mundo antigo, utilizou-se da tradição oral para explicar poeticamente, através de várias lendas existentes, o seu nascimento.

Movidos pela assimilação da cultura helênica, os romanos tomaram para si vários dos deuses da mitologia grega, assimilando-os aos seus próprios. Aceitar abertamente a influência da cultura dos helenos era para os romanos um acinte no orgulho latino. Para contrapor-se aos gregos, os romanos foram buscar como fundador um descendente do mito de Enéias, herói troiano, único sobrevivente da guerra, que teria fugido da Ásia Menor e aportado na península Itálica. Da prole de Enéias surgiriam os gêmeos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte com uma mortal. Rômulo teria sido o fundador da maior cidade da antiguidade e o seu primeiro rei.
Ao proclamarem Rômulo como fundador de Roma, os romanos davam à cidade uma independência aparente da cultura helênica, fazendo dos troianos, maiores inimigos dos gregos, vencedores de uma guerra vencida pelos latinos, além de atribuírem a origem divina à cidade que se tornara a mais poderosa do mundo.
Nas bases de Roma, os gêmeos amamentados por uma loba, escolheram erguer uma cidade em lugares diferentes. Remo escolheu o monte Aventino, Rômulo o Palatino. A escolha de Rômulo foi aplaudida pelos deuses. Desdenhado, Remo provoca o irmão até que é morto por ele. A cidade ergue-se na sua colina mais famosa, vertendo o sangue de um dos gêmeos, numa demonstração do sangue que se deveria derramar para que se tornasse a capital do maior império do mundo antigo. Rômulo é o lado místico e imortal da cidade que se iria denominar eterna. É o glamour do pastor transformado em filho do deus da guerra, do guerreiro conquistador opondo-se ao agricultor do início de uma cidade que se mostraria imprescindível na formação da civilização moderna.

Enéias, Um Sobrevivente Troiano

Para não se ofuscar à superioridade cultural dos gregos, os romanos, quando no apogeu do seu poder, criaram um mito que se igualava a Aquiles em bravura, e a Odisseu (Ulisses), em inteligência estratégica. Enéias foi situado em Tróia, sendo o inimigo dos gregos que não sucumbiu a eles.
Enéias era filho da deusa do amor Afrodite (Vênus), fruto do seu romance com o mortal e pastor Anquises. Assim, o mito dá o aspecto divino aos descendentes de Enéias, fazendo-o simultaneamente, o herói que os helenos não conseguiu destruir.
O mito de Enéias surge imponente em pleno final da guerra de Tróia, quando a cidade em chamas, é reduzida a ruínas. Casado com Creúsa, filha do rei Príamo, soberano troiano, ele perde a mulher durante a fuga, sendo ela consumida pelo fogo. Já morta, Creúsa aparece como uma sombra, ordenando ao marido que parta e leve o filho Ascânio, profetizando que seria pai de reis poderosos e de um novo reino em terras distantes. Enéias obedece, deixando a cidade, levando consigo o filho Ascânio, neto de Príamo, último rei de Tróia, o pai Anquises, e vários cidadãos troianos sobreviventes da catástrofe da guerra.
O mito de Enéias iguala-se ao do herói grego Aquiles e do herói troiano Heitor. Em Ascânio está a vingança erudita romana sobre a civilização helênica, fazendo dos antepassados do fundador de Roma neto de um eminente soberano inimigo.
A saga de Enéias, a partir das ruínas de Tróia, até aportar no Lácio, é epicamente contada na “Eneida”, de Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.), numa versão latina que lembra a “Odisséia”, de Homero (século IX a.C.). Enéias aporta na ilha dos Ciclopes, onde habita Polifemo, que tinha o seu único olho no meio da testa vazado por Ulisses. Assim como o herói grego, Enéias escapa à fúria do Ciclope.
Em Cartago vive uma tórrida paixão com Dido, a rainha do lugar. Ali fica, até que Júpiter ordena a sua partida, pois tem planos para ele em outras terras. Por ordem divina, Enéias abandona a bela amante. Ao ver o navio do amado distanciar-se no horizonte, Dido decide pôr fim à vida. Manda erguer uma pira, simulando ao seu povo um sacrifício aos deuses. Deitada sobre a pira, Dido trespassa mortalmente uma espada no corpo, lançando um derradeiro grito no ar. Seu corpo é devorado pelo fogo da pira que mandara os súditos erguerem. Em alto mar, Enéias vê as chamas que ardem em Cartago, sem saber que elas devoram o corpo da amada.
Durante toda a sua peregrinação pelo mar Mediterrâneo, Enéias é perseguido por Hera (Juno), a poderosa deusa mulher de Júpiter, que odeia os troianos. Mas o senhor dos deuses protege o guerreiro e herói troiano.
Ao aportar na península itálica, Enéias encontra-se com Heleno, que o conduz até a caverna da Sibila de Cumas, sacerdotisa do deus Apolo. A profetisa leva Enéias ao Érebo, onde se encontra com Anquises, o pai morto. Anquises mostra ao filho o futuro glorioso dos seus descendentes, e como irá dominar o Lácio.
Enéias e os troianos sobreviventes aportam no Lácio. O herói é recebido com alegria por Latino, rei do lugar. Ao conhecer Lavínia, filha de Latino, Enéias apaixona-se por ela. Mas a bela princesa está prometida a Turno, o rei dos rútulos. Apesar do compromisso, Latino tende a entregar a filha para o forasteiro troiano, pois pouco tempo antes dele chegar, o fantasma do pai morto aparecera-lhe, avisando-o de que um genro vindo de longe transformaria o seu reino no mais importante do continente, fazendo-o imortal na memória do povo. Latino identifica Enéias como o herói da profecia. Entrega ao troiano a filha como esposa.
Ao saber que Lavínia seria dada em casamento a Enéias, Turno desencadeou uma longa e sangrenta guerra contra os troianos. Turno juntou os latinos e os rútulos contra os troianos, tendo ainda, o apoio de Mezêncio, rei exilado dos etruscos. Acossados, Enéias e os troianos sentem que serão aniquilados. Em sonho, os deuses aconselham o troiano a procurar Evandro, rei da Pantaléia. Inimigo declarado de Mezêncio, Evandro junta os exércitos etruscos, comandados pelo filho Palas, aos troianos, numa luta sangrenta contra os latinos e os rútulos.
No meio das batalhas, Palas tomba de um lado, e Mezêncio do outro. No combate final, entre Enéias e Turno, o troiano mata o rútulo. Com a vitória, Enéias toma Lavínia como esposa, fundando ao seu lado uma cidade que recebe o nome de Lavínio. Juntos, troianos e latinos formam um povo único. A derrota de Tróia pelos gregos está vingada. De Enéias, o troiano, virá o fundador de Roma, que irá subjugar os gregos e toda a cultura helênica.

Os Gêmeos Amamentados Por Uma Loba

Reza a lenda que Ascânio, o troiano, filho de Enéias, reinaria sobre Lavínio por trinta e três anos, até que fundou a cidade de Alba Longa, passando a coroa de Lavínio para o irmão Sílvio, fruto do casamento de Enéias com Lavínia.
Ascânio governaria com sabedoria sobre Alba Longa, formando uma série de reis albanos legítimos, que se iria encerrar em Numitor, avô de Rômulo e Remo.
No leito de morte, Procas, rei de Alba Longa, descendente direto de Ascânio, decidiu passar o trono a favor do filho Numitor, deixando os tesouros para o outro filho, Amúlio. Após a morte de Procas, Amúlio não acatou a decisão do pai. Com a ajuda de um exército mercenário, invadiu o palácio real, depondo o irmão Numitor, fazendo-o fugir, usurpando-lhe o reino de Alba Longa.
Na fuga, Numitor deixou para trás seus dois filhos, um menino e uma menina. Temendo ser destronado pelo herdeiro do irmão, Amúlio mata o sobrinho e encerra a sobrinha num claustro, fazendo dela uma vestal, obrigada à castidade.
Assim, Réia Silvia, a filha do rei deposto, dedica a sua vida à consagração da deusa da castidade, Vesta. Sua vida passa despercebida, até que um dia a sua fulgurante beleza foi descoberta por Marte, o deus da guerra. Ao vê-la caminhar pelos campos sagrados dedicados a Vesta, Marte queda-se de paixão pela jovem. Movido pela paixão, o deus persegue a vestal, tomando-a com violência nos braços. Da fúria daquela paixão, Réia Silvia viu crescer o seu ventre, trazendo ao mundo, nove meses depois, os gêmeos filhos de Marte.
Ao saber da gravidez da sobrinha, Amúlio fica enfurecido. Prende-a na masmorra do seu palácio, fazendo com que a infeliz mulher ficasse ali confinada, até o nascimento dos gêmeos. Apesar de implorar pela vida dos filhos, Réia Silvia tem os recém-nascidos arrancados dos braços, vendo-os atirados dentro de uma cesta, nas águas do rio Tibre.
Ao ver a cesta que levava os gêmeos boiando no Tibre, Marte fez as águas subirem, atirando a cesta ao sopé do monte Cérmalo. Debaixo de uma figueira, uma loba enviada pelo deus da guerra, encontra os gêmeos, amamentando-os e protegendo-os do frio e dos outros animais silvestres. Rômulo e Remo estão salvos da morte.

Devolvido o Trono de Alba Longa a Numitor

Numa tarde de verão, o pastor Fáustulo, ao descansar à sombra de uma árvore, ouviu, ao longe, gritos alegres. Curioso, foi até o local de onde vinha o som, deparando-se, com espanto, frente a duas crianças robustas e rosadas, brincando com uma loba. Os pequenos puxavam as patas do animal, acariciavam-lhe os pêlos, tomavam-lhe as tetas, sugando-lhes o leite.
Fáustulo é descoberto pelo animal. Temendo ser atacado, ele recua. Mas a loba fixa-lhe os olhos com mansidão. O pastor aproxima-se das criaturas. Põe-se a contemplá-las por longas horas. No fim do dia decide levar as crianças para a sua casa. Há anos que ele e a mulher sonhavam com um filho, mas que jamais brotara do ventre matrimonial do casal.
Fáustulo e a mulher, Aca Larência, criam os gêmeos como se fossem filhos legítimos. São chamados de Rômulo e Remo. Com o casal de pastores, os gêmeos aprendem os costumes humanos. Especializam-se na arte de pastorear grandes rebanhos. Enviados para Gabi, eles aprendem a utilizar o arco e a flecha, ao mesmo tempo em que se iniciam no domínio da escrita. Após o aprendizado em Gabi, voltaram para a cabana dos pais adotivos, ao pé do monte Palatino, ali vivendo como pastores.
Os gêmeos viveram felizes, a pastorear os seus rebanhos, até um dia que o roubo de uma ovelha indispôs Remo com um vizinho. A pendência foi levada ao rei Amúlio. Ao ficar diante do rei, Remo mostrou-se inteligente e de carisma instigante. Seduzido pela eloqüência do jovem, Amúlio começou a fazer perguntas sobre a sua vida. Remo, embora sendo um modesto pastor, tinha um porte de guerreiro que se lhe sobressaía, chamando a atenção do ardiloso rei de Alba Longa. Ao saber que ele tinha um irmão gêmeo, o soberano usurpador pressentiu que aquele era um dos filhos da sobrinha Réia Silvia. Desconfiado daquela possível verdade, o rei mandou encarcerar o jovem pastor.
Ao pôr-se a par da prisão do irmão, Rômulo questionou Fáustulo sobre as razões que levaram Amúlio a cometer um ato tão brusco. Diante das dúvidas do filho, Fáustulo decidiu revelar-lhe todos os segredos em torno das suas origens. Ele e Remo foram adotados quando crianças, sendo filhos do deus Marte e da infeliz princesa Réia Silvia. Ao saber da verdade, Rômulo foi acometido de uma ira implacável. Orientado pelo verdadeiro pai, o deus guerra, reuniu um número significante de bravos guerreiros, e, na sua genuína raiz genética de soldado belicoso, marchou para o palácio do rei usurpador.
Rômulo desencadeou uma violenta batalha. No meio do seu exército, bradava como se fosse o próprio Marte, fazendo com que os soldados do rei se rendessem a ele. Quando adentrou o palácio, pôs-se em frente a Amúlio. Chegara a hora da vingança aos sofrimentos que o tirano impusera a sua mãe Réia Silvia. Vingador, Rômulo trespassa a sua espada no corpo de Amúlio, que cai morto, coberto de sangue, tendo tempo apenas de pedir clemência aos deuses. O fim do reinado do usurpador chegara ao fim.
Após a morte de Amúlio, Rômulo libertou o irmão Remo. Juntos fizeram justiça ao reino de Alba Longa e à dignidade do seu antepassado, Ascânio, fundador da cidade. Depois de limpar o trono do sangue vil de Amúlio, os gêmeos tiraram a mãe, Réia Silvia, do confinamento nas masmorras do palácio, pondo fim ao seu longo sofrimento.
Finalmente, Rômulo e Remo, os guerreiros filhos de Marte, proporcionaram a volta do avô Numitor a Alba Longa, entregando-lhe o trono usurpado.

O Sangue de Remo Banha o Muro de Roma

Ao subir ao trono de Alba Longa, Numitor decidiu recompensar a bravura dos netos, entregando-lhes um território às margens do rio Tibre, autorizando-os a erguerem uma cidade no local.
Movidos pelo entusiasmo de fundar uma nova cidade, os gêmeos dirigiram-se para o local que se lhe destinara o avô. Percorrem o lugar, sem saber onde exatamente deveriam edificar a nova cidade. Confusos, concordam que os deuses deveriam indicar o local. Rômulo parte para o monte Palatino, enquanto que Remo sobe o monte Aventino. Os deuses deveriam enviar o sinal do local mais favorável. Subitamente, sobre o Palatino começaram a voar doze abutres, enquanto que apenas dois pairavam sobre o Aventino. Os deuses indicavam o local onde estava Rômulo para que se fosse edificado o novo reino.
Rômulo deixa-se tomar pelo entusiasmo, pondo-se a traçar um sulco ao redor da montanha, utilizando para isto um arado atrelado a um touro e uma novilha. Ao ver o entusiasmo solitário do irmão, Remo sente-se excluído. Uma nuvem negra de ciúme toma-lhe o semblante. Remo passa a escarnecer o trabalho do irmão, dizendo-lhe que o muro por ele erguido seria facilmente transposto por bandoleiros. Rômulo nada diz, suporta calado às provocações do irmão.
As provocações de Remo são cada vez mais instigantes. Em um momento impensado, ele atravessa com um salto, o sulco proibido. Rômulo sente o sangue a subir-lhe à face. É tomado por uma cólera incontrolável. Com a espada em punho, dirige-se para o irmão, que recua assustado. Acossado, Remo pede piedade a Rômulo. Surdo pela fúria, Rômulo investe a espada sobre o irmão, que cai ferido mortalmente. Ao ver o sangue de Remo escorrer nas paredes do muro, Rômulo apercebe-se do ato que fizera. Cheio de pesar, corroído pelo remorso, ele debruça-se sobre o corpo do irmão. Brada aos deuses que o tragam à vida. Com o rosto coberto de lágrimas, abraça Remo, sentindo-lhe as faces geladas pela morte. Rômulo pensa em dar fim à vida, de que lhe valia continuar sem a outra parte de si mesmo? Chora compulsivamente sobre o corpo do irmão.
Já no fim da tarde, após derramar todas as lágrimas, Rômulo levantou-se. Tomou o corpo do irmão nos braços e o levou até o monte Aventino, ali enterrando o seu gêmeo. Após o ato fúnebre, voltou ao árduo trabalho de erguer a sua cidade. Era o que lhe restara na vida, erguer a cidade que já nascia com o muro coberto pelo sangue de Remo.
Assim, no monte Palatino, após verter o sangue de Remo, Rômulo edificou, tijolo por tijolo, uma cidade que deu o nome de Roma. Seria grandiosa, nascida sobre a marca da tragédia, pronta para verter o sangue todas às vezes que se lhe fosse preciso para que existisse e crescesse soberana, onipotente ao mundo.

O Rapto das Sabinas

Após erguer a sua cidade, Rômulo não sabia como povoá-la. Percorreu as ruas que se moviam pelo vazio solitário dos ventos. Sentido-se profundamente sozinho, ele foi até o templo que erguera no monte Capitólio em homenagem a Júpiter. Ao meditar no templo, os deuses sopraram-lhe aos ouvidos que abrisse a cidade, transformando-a em um grande asilo, onde se poderiam refugiar todos os marginais da redondeza. Estava encontrada a solução.
Rômulo espalha a idéia de asilo por toda a redondeza. Homens vindos de todas as partes começam a chegar. Trazem nos olhos a tristeza de quem tem histórias de derrotas de vida para contar. Trazem as marcas dos crimes mais horrendos que se já haviam sido praticados, ou as marcas dos grilhões da escravidão às quais se submeteram ao longo da vida. Aos poucos, os desvalidos do mundo encontram abrigo na cidade de Rômulo, formando uma população feliz, amparada pela esperança e pelo trabalho pastoril, inundando os campos de plantação. Criminosos redimidos formam a primeira população de Roma.
Passa o tempo e a cidade prospera. Mas não aumenta a população. Não há mulheres e crianças. Não há a promessa de vida. Rômulo, o rei soberano, não sabe o que fazer para trazer as mulheres para a sua cidade. Nenhum pai nas redondezas consente em dar suas filhas em casamento para ex-marginais. Era preciso roubá-las aos pais e irmãos.
Durante a festa de Consus, o deus dos grãos enterrados, Rômulo prepara um grande banquete e convida os sabinos, povo vizinho a Roma, oferecendo-lhes cavalos como sinal de boa vizinhança. Sem suspeitarem do rei romano, os sabinos aceitam o convite, levando à festa suas filhas e irmãs. No meio das festanças, os romanos agarram as sabinas, tomando-as à força. Sem poderem defendê-las, resta aos sabinos fugirem para que não sejam mortos pela fúria dos anfitriões. Para trás deixam filhas e irmãs.
Passam-se dias, e as sabinas gritam, gemem, imploram por socorro. Mas os romanos estão surdos aos seus apelos. Tentam amá-las com doçura, como são repelidos, amam-nas com violência, fazendo com que os seus ventres cresçam trazendo a semente do desejo impetuoso.
Do outro lado dos muros de Roma, os sabinos tentam em vão recuperar as suas mulheres. Mesmo não sendo um povo belicoso, eles organizam exércitos e partem em marcha contra os romanos. Uma longa guerra é travada. Rômulo esmaga com fúria todos os exércitos que tentam invadir a sua cidade. Herdara do pai, Marte, a habilidade para a guerra, sendo por ele protegido.
Rômulo vencerá todas as investidas dos sabinos, até que se lhe põe a frente o audacioso guerreiro Tito Tácio. Ao seduzir Tapeia, a bela filha de Semprônio Tarpeio, guardião do templo do Capitólio, ele consegue entrar em Roma por aquele lugar sagrado. Tão logo consegue o ardil, Tito Tácio abandona Tapeia. Sendo cobrado pela jovem, para quem prometera casamento, o guerreiro mata-a impiedosamente sobre o altar.
Roma é sitiada por Tito Tácio e seus exércitos. Uma sanguinária guerra faz mortos de todos os lados. Cansadas de guerras e de tanto sangue vertido, as mulheres sabinas decidem pôr fim às batalhas. Lideradas por Hersília, única jovem casada que fora raptada pelos romanos, e que vira o marido Hostílio tombar em combate, seiscentas sabinas marcharam para os campos de batalha, pondo-se em frente aos homens, pedindo em nome dos mortos, que os guerreiros deponham as armas.
Comovidos com a súplica das mulheres, Rômulo e Tito Tácio abandonam a luta, unindo as suas forças em uma cidade comum. Juntos, começam a reinar sobre uma nova comunidade, apagando os antigos ódios. Mais tarde, a alma belicosa de Tito Tácio faz com que ele entre em atrito com os laurentinos, sendo morto por aquele povo. Rômulo enterra-o com as honras de um rei, mas não o vinga, evitando uma guerra com o laurentinos. Estava decidido que Roma precisava de paz para crescer e seguir o caminho de grande civilização.

O Fim de Rômulo

Fundador e primeiro rei de Roma, Rômulo reinaria sobre a cidade por trinta anos. No decorrer do tempo, assistira a bandoleiros redimidos cederem lugar a um povo guerreiro e próspero, vivendo em harmonia debaixo da justiça instituída por ele.
Rômulo criara as primeiras instituições políticas da cidade, o Senado e as Cúrias. Formou a primeira legião de três mil homens, dando corpo a um grande exército que defendeu e expandiu a cidade. Viu Roma dividir-se em duas classes: a dos patrícios e a dos plebeus.
O primeiro rei de Roma viveu solitário, sem mulher e filhos, a consumir-se pelo remorso de ter construído a cidade com o sangue vertido de Remo. Um dia, ao passar em revista as tropas reunidas no Campo de Marte, o rei foi surpreendido por uma grande tempestade que se abateu sobre a cidade. A violência da chuva derrubou casas, inundou os campos e as ruas, fez ruir colunas de ricos palácios. Quando a tempestade findou, os romanos procuram pelo seu rei. Mas ele desaparecera. Como um fantasma, seguiu a chuva, desaparecendo no meio do Campo de Marte, sem jamais ser encontrado.
A lenda de Rômulo serviu para dar a Roma uma origem nobre e imortal, paralelamente confrontando a supremacia da cultura grega sobre a romana. Alguns relatos do mito contêm fatos históricos verdadeiros, como a presença dos sabinos, ao lado dos latinos, na povoação primitiva de Roma. Alguns historiadores tentam assimilar o mito de Rômulo a um provável fundador etrusco que se chamaria Romilius ou Romulius. Mas a lenda de Rômulo identifica-o como descendente dos troianos, oriundos da cidade da Ásia Menor, Tróia, destruída pelos gregos após uma sangrenta guerra que se estendeu por dez anos. Esta visão, mais poética, conseguiu dentro do poderoso Império Romano, elevar o orgulho daquele povo que se recusava a pensar que tinha as suas origens vincadas a simples pastores que viviam modestamente aos arredores de sete colinas conhecidas por Septimontium.

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