
Segundo rei dos deuses mitológicos e do universo, Cronos destronou o pai Urano, e, mais tarde, foi destronado pelo filho Zeus (Júpiter). O mais novo dos Titãs, ele representa a tragédia do seu clã, destronada por não trazer a ordem espiritual, o equilíbrio da natureza aos deuses e aos homens.
Cronos é o deus do tempo. Senhor absoluto da instabilidade do momento. Para ele não há futuro ou passado, apenas o agora, representa a passagem frenética das horas, do tempo que tudo rouba aos mortais e aos próprios deuses.
Cronos e os Titãs. Divindades primitivas, são os pais das divindades que trarão a ordem ao mundo. O reinado de Urano foi marcado pelo princípio da procriação, do surgimento das forças selvagens e desordenadas do mundo. O segundo reinado, de Cronos e dos Titãs, é a transição primitiva e desordenada para a afirmação da ordem. São elementos que representam a materialidade criadora do universo, sendo Zeus e os seus súditos olímpicos, a espiritualidade, a vitória da ordem sobre a desordem.
Cronos é o próprio tempo, a força a que tudo devora, onde seres nascem e morrem sem interrupções. O tempo é implacável, não podendo ser detido. Cabe a Zeus aprisioná-lo, estabelecendo a memória, para que se possa ter a ordem sobre o universo. A memória e o tempo confrontam-se na estabilidade universal.
Cronos Torna-se o Senhor do Universo

Os filhos de Gaia são impetuosos, sendo os responsáveis por todas as forças da natureza indomável, primitiva em sua evolução. Eles produzem os terremotos, as erupções vulcânicas, os maremotos, os furacões, os cataclismos que transformam e devastam a face do mundo.
Não podendo controlar a força devastadora dos filhos, Urano revolta-se contra eles, aprisionando-os no Tártaro. Gaia, a mãe natureza que tudo suporta da desordem causada pelos filhos, não consegue vê-los aprisionados. Rebela-se contra o companheiro e senhor do universo, passando a urdir uma conspiração para destroná-lo e, assim, libertar os filhos prisioneiros.
A força do reinado de Urano consiste em seu poder reprodutivo, eliminando-o, findaria o seu poder sobre o universo. Para concretizar sua conspiração, Gaia convoca os Titãs, apresentando a eles os seus planos. Todos recusam a participar da rebelião contra o pai, exceto Cronos, o mais novo dos Titãs.
Cronos, é o deus do tempo, senhor absoluto de todas as coisas que surgem e perecem sem um princípio. O mais jovem dos Titãs é um valente guerreiro, que se revolta com a devastação provocada pelos irmãos, os Hecatônquiros e os Ciclopes, impetuosos seres imortais que trazem sofrimentos a Gaia. Cronos não suporta ver o pai a fecundar constantemente a mãe, trazendo-lhe dor sem fim. Assim, aceita a proposta de Gaia para destronar o pai.
Gaia afia uma foice e entrega-a ao

Ao cortar os testículos de Urano, Cronos não o mata, posto que é imortal, mas termina com o princípio que se lhe governa o universo, o de procriar e dar origem a todas as forças materiais. Cronos é aclamado o senhor absoluto do universo, iniciando o seu tempestuoso reinado.
Cronos É Destronado por Zeus

Enquanto senhor absoluto do universo, Cronos toma como aliados os Titãs e os Gigantes. Quanto aos outros irmãos, os Ciclopes e os Hecatônquiros, não se lhes suporta a impetuosidade indomável, mantendo-os prisioneiros no Tártaro, assim como fazia o pai destronado.
A obstinação em manter os Hecatônquiros e os Ciclopes prisioneiros, desagrada profundamente a Gaia. Inconformada, a deusa mãe lança uma profecia que abalará o reinado de Cronos: Réia conceberá um filho que irá destronar Cronos, assim como ele fizera ao pai.
Ao saber da profecia do oráculo de Gaia, Cronos desespera-se ao ver o ventre crescido de Réia. Tão logo se lhe nascem os filhos, o deus do tempo passa a devorá-los. Um a um, Réia entrega os filhos ao marido: Héstia (Vesta), Deméter

Ao crescer, Zeus confrontou o pai, subjugando-o, fazendo-o ingerir uma beberagem milagrosa, feita por Métis, a Prudência. Quando a beberagem alcançou as estranhas de Cronos, obrigou-o a vomitar todos os filhos devorados. Héstia, Deméter, Poseidon, Hades e Hera estavam vivos e adultos, dentro do pai. Os irmãos juntaram-se a Zeus, iniciando uma guerra contra Cronos, em busca do poder supremo do universo.
A guerra pelo poder duraria dez anos. Cronos teve ao seu lado os irmãos Titãs e Gigantes. Zeus libertou do Tártaro os Hecatônquiros e os Ciclopes, tendo-os como aliados numa sangrenta guerra que abalou o céu e a terra. Era

Confiando no Tártaro, Cronos continuava através da passagem das horas, a tudo devorar, fazendo do tempo algo insaciável e implacável.
Os Titãs e as Titânias

Hesíodo (século VIII a.C.) considera como Titãs: Oceano, Ceo, Crio, Hipérion, Iápeto e Cronos; e, Titânias: Téia, Réia, Têmis, Tétis, Mnemósine e Febe. O poeta descreve-os como divindades primordiais, de força violenta, que povoaram o mundo durante a sua evolução material. Ao confrontarem Zeus, os Titãs e os seus filhos tiveram destinos trágicos, arrematados por infelizes e penosas tarefas que se lhe foram impostas pelos deuses olímpicos, vencedores da guerra pelo poder do universo. Vencidos e humilhados, os Titãs assistem prisioneiros ao reinado justo e ordenado de Zeus, filho mais jovem de Cronos.
Cronos, o mais jovem e mais trágico dos Titãs, foi quem se rebelou contra a fecundação desenfreada de Urano, lutando contra o pai, destronando-o e proclamando-se o novo rei do universo. Perseguido pela profecia de que seria destronado por um filho, ele devorou a todos quando recém-nascidos. Mas o oráculo não pode ser contrariado. Cronos é destronado pelo filho mais jovem, Zeus, sendo preso para sempre no Tártaro. Ali, o deus do tempo continua a devorar os seres mortais, os momentos e os destinos. Não se apega à existência ou ao que passou, sua fome devoradora só pensa no futuro, que jamais chega a ser encontrado quando o hoje se torna passado.

Réia, ao unir-se a Cronos, torna-se, assim como Gaia, a deusa mãe. Da sua prole surgiu Poseidon, o poderoso deus dos mares; Hades, o senhor dos infernos e dos mortos; Deméter, a deusa da agricultura; Héstia, a deusa da castidade e da família; Zeus, o senhor de todos os deuses e do universo; e, Hera, que ao se unir a Zeus, tornou-se a deusa mais poderosa do Olimpo, reinando ao lado do marido. Mãe de todos eles, cabia a Réia cultos e homenagens dos gregos antigos. É a Titânia mais importante. Segunda a reinar sobre o universo.
Oceano é o menos trágico dos Titãs. É o grande deus das águas. Ao unir-se a Titânia e irmã Tétis, gerou três mil deuses rios e três mil Oceânidas, as Ninfas marítimas. Oceano é a personificação material do mar e dos rios. Tétis personifica a fecundidade da água, que alimenta os corpos e forma a seiva da vegetação. Tétis é representada como uma mulher jovem e de aspecto sábio. Ao lado de Oceano, passeia pelas águas sobre uma concha de marfim, conduzida por cavalos brancos. Oceano é

Hipérion e Téia, outro casal de irmãos Titãs que se uniram, engendraram Hélios (Sol), Selene (Lua) e Eos (Aurora), as divindades siderais. Esta geração, Hélios, Eos e Selene, é considerada de Titãs. Nem sempre a segunda geração, como a de Zeus e dos seus irmãos, é considerada de Titãs. Em outra versão da lenda, Hipérion, ou “o que viaja pelo céu”, casou-se com a Titânia Febe.
Iápeto é o que tem a prole mais trágica. Ao unir-se a Oceânida Ásia, ou Clímene, conforme a variante da lenda, gerou a segunda geração de Titãs mais famosa da mitologia: Menécio, Atlas, Prometeu e Epimeteu. Todos participaram da guerra contra Zeus, sendo submetidos a terríveis castigos quando derrotados. Menécio foi fulminado por Zeus, sendo condenado às trevas eternas do Érebo. Atlas foi condenado a carregar perpetuamente o mundo sobre as costas, gemendo de dor pela eternidade por causa do peso. Prometeu e Epimeteu, ao fingirem estar de acordo com os deuses olímpicos, ficaram livres do castigo. Mais tarde, Prometeu criaria um ser semelhante aos deuses, o homem.

Às Titânias, as lendas geralmente não se lhe atribuem punições. Mnemósine, é a memória universal, a responsável pela lembrança conservada dos momentos e das vivências dos homens e dos deuses. Mnemósine é a maior contestadora do irmão Cronos, o deus do tempo, é quem mantém a memória lúcida quando a matéria é destruída pela insaciabilidade devoradora do tempo.
Têmis, a Justiça, personifica a lei eterna. Habita o Olimpo, participando do cotidiano dos olímpicos. A ela são atribuídos a instituição dos oráculos, os ritos e as leis aos gregos. É representada portando uma balança e uma espada nas mãos, tendo os olhos vendados, para garantir a imparcialidade da justiça. Têmis é tida como a mãe das Parcas, das Horas, das Ninfas do rio Erídano e de Astréia.
Mnemósine e Têmis são as Titânias que fazem parte das divindades alegóricas, mais voltadas para a Grécia filosófica do que a que cultuava os mitos religiosos.
Saturno, o Deus do Tempo em Roma

Ao acolher o deus, Jano instalou-o no Capitólio. Saturno teria fundado ali, a cidade de Satúrnia. Para os romanos, o deus do tempo era uma divindade civilizadora, assim como Jano. Teria ensinado aos homens o cultivo da vinha. Vários reinos foram atribuídos a Saturno, desde a África à Sicília, estendendo-se por toda parte ocidental do mar Mediterrâneo. Seu reinado foi tranqüilo e próspero até a Idade do Ouro. Na Idade do Bronze, quando os homens que o deus civilizara atingiram a plenitude da essência da maldade, Saturno deixou os seus reinos terrestres, voltando para o Olimpo, reconciliando-se com o filho Júpiter. Mais tarde, segundo os órficos (século VI a.C.), o deus teria habitado a ilha dos Bem-Aventurados.
Se Cronos foi encerrado no Tártaro, o mito de Saturno encontra sempre a redenção e a conciliação com Júpiter. A importância do mito em Roma é maior do que o da Grécia. Na cidade eterna, o deus recebeu muitos cultos, sendo realizadas, em dezembro, em sua honra, as Saturnálias, a maior festividade da Roma antiga. Ao longo das celebrações, os romanos costumavam inverter as posições sociais, os escravos davam ordens aos amos e estes serviam-nos à mesa. Na época da conversão de Roma ao cristianismo, as Saturnálias foram transformadas no Natal cristão, sendo atribuído o dia 25 de dezembro ao nascimento de Cristo.
O mito de Saturno costuma ser representado como um homem maduro, de barba e austero, a trazer um filho em uma das mãos, pronto para devorá-lo, simbolizando o tempo que a tudo devora e, na outra mão, uma foice, símbolo da morte e também da colheita, de uma nova esperança renascida da natureza.
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