terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Hieronymus Bosch: vida e obra

Grandes diferenças são vistas entre a arte do Gótico Tardio, nos Países Baixos, do Renascimento italiano. No sul houve uma ruptura cultural em relação ao período medieval, através da retomada de elementos formais e temáticos da cultura clássica e da revalorização da razão humana. Já na região setentrional não houve essa ruptura, mas sim um desdobramento da arte gótica, que não negou indefinidamente o misticismo medieval, mas agregou-lhe alguma inovação - como um maior naturalismo e sofisticação técnica decorrente dos avanços tecnológicos da época (tinta à óleo, tela, etc).

É por isso que o imaginário popular medieval é marcante na arte de Bosch. Entre as técnicas aprimoradas no período Gótico que influenciaram sua arte estão o tratamento minucioso das figuras, vindo das iluminuras, e as representações alegóricas. As alegorias, que surgiram no início do cristianismo, mas foram implementadas e acabaram caracterizando a arte medieval, tornam-se singulares na arte de Bosch pelo entralaçamento de um tratamento naturalista e fantástico que dava aos seus personagens - como podemos ver em A Morte e o Avarento.

Assim como a maioria das obras de Bosch, esta carrega um rico repertório simbólico e reflete preocupações moralistas. A cena é ambientada em um quarto da época e mostra o momento da morte do homem avarento. Mas não apenas isso. O personagem principal mostra-se perturbado, indeciso entre o anjo que aponta em direção a um crucifixo e um demônio que lhe oferece um saco de dinheiro. É eu último momento, a morte com a foice já o espreita.A pintura encontra-se na National Gallery of Art, em Washington.



Bosch viveu em Hertogenbosch, cidade conhecida como "pequena Roma" por ser pólo religioso dos Países Baixos. As irmandades religiosas que ali atuavam fundaram hospitais, centros de caridade e escolas que atraíam estrangeiros, como Erasmus de Rotendã que ali estudou entre 1485-87. A Irmandade de Maria, de posição ultra-ortodoxa, tinha grande poder político ali e, temendo a entrada da Reforma Protestante, tentava afastar da cidade as transformações culturais e científicas vindas de outras regiões da Europa.
Tal contexto influenciou Bosch, em obras que mostram a tensa relação entre a moralidade cristã e o imaginário popular, de tom fantástico.

As imagens de Bosch são enigmas visuais que tanto apresentam quanto ironizam a doutrina católica, ou melhor, o modo como as pessoas seguiam ou burlavam as verdades pregadas pela Igreja – como vemos na obra Sete pecados capitais. Por iIsso a obra de Bosch é tão singular em relação a de outros artistas da época, até mesmo aqueles que viveram em cidades próximas – como Memling, que se estabeleceu em Bruges, cidade costeira e mais receptiva a cultura e a arte do sul europeu.


É provável que Bosch tenha começado a pintar com sua família, pois o pai, avô e irmãos eram pintores e possuíam um atelier familiar. Recebeu encomendas tanto do clero quanto da nobreza e das ordens religiosas. No auge de sua carreira, Bosch chegou a tornar-se conhecido fora da região dos Países Baixos. E Mecenas importantes da época, como rei espanhol Felipe II, se interessaram e colecionaram seu trabalho.
 
"As Tentações de Santo Antão" (1495-1510) é um famoso tríptico do pintor holandês Hieronymus Bosch. Nesta obra, apresenta um mundo dominado por forças demoníacas, entregue ao pecado e à culpa. Esta visão pessimista e angustiada sugere que a única esperança está em Cristo - a figura no centro do quadro.
O painel central desta obra, aqui apresentado, mostra Santo Antão ajoelhado, sendo atormentado por demônios, seres de formas disformes, muitas vezes não reconhecíveis de imediato. O monge lá está, imóvel, impassível; sem demonstrar a mínima tentativa de fuga, intocado pelo Mal.
As Tentações de Santo Antão trazem-nos, a par da loucura e do pecado, a visão de Cristo e do Santo firme na sua fé. No interior, junto a um altar a figura o Sacerdote faz um gesto de bênção, repetido pelo próprio Santo que olha na direcção do espectador.

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