quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ana Maria Maiolino : É só barro – e também arte


A nova obra da artista Anna Maria Maiolino pode ser definida de uma maneira bastante simples, apesar de ter relações com temas sofisticados. Trata-se de uma grande instalação com 3 mil quilos de argila modelada em um salão. Lá a matéria, que não passa pelo forno, desidrata, petrifica e depois vem a ser reciclada. A argila aparentemente segue padrões como blocos, cilindros e espirais. Há uma desigualdade inevitável entre as peças por terem sido geradas por pulsões diferentes. Apesar disso, a artista é prosaica ao falar sobre o próprio trabalho, que desde o início do mês está em exposição no Camden Arts Centre, em Londres.


 

 

Anna Maria Maiolino (Scalea, Itália 1942). Gravadora pintora, escultora, artista multimídia e desenhista. Muda-se em 1954, devido à escassez provocada pelo pós-guerra, para Caracas, Venezuela, onde estuda na Escuela de Artes Plásticas Cristóbal Rojas entre 1958 e 1960, ano em que transfere-se para o Brasil. Em 1961, inicia curso de gravura em madeira na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, e integra-se à Nova Figuração, movimento de reação à abstração e tomada de posição frente ao momento político brasileiro.


 Freqüenta o ateliê de Ivan Serpa (1923 - 1973), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, e estuda gravura com Adir Botelho (1932), em 1963. No ano seguinte, realiza sua primeira exposição individual na Galeria G, em Caracas. Em 1967 participa da Nova Objetividade Brasileira, exposição que entre outros preceitos, propunha a superação do quadro de cavalete em favor do objeto, sendo organizada por críticos e artistas, entre eles Hélio Oiticica (1937 - 1980). Entre 1968 e 1971, estuda no Pratt Graphic Center, em Nova York.

A partir da década de 1970, começa a trabalhar com diversas mídias, como a instalação, a fotografia e filmes. Participa, em Curitiba, do 1º Festival do Filme Super-8, premiada com o filme In-Out, Antropofagia, seu primeiro trabalho em vídeo. Participa também do Festival Internacional do Filme Super-8, no Space Cardin, em Paris; da 5ª Jornada Brasileira de Curta-Metragem, em Salvador; e do 2º Festival Nacional de Curta-Metragem, na Alliance Française du Brésil, no Rio de Janeiro. No final da década de 1970, a artista passa a se dedicar à performances.

Em 1978, realiza Mitos Vadios, num terreno baldio da rua Augusta, em São Paulo, e, em 1981, na rua Cardoso Júnior, Entrevidas, quando dúzias de ovos de galinha são espalhados pelo chão, para que o público tivesse que driblar um "campo minado".

                                        SEM TÍTULO, DA SÉRIE PROPÍCIOS 2008

Propícios é o titulo de uma série de trabalhos executados com tinta acrílica sobre tela, iniciada em 2007. Com esta série, a artista inicia um caminho transversal e paralelo à série Ações Matéricas (1994 a 2009). O princípio do método empregado nas duas séries é o mesmo: não é utilizado pincel, a obra se realiza com a tinta que escorre, obedecendo aos movimentos da mão, do braço, e do corpo. A tela é um desafio para o corpo que se apodera dela, através dos impulsos vitais, com destreza e incorporando o acaso. A obra é constituída pelo acaso, sem prévio desenho.
Com estes trabalhos, a artista demonstra que há ordem no caos; que é possível desenhar sem usar os instrumentos tradicionais, utilizando-se apenas da gravidade e dos movimentos do seu próprio corpo para controlar a tinta. É uma entrega ao fluxo das potências da natureza e da liberdade humana. São trabalhos que se guiam pela certeza de que não há uma unidade que preceda a forma, mas que a forma ao se manifestar revela uma unidade determinada pelo fluxo do acaso.



Na década de 1980, começa a trabalhar com a argila por influência do artista argentino Victor Grippo. Em 1990, recebe o prêmio de melhor mostra do ano, da Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA, pela exposição individual realizada em 1989, no Centro Cultural Cândido Mendes. Realiza em Nova York, em 2002 exposição retrospectiva acompanhada do livro A Life Line/Vida Afora.

Arroz feijão.


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