domingo, 12 de fevereiro de 2012

A bela de Amherst: Emily Dickinson

 

A americana Emily Dickinson (1830-1886) é um dos poetas mais cultuados em todo o mundo. Desafio dos tradutores, ela já teve versos transpostos para o português por nomes quentíssimos como Manuel Bandeira, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Paulo Henriques Britto e uma série de outros poetas menos conhecidos.

Creio que o interesse dessa seleta plêiade de tradutores já seja o suficiente para apresentar essa incrível poeta oitocentista. Nascida em Amherst, Massachusetts, onde viveu toda a vida, Emily é vista como uma excêntrica. Quando tinha cerca de 30 anos, encerrou-se na casa dos pais, de onde nunca saía. Retirava-se quando chegavam visitas e só era vista em trajes brancos. Embora avessa ao contato social, escrevia muitas cartas.

De seus poemas, escritos em verdadeira clausura, somente sete foram publicados durante sua vida (no total, são cerca de 1800 poemas). Inovadora na linguagem, ela desenvolveu formas originais de expressão. Até sua pontuação, marcada por travessões, é diferente de qualquer outro poeta de sua época. Para alguns analistas, a poeta usava os travessões como uma forma de marcar o ritmo.

Os temas de Emily são perenes. Os editores costumam agrupar seus poemas sob títulos como Vida, Amor, Natureza, Morte, Tempo e Eternidade. Os poemas da Bela de Amherst, como Emily ficou conhecida, foram publicados depois de sua morte, em 1890, 1891 e 1896. Somente em 1955 é que apareceu, pela primeira vez, uma edição de sua poesia completa.

As traduções apresentadas aqui têm as assinaturas de Aíla de Oliveira Gomes — autora de uma coletânea com a recriação em português de cem poemas de Emily —, Augusto de Campos e Paulo Henriques Britto. Os números que identificam os poemas estão conforme a seqüência adotada na obra completa.

Os poemas completos de Emily Dickinson (1775 textos) estão disponíveis na internet, no site
American Poems.

219
Ela varre com vassouras multicores
E sai espalhando fiapos,
Ó Dona arrumadeira do crepúsculo,
Volta atrás e espana os lagos:

Deixaste cair novelo de púrpura,
E acolá um fio de âmbar,
Agora, vejam, alastras todo o leste
Com estes trapos de esmeralda!

Inda a brandir vassouras coloridas,
Inda a esvoaçar aventais,
Até que as piaçabas viram estrelas —
E eu me vou, não olho mais.

               Tradução: Aíla de Oliveira Gomes
219She sweeps with many-colored Brooms —
And leaves the Shreds behind —
Oh Housewife in the Evening West —
Come back, and dust the Pond!

You dropped a Purple Ravelling in —
You dropped an Amber thread —
And how you've littered all the East
With duds of Emerald!

And still, she plies her spotted Brooms,
And still the Aprons fly,
Till Brooms fade softly into stars —
And then I come away —
          ---- • ----
245
Tive uma jóia nos meus dedos —
E adormeci —
Quente era o dia, tédio os ventos —
"É minha", eu disse —

Acordo — e os meus honestos dedos
(Foi-se a Gema) censuro —
Uma saudade de Ametista
É o que eu possuo —

               Tradução: Augusto de Campos
245I held a Jewel in my fingers —
And went to sleep —
The day was warm, and winds were prosy —
I said "'Twill keep" —

I woke — and chid my honest fingers,
The Gem was gone —
And now, an Amethyst remembrance
Is all I own —

          ---- • ----
249
Noites Loucas — Noites Loucas!
Estivesse eu contigo
Noites Loucas seriam
Nosso luxuoso abrigo!

Para Coração em porto —
Ventos — são coisas fúteis —
Bússolas — dispensáveis —
Portulanos — inúteis!

Navegando em pleno Éden —
Ah, o Mar!
Quem dera — esta Noite — em Ti
Ancorar!

               Tradução: Paulo Henriques Britto
249
Wild Nights — Wild Nights!
Were I with thee
Wild Nights should be
Our luxury!

Futile — the Winds —
To a Heart in port —
Done with the Compass —
Done with the Chart!

Rowing in Eden —
Ah, the Sea!
Might I but moor — Tonight —
In Thee!
          ---- • ----

870
Primeiro Ato é achar,
Perder é o segundo Ato,
Terceiro, a Viagem em busca
Do “Velocino Dourado”

Quarto, não há Descoberta —
Quinta, nem Tripulação —
Por fim, não há Velocino —
Falso — também — Jasão.

               Tradução: Paulo Henriques Britto
870
Finding is the first Act
The second, loss,
Third, Expedition for
The “Golden Fleece”

Fourth, no Discovery —
Fifth, no Crew —
Finally, no Golden Fleece —
Jason — sham — too.

          ---- • ----1212
Uma palavra morre
Quando é dita —
Dir-se-ia —
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia.

               Tradução: Aíla de Oliveira Gomes
1212
A word is dead
When it is said,
Some say.

I say it just
Begins to live
That day.
 

Dentre todas as Almas já criadas
Dentre todas as Almas já criadas -
Uma - foi minha escolha -
Quando Alma e Essência - se esvaírem -
E a Mentira - se for -

Quando o que é - e o que já foi - ao lado -
Intrínsecos - ficarem -
E o Drama efêmero do corpo -
Como Areia - escoar -

Quando as Fidalgas Faces se mostrarem -
E a Neblina - fundir-se -
Eis - entre as lápides de Barro -
O Átomo que eu quis!
(Tradução: José Lira)


fonte: http://www.releituras.com/edickinson_menu.asp  e
http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet066.htm

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