quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Rubens Gerchman: o nosso múltiplo artista

foto do pintor Rubens Gerchman 1 Arte de Rubens Gerchman Exposta no Domingão do Faustão

Em plena sintonia com o cenário carioca de intensas e apaixonadas discussões acerca de proposições políticas e/ou artístico-culturais, a produção gráfica de Rubens Gerchman dos anos 1960, caracterizou-se, particularmente, por seu extremo vigor narrativo: por sua vontade de informar, de comunicar-se, com os milhares de Joãos, Marias e anônimos, seja da classe média ou do subúrbio carioca, mas que compartilham das mesmas alegrias e angústias, dos mesmos ídolos, símbolos sexuais ou sonhos de consumo. Como uma tentativa de refletir sobre as consequências alienantes dos processos de comunicação de massa no mundo contemporâneo.



"Rubens Gerchman parte da redundância, usa os materiais que a civilização da vulgaridade oferece, mas em nome de uma idéia que não visa à criação do insólito pelo insólito, e sim a uma participação do coletivo. As Caixas de Morar de Gerchman não são um insólito na redundância do cotidiano, para retificá-lo (mensagem surrealista) ou para comprazer-se nele (mensagem da pop art), mas uma redução radical do real dado. Ele nos propõe uma reedificação urbanística da cidade eugênica do futuro. É uma cidade de subdesenvolvido. Daí seu mérito. A objetividade de sua démarche não está na construção das caixas por ela mesma, mas na direção extrovertida da sua prática. O insólito não está no cotidiano fundado no uso e na rotina. O insólito aqui é a infra-realidade, ou a realidade que está por baixo das superestruturas e não demanda o poeta para detectá-lo mas uma ação, um acontecimento para encontrar a lei de uma realidade que o produz. A relação redundância-insólito é assim invertida. Em Gerchman e em outros a redundância é que revela o insólito, e o que lhes sai das caixas, por exemplo, não é nenhum exercício da auto-expressividade, mas um esforço de construir uma nova relação com a realidade".



Artista plástico brasileiro nascido no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, ligado a tendências vanguardistas como a pop art e o happening. Iniciou sua aprendizagem artística (1957) cursando aulas noturnas de desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e no ano seguinte começou a trabalhar como programador visual em revistas e casas editoras cariocas, atividade que desenvolveu por cerca de oito anos. Matriculou-se (1960) na antiga Escola Nacional de Belas-Artes, onde estudou xilogravura com Adir Botelho, mas afastou-se do curso no ano seguinte.

 

Exibiu (1964) sua primeira mostra, de desenhos e litografias, na Galeria Vila Rica, mas só no ano seguinte realizaria uma individual de repercussão, na Galeria Relevo, quando começam a surgir os temas urbanos que iriam caracterizar nos próximos anos sua pintura.

"São placas de metal, sucata de estaleiros navais, material desprezível, jogado fora, abandonado, despido já de qualquer significado. É justamente este material carente de significação, despojado de simbolismo, que Rubens Gerchman (Rio de Janeiro, 1942) recolheu para fazer a sua incursão inesperada na área da escultura. Um verdadeiro escândalo e acinte. Como um pintor conhecido, marcado por suas iniciativas e participações, numa fase madura, envolve-se, de repente, com outra técnica? Coerente. Na pintura Gerchman costuma, também, surpreender. E lá, como agora, ele recolhe seres despojados, despidos de significado. É no seu gesto de recuperação, no entendimento da figura humana como emblemática, que o simbolismo surge e se torna uma marca do mundo social, uma representação de suas possibilidades. Na escultura, o pensamento é regido pelo mesmo princípio. E o material escolhido, pelo tratamento, torna-se emblemático do ser humano".



Passou a se destacar como um dos principais representantes da vanguarda carioca, quando participou de Opinião 65 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1965). Foi premiado no Salão Nacional de Arte Moderna (1967) com uma viagem ao estrangeiro e assim permaneceu Em New York, USA, por quatro anos (1968-1972) onde expôs e ampliou sua base cultural.

gerchman 12 Arte de Rubens Gerchman Exposta no Domingão do Faustão 

Também participou, com uma série de casas-roupas, do Fashion Show Poetry Event, mostra idealizada por um grupo de jovens poetas americanos, que contou com a participação de Andy Warhol, Les Levine e Robert Plate. De volta ao Brasil, participou de diversas mostras coletivas de artistas brasileiros de vanguarda. Foi co-fundador e diretor da revista de vanguarda Malas artes (1975-1976) e dirigiu com sucesso a Escola de Artes Visuais - INEART do Parque Lage, Rio de Janeiro (1975-1978).

Rubens Gerchman

Com uma bolsa da The John Simon Guggenheim Memorial Foundation (1978), mais uma vez visitou os Estados Unidos, passando também por México e Guatemala. Expôs no Rio de Janeiro (1980) a série Registro policial e fez uma nova viagem ao exterior (1982), a convite do Deutsche Akademischer Austauschdienst Künstler Program, permanecendo cerca de um ano em Berlim como artista residente.

Expôs em São Paulo a série Beijos (1989), numa individual em que lançou o livro Rubens Gerchman, sobre seus trinta anos de pintura. Desenvolvendo uma intensa carreira tem participado de eventos em muitas capitais e cidades do Brasil e do exterior como Joinville, Porto Alegre, Curitiba, Caxias do Sul, Salvador, João Pessoa, Paris, Buenos Aires, Córdoba, Calí, Tóquio, Nova Iorque, Medellín, Bruxelas, Londres, México, Toronto, Washington, Lisboa, Berlim, etc. Modernista e ativista, alguns críticos chegam a lhe classificar como popular ou popularesco.






Gerchman sempre pareceu gostar de ser o rei do mau gosto, título de um pequeno livro sobre ele editado pela Funarte. Isto se deve ao sadio desafio da juventude ao bom gosto burguês e ao fato do artista procurar os seus temas na vida popular, no cotidiano, o que dá margem a muitos equívocos. As coisas não são o que aparentam. Ou são. Oscar Wilde disse que só as pessoas superficiais não se deixam levar pelas primeiras impressões. Gerchman é um pantagruélico devorador do substrato carioca. Daí esta história de caixas de morar, do futebol, dos corpos na areia da praia, das bicicletas, dos personagens populares. E, em especial, sejamos francos, a “Lou”, uma assassina suburbana que foi transformada numa espécie de enigmática Mona Lisa brasileira.

Rubens Gerchman


ciclista tropical rubens gerchman leilao Arte de Rubens Gerchman Exposta no Domingão do Faustão

Rubens Gerchman carro 1 Arte de Rubens Gerchman Exposta no Domingão do Faustão

rubens gerchman os super homens 2 Arte de Rubens Gerchman Exposta no Domingão do Faustão

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