segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Evitar o aquecimento do planeta está cada vez mais difícil, diz ONU

 

Relatório divulgado nos últimos dias pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra que está cada vez mais difícil combater o aquecimento global e impedir o aumento da temperatura média do mundo para além de 2 graus Celsius até o fim deste século, como previa a comunidade científica internacional.

Segundo o The Emission Gap Report (“Relatório sobre Emissões Excedentes”, numa tradução livre), publicado pelo Pnuma em conjunto com a Fundação Europeia para o Clima no último dia 21, a estimativa de emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) em 2010, que foi de 50 bilhões de toneladas, estava pelo menos 14% maior do que o que deveríamos registrar em 2020 para termos uma chance significativa de evitar o aumento do aquecimento global para além dos 2º C.

O documento mostra ainda que este volume de GEE, as 50 bilhões de toneladas, representa um aumento de 20% no que foi registrado em 2000. Em 2010, o Brasil contribuiu com 1,6 bilhão de toneladas deste total. Se este cenário permanecer, o aumento da temperatura média global deve ficar entre 3ºC a 5ºC até 2100.

A emissão de gases de efeito estufa, como o ozônio, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e monóxido de carbono, que ocorre principalmente por meio da queima de combustíveis fosseis, como o uso da gasolina e do diesel, além do desmatamento e da queimada de florestas, forma na atmosfera uma camada de substâncias poluentes de difícil dispersão, que “guarda” o calor recebido pelos raios infravermelhos do sol.

Com isso, o planeta fica mais aquecido e os eventos climáticos extremos – como fortes chuvas, ondas de calor, recordes de temperatura, furacões e maremotos, entre outros - tornam-se mais frequentes e poderosos, fragilizando populações por todo o mundo.



Prejuízo já constatado

O documento traz ainda outros dados preocupantes: segundo os cientistas envolvidos no relatório (foram 55 profissionais de 20 países diferentes), as emissões globais de gases de efeito estufa a partir de combustíveis fósseis, mesmo com a crise econômica mundial, atingiram um nível recorde em 2011, que foi de 31 bilhões de toneladas.

Se providências não forem tomadas, as emissões de GEE estarão em 58 bilhões de toneladas em 2020, informa o relatório, quando o ideal seria que este número ficasse em torno de 44 bilhões de toneladas. O documento mostra ainda que, mesmo que os mais ambiciosos níveis de ação sejam implementados, ainda existirá uma diferença de 8 bilhões de toneladas a mais de gases sendo arremessados na atmosfera naquele ano.

Mudanças possíveis

O relatório aponta ainda que existe a possibilidade de redução de emissões na ordem de 17 bilhões de toneladas, que podem ser obtidas principalmente nos setores de construção, geração de energia e transportes.

Essas reduções poderiam ser obtidas, por exemplo, com a melhoria dos padrões de construção de edifícios; com a melhoria da eficiência energética de prédios; com o investimento em transportes alternativos além do automóvel particular e com a adoção de novos padrões na construção de carros e na estruturação de sistemas de descarte e reutilização de veículos antigos.



Brasil como exemplo?

O documento do Pnuma afirma ainda que, embora subutilizado, o combate ao desmatamento é considerado uma política barata de redução de emissões, já que evita a emissão de dióxido de carbono (CO2) que ocorre com a derrubada das árvores.

O relatório cita o Brasil como um exemplo onde as políticas de conservação, aliadas à queda dos preços das commodities agrícolas, levou a uma redução do desmatamento desde 2004, evitando a emissão de 2,8 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa entre 2006 e 2011.

As atuais políticas de redução do desmatamento existentes hoje incluem a criação de áreas protegidas, como parques nacionais, e instrumentos econômicos como taxas, subsídios e pagamentos por serviços ambientais.

Contexto complicado

O coordenador do programa de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, Carlos Rittl, advertiu que, embora o Brasil tenha sido considerado um exemplo no relatório, é preciso cuidado na manutenção deste cenário.
“Acabamos de aprovar um Código Florestal que premia quem desmatou ilegalmente. Então existe a possibilidade de que este quadro seja revertido, com aumento das taxas de desmatamento, como parecem indicar os números recentes do Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. Isso pode fazer com que seja difícil, para o Brasil, atingir suas metas de redução de emissões, o que seria péssimo para a biodiversidade e para os ecossistemas”, afirmou o especialista.

Rittl destacou ainda que, recentemente, o Congresso aprovou mudanças na lei de distribuição dos royalties do pré-sal que acabaram com a fonte de recursos do Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, dificultando a implementação de ações que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “Está nas mãos da presidenta Dilma vetar as mudanças que acabaram com esta fonte de recursos, fundamental para ações de suma importância para o país, como o combate à desertificação no semiárido do Nordeste”, explicou o coordenador.



Para ver a íntegra do relatório da ONU, acesse: http://www.unep.org/publications/ebooks/emissionsgap2012/

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