sexta-feira, 15 de abril de 2011

BARROCO: Gregório de Matos


GREGÓRIO DE MATOS, TENDO SIDO O MAIS SIGNIFICATIVO POETA DO BARROCO BRASILEIRO, É UM DOS AUTORES MAIS EXPLORADOS EM PROVAS DE VESTIBULARES. ALÉM DO MAIS, ELE TEM OUTRO MÉRITO: EM TERMOS DE LITERATURA PROPRIAMENTE DITA, FOI O PRIMEIRO POETA BRASILEIRO.

BIOGRAFIA
Gregório nasceu numa família com o poder financeiro alto em comparação a época, empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era português, natural de Guimarães). Legalmente, a nacionalidade de Gregório de Matos era tecnicamente portuguesa, já que o Brasil só se tornaria independente no século XIX. Todos que nasciam antes da independência eram luso-brasileiros.

Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Em 1650 continua os seus estudos em Lisboa e, em 1652, na Universidade de Coimbra onde se forma em Cânones, em 1661. Em 1663 é nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que é "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época.

Em 27 de janeiro de 1668, teve a função de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Em 1672, o Senado da Câmara da Bahia outorga-lhe o cargo de procurador. A 20 de janeiro de 1674 é, novamente, representante da Bahia nas cortes. É, contudo, destituído do cargo de procurador.

Em 1679 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. D. Pedro II, rei de Portugal, nomeia-o em 1682 tesoureiro-mor da Sé, um ano depois de ter tomado ordens menores. Em 1683 volta ao Brasil.

OS CONFLITOS COM A IGREJA CATÓLICA
O novo arcebispo, frei João da Madre de Deus, destitui-o dos seus cargos por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções de que o tinham incumbido.
Pintura barroca de Rubens: o diálogo entre a igreja católica e os fiéis

A SÁTIRA AO CLERO
Começa, então, a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados.

Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão.

Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição (acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão). A acusação não tem seguimento. Embora seja condizente com o perfil satírico de Gregório

OUTROS ALVOS DE SUA SÁTIRA
Não era exatamente agradável em todas as suas relações. Certa vez, entregara um poema a uma mulher, dando entender ser uma espécie de elogio. Na verdade, não era. E isso fica claro já a partir do título do poema: "Dona Feia"
A pintura barroca: religiosidade, doutrinamento e reafirmação da fé católica

CONFLITOS COM O PODER POLÍTICO: EXÍLIO
Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado, é deportado para Angola.

A VOLTA AO BRASIL
Como recompensa de ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebe a permissão de voltar ao Brasil, mas nã à Bahia. Morre em Recife, com uma febre contraída em Angola. Porém, minutos antes de morrer, pede que dois padres venham à sua casa e fiquem cada um de um lado de seu corpo e, representando a si mesmo como Jesus Cristo, alega "estar morrendo entre dois ladrões, tal como Cristo ao ser crucificado".

A ALCUNHA
"Boca do Inferno" foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador, como neste soneto:
A cada canto um grande conselheiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.


Em honra do poeta, o título Boca do Inferno foi adotado para as crônicas humorísticas de Ricardo Araújo Pereira, outro humorista português.

ESTÉTICA LITERÁRIA À QUAL PERTENCE: Barroco cultista

CULTISMO: jogo de palavras. Observe a estrofe abaixo:
“O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte fez todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.”


OBS.: O autor também enverdou pelo caminho conceptista, em poemas que privilegiam o raciocínio e a argumentação. Veja:
A Cristo S. N. crucificado estando o poeta na
última hora de sua vida.
Meu Deus, que estais pendente em um madeiro ,
Em cuja lei protesto de viver ,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso , constante , firme , e inteiro .

Nesse lance , por ser o derradeiro ,
Pois vejo a minha vida anoitecer ,
É , meu Jesus , a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro .

Mui grande é vosso amor , e meu delito ,
Porém pode ter fim todo o pecar ,
E não o vosso amor , que é infinito .

Esta razão me obriga a confiar ,
Que por mais que pequei , neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar .

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